Ouvi ontem mesmo, inclusive como
recorrentes votos dum determinado autarca/político numa respectiva rádio local
em alusão ao Natal, algo como:
_ “Nesta quadra todos nos sentimos
mais afáveis, mais solidários com quem mais precisa, com quem tem menos do que
nós, com quem não tem o que comer, vestir, calçar, etc., ...”
Por estranho que possa parecer e/ou
seja logo à partida, permita-se-me discordar desta palavras, não pela vertente
da afabilidade e da solidariedade, mas sim pela concentração das mesmas na
quadra natalícia. É que tenho auto entendido que quem mais precisa, quem tem
menos que nós, quem não tem o que comer, vestir, calçar etc., não o tem ou
deixa de ter apenas no Natal; no caso têm-no ou deixa de o ter um ano
dia-a-dia. Sequência de que o conceito de Natal chega mesmo a ser-me ou
parecer-me algo abjecto _ salvo que ao apelar à afabilidade e à solidariedade,
mesmo que para muitos como uma pontual ou absoluta excepção à regra, o mesmo
seja aquilo que efectivamente é ou pretende ser: benevolente!
Mas a partir de que não sei se eu
mesmo sou tão ou mais afável e solidário que quem mais quer que seja, até
porque isso pode ser e é algo tão subjectivo quando as diversas formas,
possibilidades, qualidades e quantidades de afabilidade e de solidariedade inerentes a cada qual
e/ou de entre uns e outros, mais o facto de as colocarmos mais ou menos em
pratica por nós mesmos e com relação a outrens ou não!? Mas desde logo e por
mim mesmo falando, tanto ou mais que eu ser tão respectivamente mais ou menos afável
e solidário por mim mesmo, que salvo a imodéstia vou-o sendo mais ou menos recorrente e em
continuidade aquém e além de Natal ou de não Natal; e desde logo sou-o porque
acima de tudo me identifico, me coloco empática ou potencialmente na pele de quem
efectivamente está pior ou tem menos do que eu, seja que tanto ou mais que ser
ou não ser solidário com o próximo, eu já me sinto à equitativa, prévia ou
potencial altura de quem me suscita ou merece solidariedade, concretizando eu
esta última como se o estivesse a fazer comigo mesmo, aquém e além de se alguma
vez necessário do exterior para comigo eu receba equitativa solidariedade ou
não _ sendo que efectivamente já a recebi!
Sequência de que na medida do afável e/ou
do solidariamente possível todos os dias, diria mesmo que todos os
(in)constantes e impermanentes presentes momentos, são efectivos ou potenciais
natais para mim; de resto chaga a ser-me enfadonho, deprimente e/ou stressante a
massiva corrida aos shopping’s no afã de adquirir presentes natalícios de base
materialista, o que enquanto tal só se justifica na respectiva sociedade,
cultura ou mesmo civilização materialista e mercantilista em que vivemos. E não
que o materialismo ou o mercantilismo sejam um mal em e por si sós, pois que na
verdade não passam de mais um factor vital ou humano de entre uma infinidade de
muitos outros; o problema, ao menos para mim, está em quando o
materialismo/mercantilismo, tal como de resto qualquer outro “ismo” (fascismo,
comunismo, espiritualismo, etc., etc., etc.,) ao nível humano se impõe ou sobrepõe unilateral e
se acaso até opressiva/repressivamente sobre todas e quais queres outras facetas
e/ou potencialidade vitais ou universais, de que por si só a humanidade é mera
parte integrante.
Seja que sem prejuízo do melhor sentido
e/ou significado do conceito de Natal, como tudo o sub ou sobrejacente ao
mesmo, por mim próprio e salvo que a (minha) família se reúna, o que inclusive
não vai ser possível porque para se ganhar a vida ou a subsistência cada qual
está deslocado por aqui e por ali, além de que apesar de e/ou até pelo
materialismo/mercantilismo global e essencialmente vigente, as possibilidades
de deslocação de muitos, diria mesmo que da grande maioria, estão limitadas às
suas parcas capacidades económicas/financeiras, pelo que para muitos nem
espaço, tempo e/ou dinheiro para deslocações conseguem arranjar a fim de se
reunirem com os restantes familiares, nesta também dita de afável quadra
natalícia, a partir de que de resto e/ou até por isso e para mim necessito que
haja tantos natais ao longo do ano e/ou dos anos quantos literal e/ou
permanentemente possível; é que por si só a minha necessidade de afabilidade
e/ou de solidariedade para com o próximo e/ou do próximo para comigo não se
resume a um dia ou a uma concentrada época de cada ano _ Natal.
Pelo que
sem prejuízo do que auto promoções pessoais, politicas, sociais ou outras com
base em afáveis ou soldarias palavras de circunstancia, também tenham de
efectiva ou potencialmente positivo, no entanto a mim interessa-me de todo mais
o que cada um pode, consegue e/ou quer fazer e faz, se acaso discretamente em
afável ou solidário nome do outro, desde logo em nome do bem comum, do que em
espampanantes, ornamentais e/ou auto promocionais palavras de natalícia
circunstancia, desde logo como se a afabilidade e a solidariedade se
concentra-se ou deve-se concentrar na mera quadra natalícia!
Finalmente, volto a repetir que em,
com e por tudo isto não quer dizer que eu mesmo seja tão ou mais solidário que
quem mais quer que seja, se acaso e em comparação a muito/a(s) outro/a(s) até
eventualmente bem pelo contrário, pois que por exemplo estou muito longe de ser
um dito missionário que mergulha solidária, voluntária e se acaso
incondicionalmente em respectivas missões humanitárias e/ou em nome da vida e
do bem comum, se acaso e não raro com risco da própria vida, desde logo com
sacrifício do bem estar e/ou de qualquer forma de comodismo próprio(s), salvo a
satisfação de se ser afável e/ou solidário como um principio, um meio e um fim
em si mesmo. Sequência de que com o presente e ao invés de muitos outros não me
pretendo de todo ou ao menos e tão só auto promover pessoal, social, por si só
afável, solidária ou absolutamente a e por mim mesmo, pois que quiçá a minha
afabilidade e/ou solidariedade pudessem ou devessem eventualmente ser ainda (muito)
maiores e mais intensas do que são e/ou alguma vez foram; aquém e além de que
tentar auto promover-me pessoal, social ou existencialmente com base e em
sequência das minhas efectivas ou potenciais formas de afabilidade e de
solidariedade, quiçá ou seguramente anulassem estas ultimas na medida em que
poderia estar ou estaria mesmo a praticar uma por si só forma de mercantilista propaganda,
na medida em que eu estaria a “dar” com o afã de “receber” algo equitativo ou
até superior em troca, como se a (minha) afabilidade e/ou solidariedade não se valem-se
em e por si sós, sem mais!
VB
Nota: Não tenho suficiente espaço, tempo e a partir de
determinado limite sequer disponibilidade interior para estar a auto rever,
corrigir e/ou complementar o que acabo de escrever de forma espontânea; a
partir de que pelo melhor e pelo pior, para o bem ou para o mal, que o mesmo
valha como e enquanto tal, ou seja: originalmente espontâneo.
Sem comentários:
Enviar um comentário