quinta-feira, setembro 26, 2013

Voto Democrático

            Até por isto que eu aqui escrevo, só posso amar ou pelo menos estar permanentemente a aprender a amar a democracia, política e social.

            Mas!

            Ando suficientemente ocupado a procurar sobreviver, para poder ter o devido tempo e/ou disponibilidade interior para escrever a este respeito. Mas dadas as circunstancias inerentes ao momento pré eleitoral vigente e ao momento eleitoral propriamente dito que se avizinha já no próximo fim-de-semana, tão pouco quero ou posso deixar de escrever algo ao respeito. Desde logo para dizer que já nem me recordo quando exerci o cívico direito de voto democrático pela última vez, como seja há pelo menos duas décadas que o não exerço.

            E porque não exerço eu tal direito há tanto tempo? Basicamente por duas ordens de razões, uma da minha própria parte, que passa pelo facto de eu ter entrando há muito numa auto reconhecida dimensão de instabilidade, de indefinição e/ou de crise existencial própria, inclusive e à cautela com prática, activa e funcional auto anulação própria, na melhor das hipóteses procurando as respectivas melhores referências e influências externas, como pró culto de partida ou de chegada próprio; ainda que e/ou até porque não me sentido ou constatando prática, activa e funcionalmente à imediata altura dessas mesmas melhores referências e influências externas, salvo no e pelo facto de eu as auto identificar como e enquanto tais: “melhores”! Seja que tornei-me prática, activa e funcionalmente muito pouco dinâmico, em certa medida até passivo, inconsequente e/ou reservado, a ponto de por exemplo o cívico exercício do voto político democrático em quem quer que seja não caber nesta minha existência, se acaso porque inclusive eu não me mereceria o meu próprio voto.

            A outra razão passa pela acção ou inacção e responsabilidade ou irresponsabilidade externas, em suma e em qualquer caso passa pelo activo ou passivo pior envolvente a mim, designadamente e para o caso concreto por parte de quem já teve ou tem responsabilidades políticas e sociais. E a este nível posso adiantar como excepção que há pessoas com quem eu até simpatizo e/ou que até tenho como positivas referências de vida, desde logo ao nível político e social. Mas regra geral, até por com base nas excepções, como melhor das hipóteses não confio no sistema e como pior das hipóteses o sistema suscita-me inclusive global aversão ao respectivo. Não sei como é noutros países e/ou noutras democracias, mas ao nível nacional e regional interno que e como eu conheço, não raro ou mesmo em regra reina a mesquinhez, a mediocridade, a mendicância, o cinismo, a indignidade, em alguns aspectos até a coacção, desde logo e em qualquer dos casos na forma como se solicita o voto individuo a individuo, com beijos, abraços e palmadinhas nas costas de entre pessoas que não têm corrente conhecimento, afinidade ou relação pessoal de entre si e/ou com solicitação do voto ao de todo equivalente nível de quem mendiga uma moedinha na rua para tão só sobreviver, neste último caso com falta de dignidade por parte de quem solicita o voto por si só e/ou ainda falta de respeito destes últimos para com aqueles a quem o voto é solicitado, designadamente por parte dos candidatos políticos relativamente ao dito povo; no caso como se não bastasse cada individualidade, partido ou movimento(*) político(s), que enquanto candidato(s) a eleição democrática sob secreto sufrágio universal, apresentarem-se e apresentarem o seu respectivo projecto político, de gestão da causa pública, deixando natural e livremente à democrática consciência de cada qual em que individualidade, em que partido ou em que movimento politico(s) votar democrática e secretamente, sem mais. A partir de que não raro entra a vaidade, a arrogância e/ou a prepotência com que alguns são, estão ou se assumem após eleitos a um cargo de gestão política pública. A tudo isto há que somar, como exemplo prático o arruamento duma população que durante quatro anos de duração dum mandato político esteve por arranjar e depois a poucas semanas ou até a poucos dias das eleições lá se vai arranjar a rua ou ruas à pressa, o que digo eu não será por universal e incondicional consciência pública ou de serviço público das populações, por parte dos gestores políticos da causa pública em vigência, mas sim por tacticismo eleitoralista _ a este nível tudo tanto pior quanto as entidades publicas de gestão política façam uma infinidade de exigências, por exemplo a qualquer particular/privado para com a concretização duma obra (casa) nova ou para concretização de obras em casa já existente desse(s) mesmo(s) provado(s), ainda que os acessos públicos a essa(s) obra(s) e/ou casa(s) privada(s) se mantenham anos na pior e crescente das degradações. Depois há a recorrente e multilateral maledicência, em que parece alguém individual ou colectiva (partidariamente) ser incapaz de reconhecer méritos aos adversários políticos, dizendo o que faria diferente ou melhor, em regra limitando-se cada qual a apontar defeitos e/ou erros ao próximo, ao diferente, ao concorrente, por vezes até adonando-se dos méritos ou dos feitos uns dos outros e/ou apontando como defeito no outro, o que se tem como mérito próprio. Sem esquecer a ânsia com que uns pretendem perpetuar-se indefinidamente no poder e outros pretende aceder ao mesmo, o que enquanto tal ansiosamente, eu só consigo entender numa base de interesses individuais, corporativistas, partidários ou outros sectários, aquém e além do universal interesse público, nacional, regional e/ou local modo geral. De entre o que há ainda as, consoante os casos, favoráveis ou desfavoráveis, situações semi constatáveis e/ou intuíveis dos compadrios, das simpatias, das amizades, dos corporativismos sobre a ao menos e à partida universalidade do Serviço Público, do Estado de Direito e/ou do Estado Democrático. Ah! E muito importante, são as chamadas promessas eleitoralistas, que em parte acabam por não ser cumpridas e/ou que a sê-lo, não raro são-no às custas do que o próprio País não é e/ou não possui em e por si só. Entretanto é o próprio País que está (pré) falido económica e financeiramente, com risco da própria perda da democracia, que em vários aspectos está perdida desde há muito(!), com ainda correspondente e crescente perda de confiança das populações na classe política, em qualquer dos casos sob respectiva acção da gestão política nacional, regional e/ou local. Enfim e sem prejuízo dos positivos e democráticos méritos de quem, onde e como os tenha, o facto é que em regra as situações menos positivas ou mesmo negativas são tantas, tão inumeráveis, em muitos casos e aspectos até inexpressáveis, que ao menos no que a mim se refere e mas como eu há cada vez mais e mais pessoas descontentes e desiludidas, para quem votar se está no limite a tornar o um acto de auto humilhação. Pelo que no meu caso concreto, sem prejuízo das pessoas com quem até simpatizo e que até tenho como positivas referências, enquanto em exercício de cargos de gestão política da causa pública, inclusive e acima de tudo sem prejuízo de em qualquer dos casos a multifacetada beleza territorial e riqueza histórica ou cultural nacional, mas até por isso como positiva desilusão com a generalidade do sistema político e social vigente na prática, mais uma vez vou abster-me de votar, no caso enquanto inclusive com base nesta minha exposição ao respeito, como um pró consequente modo ou voto de protesto em si mesmo e não como uma inconsequente abstenção. Seja que não vou deixar de votar por em alternativa ir para a praia, por ir para o shoping e/ou por ter de ir votar longe, até porque nesta última acepção a assembleia de voto da minha freguesia fica a cerca de cem metros de minha casa. No caso e simplesmente não voto porque estou positivamente desiludido com o sistema, inclusive já muito acima de qualquer positiva desilusão comigo mesmo(**)

            Seja ainda e resumidamente que para muitas pessoas o exercício do voto é um acto cívico; para outras um culto; para outras um acto de fé; para outras um acto clubistico (partidário); para outras um acto de interesse próprio/corporativo; para outras isto ou aquilo outro; para mim tornou-se-me há muito um acto de vergonha. Sim isso mesmo, votar para mim tornou-se-me uma vergonha, já seja pela minha (mesmo que cada vez mais remotamente) dita auto noção de imerecimento de voto em mim mesmo ou já seja porque em muitos casos e aspectos votar é estar a eleger tudo e todos menos aquilo ou aqueles que se pode(m) ter por mais sincero(s), nobre(s), justo(s), digno(s), positivo(s), leal(ais), consciente(s), competente(s), universalista(s) e/ou por si só democrático(s) propriamente dito(s), que não raro até bem pelo contrário. Isto ao nível de quem exerce cargos públicos de essência política democrática, com correspondente responsabilidade de quem ao nível do dito povo, apoia e/ou elege por via do voto democrático tais personalidades e/ou entidades mais ou menos colectivas, desde logo partidárias, pouco ou mesmo nada positiva e coerentemente confiáveis(***)!

           Conclusivamente tenho entendido que quem, como eu, não se cola, nem se vende aos poderes instituídos, designadamente aos poderes político/partidários, salvo positivos e universais méritos próprios, de resto acaba invariavelmente por ter a existência e/ou a própria subsistência, mais ou menos, dificultada, senão por pejorativa acção dos poderes instituídos, pelo menos por positiva omissão dos respectivos. Mas como há muito auto assumi a auto gestão da minha existência e/ou subsistência própria, ainda que e/ou até porque confessamente com apoio de quem me é familiar e/ou intimamente próximo, no que depender de mim não será agora que cedo, nem até onde e como possível jamais cederei e muito menos procurarei colagens aos poderes instituídos ou pró instituíveis, aquém e além do meu legitimo dever para com os mesmos ditos poderes instituídos! E assim sendo, salvo esses poderes ou pró poderes, enquanto democraticamente elegíveis, me passem a merecer positivo e universal respeito em e por si sós, de resto e se cabe a todos os títulos lamentavelmente não contarão tão cedo e/ou de todo, no caso concreto com o meu respectivo voto democrático. 

                                                                                          Victor Barão

            (*) Sendo que mesmo timidamente, emergem cada vez mais uns ditos de movimentos (partidariamente) independentes, que em alguns aspectos, como por exemplo e desde logo pela vertente independente, me suscitam alguma curiosidade, mas que ainda não me conseguiram suscitar a suficiente atenção e/ou atracção como para que eu me sinta vocacionado a apoiar, muito menos a integrar e/ou que tão só a votar secreta e democraticamente num dos respectivos. Pelo que veremos o que o futuro reserva a este nível!? 

            (**) Até porque ao menos em comparação com os piores, eu já me sinto positivamente merecedor do meu próprio voto!


            (***) Por exemplo, a nível nacional e independentemente do partido ou da ideologia defendida pelo mesmo, o Dr.º Paulo Portas é o paradigma pessoal começado e acabado de quem descredibiliza todo um sistema político e social democrático, quer pelo seu passado remoto, que pelo seu passado recente, quer pelo seu presente e eventual futuro, desde logo e em qualquer caso de profunda, radical e/ou incompatível incoerência entre ditos e feitos do próprio. A partir de que ver este tipo de individualidade recorrentemente em cargos de poder político/democrático, torna-nos colectivamente a todos nós directa e activa ou indirecta e passivamente responsáveis pelo crescente atoleiro político, económico, financeiro, social, por si só degradante e decadentemente democrático em que estamos mergulhados. O que em conclusão e a mim me leva a ter vergonha de votar democrática e secretamente, enquanto eu _ apartidário e politicamente discreto _ tão só poder ser suspeito de ter votado em alguém como a personalidade em causa, entre outras que tais, nacional, regional ou localmente falando!  

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