quinta-feira, março 22, 2018

Ditadura do individuo vs direitos e deveres do individuo

Independentemente do que me interessa a mim pessoal-individualmente, recordo-me no entanto de até há cerca de entre duas a três décadas atrás, ano após ano, durante o Outono e o Inverno choverem dias e noites consecutivo/as, de respectiva e recorrentemente os cursos de água naturais (regatos, barrancos, ribeiras, rios) transbordarem por todos os lados e tudo isso ser aceite por todos e por cada qual como algo natural, como a superior vontade de Deus ou da Natureza, não raro até com admiração e alegria, desde que não havendo prejuízos humanos de maior ou em absoluto; isto mesmo quando ao nível das minhas origens rurais bastante humildes e até materialmente pobres, as respectivas habitações humanas não tivessem muitas condições de protecção face ao ambiente/clima natural: vento, sol, chuva, calor ou frio.

Enquanto de há cerca de entre duas a três décadas a esta parte, em que vindo continua e crescentemente a chover cada vez menos, dalguma irónica forma coincidente com a genérica mentalidade sociocultural humana que tendo cada vez melhores condições de habitabilidade, designadamente de protecção face aos elementos naturais, também curiosamente cada vez mais, como mínimo dispensa e como máximo mesmo abomina, ao menos o elemento climático natural que é chuva; de entre o que como melhor das hipóteses se encontram a/os que querem mais ou menos chuva segundo o unilateral ou corporativo interesse de cada qual; concretamente havendo quem não queira (mais) chuva porque no seu quintal não necessita de (mais) chuva; havendo ainda quem julgue a falta ou não falta de chuva pelo seu próprio poço, como seja que num dia e sem ver o seu próprio poço, mas imaginando-o cheio passe de imediato a mal dizer a chuva que alegadamente já chega e até sobra, ainda que no dia seguinte ao constatar que afinal o seu próprio poço ainda não está cheio, acabe dizendo que afinal ainda não choveu o suficiente, mas como se isso não bastasse e no ainda imediato dia seguinte, por outro respectivo interesse qualquer que nada tendo que ver com chuva ou para com o que esta seja um incómodo, volte esquizofrenicamente de novo a mal dizer a chuva. Em qualquer dos casos pressupondo tudo isso que até a própria natureza climática tem de ser e estar quantitativa e qualitativamente à literal justa medida de cada qual, individualmente.

Mas não se pense que a pretensa ditadura do individuo, na circunstância face aos elementos naturais, começa ou termina no querer ou deixar de querer chuva, pois que mais uma vez aquém e além da minha vontade própria, expondo outro derivante exemplo dessa ditadura do individuo, recordo-me ainda eu de também há cerca de duas a três décadas atrás haver muita mais quantidade e variedade de aves silvestres, até porque havia mais o que e onde as mesmas se alimentarem, em que por concreto exemplo recordo-me de ao pôr do sol na Primavera e no Verão, dos idos anos setenta e oitenta do pretérito séc. XX, passarem múltiplos bandos tão só de pardais vindos de se alimentar em campos cerealíferos para se abrigarem nos eucaliptos da estrada, o que já não sucede na actualidade; além ainda de há décadas atrás haverem mais ninhos de pardal em quatro ou cinco eucaliptos seguindo, como seja ao longo de cem ou duzentos metros consecutivos do que actualmente se encontram em dezenas, mesmo centenas de eucaliptos e ao longo de quilómetros. Mas talvez porque a muito menor quantidade e diversidade de aves silvestres tendem a concentrar-se no também cada vez menor espaço, onde encontram comida, além de porque acima de tudo a minha própria humanidade se fecha cada vez mais num nível sociocultural e civilizacional em que cada vez menos cabem quais queres factores naturais, também respectivamente a minha própria humanidade continua a achar que não só há quantitativa/diversificadamente muitíssimas aves silvestres, quanto que até as haverá em demasia; daí que na medida do humanamente possível se apartem todas e quais queres outras formas de vida naturais da própria dimensão existencial humana, no limite mesmo matando-se todas e quais queres outras formas de vida, não só e nem essencialmente como legítimo meio e forma de básica subsistência humana, mas sim por crescente aversão humana a quais queres outras formas de vida naturais extra humanas, incluindo a ditadura do consumismo materialista/economicista humano, aquém e além da mais básica e legítima subsistência humana. Sendo que conheço eu indivíduos humanos _ masculinos e femininos _ para quem (quase) tudo o que é natural é dispensável, só viável à distância, atrás de grades, de vitrinas e/ou como objectivo de exploração e consumo económico-materialista. Cada vez mais, sem uma perspectiva de integração cultural e espiritual humana na natureza original; isto apesar dos crescentes movimentos e/ou organismos humanos, no limite profissionais e/ou institucionais, em pró defesa da natureza; mas isso é uma outra coisa, ainda mínima, que por si só deriva da crescentemente consequente consciência dalguns poucos humanos face aos tão qualitativa quanto quantitativamente múltiplos nefastos efeitos humanos sobre a natureza; também muito por inerência da ditadura, oh perdão, da liberdade individual, num respectivo contexto geral humano, essencialmente materialista/consumista, em que aquém e além de deveres, cada qual se acha acima de tudo com direito a tudo e mais uma coisa, legitima ou ilegitimamente.

Enfim, digo eu, que: mande Deus todos os Santos e mais todos os Anjos e/ou que a mande Natureza o que ou quem mais quer que universalmente seja a inventariar: quando, onde, como e em que exacta quantidade e qualidade cada individuo humano _ masculino e feminino _ quer ou deixa de querer, no caso concreto chuva, aves silvestres e/ou genericamente o que mais natural seja, porque o que está a dar é a visão, o interesse, a vontade, a perspectiva, o querer, o desejar, no limite o impor de cada qual, que como de diversas formas se constata é cada vez mais anti-natura. Isto mesmo quando eu pessoalmente defendo a liberdade individual, mas crendo também eu que liberdade individual não pode nem deve ser sinónimo de unilateral vontade ou querer de cada qual, sem mais. Até porque cada qual costuma ter outros entes, humanos e extra humanos, do outro lado _ incluindo que a própria humanidade é parte integrante e dependente da natural multi-diversidade vital envolvente.

Mas que já agora e a terminar não deixo de expressar o que quero ou o que aceito eu, que no fundo é o que Deus, a Natureza, o Universo e/ou o esmagador Colectivo humano quiserem ou permitirem, o que no presente caso concreto implica esta minha pró vital, sanitária ou subsistente expressão própria, face às múltiplas e não raro profundamente incoerentes, antagónicas, paradoxais ou mesmo inconciliáveis vontades humanas, mais das vezes num só individuo relativamente à própria natureza e/ou ao mais vasto colectivo humano, vital e universal! E em que para não parecer que com esta última alusão estou a auto desresponsabilizar-me face à vida e/ou por si só face ao que aqui escrevo, também conclusivamente acrescento que por exemplo esta minha expressão própria e respectiva divulgação da mesma aqui e agora é em última análise de minha responsabilidade individual própria, com os meus correspondentes direitos e deveres inerentes!

VB

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