sexta-feira, abril 08, 2016

Complicações

            Por inerência de recorrentes elogios democráticos à ditadura de Salazar, sendo que desde logo uma das substancias diferenças entre democracia e ditadura é que em verdadeira democracia é permitido falar das ditaduras e dos ditadores, se acaso elogiando-a/os, enquanto em efectiva ditadura não é permitido falar das democracias e nem dos democratas, muito menos elogiá-la/os.

            Sequência de que se há algo de que eu não gosto mesmo nada é de ditadores, sejam eles de que índole (política, social, cultural, ideológica, religiosa, civil, militar, etc.,) seja, até porque se outros motivos não houvessem, desde logo e por si só há o facto de os ditadores exigirem ser tolerados na sua própria intolerância. Mesmo que perante certas e determinadas circunstancias de grave desestruturação e/ou de decadente anarquia social, eu até seja forçado a entender a existência de (alguns pró estruturantes) ditadores e de seus respectivos regimes ditatoriais. O que por exemplo no caso concreto de Portugal e da ditadura salazarista versos a recorrente convulsão social pré salazarista e o recorrente oportunismo social pós salazarista, me leve a entender minimamente a ditadura salazarista, no entanto e em qualquer caso com recorrente injustiça social(*) antes, durante e após o salazarismo, me leve a concluir também e acima de tudo que somos uma sociedade nacional interna globalmente complicada. Seja que sem prejuízo das imensas riquezas nacionais em efectivo ou em potencia, temos como mínimo uma imensa pobreza e/ou pelo menos debilidade que é por si só a nossa significativamente complicada sociedade nacional interna. Em que salvo sempre as devidas positivas excepções, de resto é genericamente composta de vaidades, de pretensiosismos, de preconceitos, de artificialismos, de invejas, de mesquinhezes e quiçá acima de tudo de contradições. Em que por exemplo neste último caso das contradições, poderia dar uma infinidade de exemplos, mas com base em algo que li recentemente resumiria dizendo que ao mesmo tempo que somos um País auto(**) e extra tido como dos mais seguros da Europa e/ou até do Mundo, no entanto temos uma das mais altas, senão mesmo a percentualmente mais alta taxa de reclusão a nível Europeu, ao mesmo tempo que internamente nos queixamos de que os pequenos, médios e grandes “malfeitores” _ vulgo delinquentes _ não terminam de ser presos. Enfim, uma coisa tremendamente difícil de entender, tão só a este nível da segurança, mas com extensão à saúde, à educação e à sociedade modo geral.

            Ah! E claro que eu enquanto mero individuo, tanto mais se individuo na mais elementar base social e ainda auto confessamente medíocre sob e sobre muitos positivos aspectos não me excluo de toda a genérica complicação social envolvente. Ainda que inclusive enquanto auto reconhecidamente assumindo-me eu próprio efectiva ou potencialmente como complicado e/ou pelo menos como subalterno à global complicação social envolvente, mesmo que contra “ventos e marés”, também me esforce permanentemente por transcender isso pró positivamente. Sequência de que, até enquanto eu mero individuo e ainda mais se auto reconhecidamente medíocre sob e sobre diversos positivos aspectos, o problema não está em que se eu mesmo consigo concretizar na prática o meu pró positivo esforço ou não(?!) _ inclusive como meio e forma de evitar ditadores e respectivas ditaduras, com ainda eventualmente subsequentes revoluções pró libertárias, com todas as intermédias e não raro inconciliáveis contradições inerentes. Até porque se falhando eu o meu pró positivo objectivo, respectivamente o grande ou o essencialmente único prejudicado sou eu, já se concretizando esse meu positivo objectivo, o respectivo benefício será transversal/universalmente também sempre do todo social, ao menos na sempre modesta medida que a mim individualmente me cabe perante e para com o todo envolvente. A partir de que o grande problema está em que, salvo sempre as maiores ou menores devidas positivas excepções de facto, de resto a generalidade social envolvente não faz esse pró positivo esforço e que em muitos casos bem mesmo pelo contrário, limitando-se por exemplo e essencialmente a oportunismos unilateralistas/corporativistas de circunstancia, incluindo ou excluindo as vaidades, os pretensiosismos, os preconceitos, os artificialismos, as invejas, as mesquinhezes e as contradições várias e/ou vãs. Auto colocando-nos, social e colectivamente, enquanto tal à recorrente mercê de ditadores e de ditaduras, com ainda eventualmente subsequentes e inversas revoluções libertárias, num ciclo que no caso nacional interno parece ser eterno e/ou indefinido, especialmente enquanto recorrentes merecedores de algo ou de alguém que nos governe e dirija, por si só de forma opressiva/repressivamente ditatorial, não será por acaso que a ditadura de Salazar durou quase meio século e as saudades ou referências da mesma continuam a ser uma, senão mesmo a nossa maior referência interna, inclusive com retroactiva extensão a pelos menos dois séculos atrás, enquanto referência que senão é positiva é pelo menos comparativa, mas que enquanto tal nos mantêm, merecedoramente, muito próximos da respectiva ditadura salazarista ou de qualquer outra contemporânea ou eventualmente futura _ desde logo ao nível de recorrentes intervenções de “resgate externo”, mais ou menos, ditatoriais enquanto tais!...                                                                                              
            (*) Sem esquecer que aquém e além dos humildemente neutros e/ou dos universalmente positivos casos, que podem ou não ser justamente reconhecidos como tais quer em democracia quer em ditadura, de resto e no que a injustiça social em concreto respeita, desta última faz parte integrante o facto de que muito/as do/as oportunamente beneficiário/as das liberdades ditas democráticas, se acaso com dito/s beneficiário/as enquanto institucionais/circunstancias partes integrantes das liberdades democráticas, acabem ironicamente sendo também oportuno/as beneficiário/as das opressões ditatoriais, quando mais uma vez e não raro com o/as mesmo/as dito/as beneficiário/as como institucionais/circunstancias partes integrantes das inversas opressões ditatoriais e assim sucessivamente até ao infinito.

            (**) Que não raro os auto elogios costumam ser a face inversa da subestima. Com esta última e os respectivos inversos auto elogios como uma das grandes normas nacionais internas. Cuja uma das mais concretas expressões internas é uma espécie de, a meu ver um ridículo, pedantismo, do género andar-se recorrentemente a perguntar aos forasteiros, vulgo extra nacionais o que acham de Portugal, muitas vezes e no limite mal estes últimos acabam de chegar pela primeira vez a Portugal. Enquanto nós de e para nós mesmos internamente, imagino que com inevitáveis reflexos no exterior, regra geral e em especial ao nível dos meios de comunicação social, mesmo que vindo-se a evoluir muito lenta e gradualmente pela positiva a este nível, no entanto e de resto pró auto estima nacional própria ficamo-nos, mais uma vez a meu ver ridiculamente, pelos meramente pré e/ou semi-sucessos futebolísticos e dentro do mediático futebol, essencialmente ainda nos últimos anos, pelos unilaterais sucessos de Cristiano Ronaldo. Ao mesmo inverso tempo que subestimamos, subvalorizamos, ignoramos, etc., uma infinidade de inclusive efectivos positivos sucessos internos a muitos outros níveis, desde logo multi-desportivos, mas também multi-sociais e/ou existenciais modo geral. Enfim somos de facto uma sociedade e um “povo” mesmo complicados. O que até talvez seja extensível à humanidade modo geral, ainda que com mais agravantes nuns casos do que noutros. A partir de que não sei decifrar objectivamente até que ponto o caso nacional interno é mais ou menos grave que qualquer outro e/ou mesmo do que a normal general?! Mas até por reflexo em mim mesmo, que é complicado não tenho dúvida alguma. Por exemplo muitas das designadas frontalidades e/ou mesmo agressividades explicitas e directas ou implícitas e indirectas, mas não raro traiçoeiras e escorrediças que sempre conheci e conheço estão mais baseadas em preconceitos, em invejas, em ressentimentos, em sobrestimas próprias e/ou subestimas alheias, em intrigas "subterrâneas" de unilateral versão, etc., do que própria e não raro absolutamente em dados concretos próprios, bilaterais ou multilaterais. O que leva sempre de todo mais a complicações do que a simplificações vitais ou existenciais modo geral. E no caso concreto a melhor forma que eu encontrei de lidar com tudo isso foi auto assumi-lo de e para mim mesmo, inclusive e acima de tudo pelo seu pior, mas a parir de que auto gerindo-o introspectiva/circunspectivamente da forma mais pró positiva possível em e por mim próprio, desde logo e até pelo imenso paradoxo quando não mesmo conflito interno inerente, interferindo eu o menos prática, interactiva, funcional e/ou absolutamente possível com o exterior e mas até por isso não pude por s só deixar de algum dia começar a escrever para tão só necessitar sobreviver, nem posso ainda pró vital, sanitária ou subsistentemente deixar de como no presente caso escrever coisas como esta. Em que então sim ao expor-me como e enquanto tal acabo por interferir com o exterior, mas no caso com um exterior que esteja disponível a ler-me e não por eu mesmo me impor directa, objectiva, prática e/ou (inter)activamente a esse mesmo exterior. Em qualquer caso espero que da minha parte simplificando dalguma significativa ou pelo menos mínima forma as múltiplas complicações inerentes!...

                                                                                                VB

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