"O
homem não sabe mais que os outros animais; sabe menos. Eles sabem o que
precisam saber. Nós não."
Fernando Pessoa
Pegando na frase imediatamente acima do genial Fernando Pessoa e trasladando-a
para uma dimensão, não de entre os outros animais e o ser humano, mas para a própria humanidade por si só, isso sim de entre diversos tempos, épocas e dimensões mentais/culturais humano/as.
Por
exemplo sei eu que ainda vivi um pouco, cerca de pelo menos uma década desse tempo, mas
tanto mais se referido pelos meus pais, sendo que ainda recentemente a minha mãe
falou nisso precisamente a propósito dos incêndios florestais, como seja que no
respectivo tempo dito jovem ou mais plenamente activo dos meus pais, tanto mais
se dos meus avós e por ai fora com relação ao passado, em que reinava o analfabetismo e nem se fala em Protecção Civil; em Bombeiros; muito menos em SIRESP’s; em grandes Tecnologias;
em Helicópteros; em Aviões; em Rádios e Televisões, etc., etc., a falar insistentemente à prior,
durante e após, no assunto incêndios florestais, pró prevenção e combate
a estes últimos, curiosamente também não haviam ou praticamente não haviam incêndios
florestais.
Claro!
Bem certo era também que à altura, dos meus pais, dos meus avós e por ai historicamente afora, quase toda
a gente dependia subsistente ou vitalmente do que a terra dava e como tal (quase)
literalmente todo o espaço agrícola e/ou florestal estava cuidado, vulgo
explorado, pelo ser humano e enquanto tal limpo de combustível orgânico natural,
neste último caso em especial ao próprio nível florestal. Além ainda de que ao
nível regional (Alentejo) dos maus pais e dos meus avós nem sequer havia muita
floresta, digna desse nome. Mas por exemplo e em compensação havia uma vasta e intensa
cultura cerealífera altamente combustível em si mesma. Sendo ainda que à altura
99,9% dos homens fumava, inclusive durante a ceifa e a debulha do cereal, como
respectivamente seja entre milhares de hectares de terreno pleno de cereal e/ou
de subsequentes milhares de toneladas de pés de cereal ceifados empilhados em
ditas medas, com a subsequente palha dai derivada. Sem esquecer tão pouco que
com frequência se cozinhava com incontornável recurso a fogo em pleno campo cerealífero
e/ou em espaço de debulha do cereal. Tudo em pleno Verão, quente e seco, de entre combustível natural altamente volátil, mas em
qualquer caso sem ocorrência de incêndios, ao curioso invés dos dias de hoje e
da cultura vigente em que imagino que fumar e/ou foguear em áreas cerealíferas e/ou
florestais, durante o Verão, será algo altamente restrito ou mesmo proibido, no
entanto ao nível dos incêndios é o que e como todos sabemos!
Sendo,
também ainda, claro, que a partir daqui múltiplas reflexões se podem fazer e eventuais
múltiplas conclusões retirar, o que em qualquer caso não é o meu imediato
propósito, até porque para isso seria necessário eu fazer o que já muita, dita
de devidamente qualificada, gente faz desde há muito e continuamente que é estudar o fenómeno
a fundo, ainda que para além de por um lado eu mesmo não ter a devida qualificação para estudar o fenómeno, também por outro lado e como mais um motivo de reflexão e de eventual conclusão, é
que na prática esses estudos parecem não servir absolutamente para nada, se
acaso até bem pelo contrário _ até porque ditos estudos são mais um dos múltiplos
recursos ditos de prevenção e de combate a incêndios florestais, com no entanto
cada vez mais e mais graves incêndios florestais. Pelo que da minha parte e no
presente caso, pegando na frase de Fernando Pessoa logo a abrir, o que pretendo
é deixar mais um motivo de reflexão, na circunstancia de entre uma passada dimensão
humana analfabeta, tecnologicamente rudimentar e económico-financeira quase
miserável, mas em que praticamente não haviam incêndios florestais; versos uma
presente dimensão humana altamente escolarizada, tecnologicamente avançada e
económico-financeiramente abastada sob e sobre diversos aspectos, designadamente no
aspecto de prevenção e combate a incêndios florestais em que recorrentemente se despendem milhões, mas sem que tudo isso impeça que os incêndios florestais se sucedam imparavelmente ano após ano, se acaso em múltiplo crescente número, intensidade e
extensão.
Como
seja que, no caso, relativamente a incêndios florestais(*): não será que os
antigos humanos, tão mais analfabetos e de existência rudimentar quanto mais
para trás no tempo, sabiam precisamente o que deviam saber; enquanto os actuais
humanos altamente escolarizados, tecnologicamente apetrechados e de existência
significativamente sofisticada, afinal não o sabem.
Tudo isto sem tão pouco da minha parte pretender fazer a apologia do analfabetismo e da rudimentaridade sem mais, até porque nestes últimos casos não raro se confundia o substancial positivo respeito que se merece, com a incondicional obediência que se impõe. Ainda que nos muito crescentemente alfabetizados e sofisticados tempos que correm, também não raro se confunda a substancial sabedoria de fundo ou a natural vocação, com a mera informação corrente ou a conveniente formação de circunstância!
Tudo isto sem tão pouco da minha parte pretender fazer a apologia do analfabetismo e da rudimentaridade sem mais, até porque nestes últimos casos não raro se confundia o substancial positivo respeito que se merece, com a incondicional obediência que se impõe. Ainda que nos muito crescentemente alfabetizados e sofisticados tempos que correm, também não raro se confunda a substancial sabedoria de fundo ou a natural vocação, com a mera informação corrente ou a conveniente formação de circunstância!
Victor Barão
(*)... com extensão a diversas áreas da vida natural dum modo geral, de que neste último caso a própria humanidade é parte integrante, descendente e dependente, mas que recorrente e em muitos aspectos até crescentemente trata negligente e/ou ostensivamente tão mal.