segunda-feira, outubro 03, 2016

Evolução, transformação ou revolução II

                                                             II

            Saudade

            Da minha pessoal parte, já seja por motivos de saúde, de trabalho e até por isso também de vida em geral, por um lado a aquisição de casa própria era-me e é-me algo literalmente impossível e por outro lado as obras na casa familiar, ao menos de momento estavam mesmo muito longe de ser uma prioridade para mim. Sequência de que sei que vou ser civilizacionalmente incorrecto ao dizer que: é verdade que após as obras na casa familiar, por destacado exemplo quer o isolamento climático, quer o isolamento acústico melhoraram muito. Ainda que outra verdade seja e é também que ao menos eu pessoalmente sinto saudade de escutar a passarada chilreando sobre telhado, regra geral durante todo o ano e mais em especial em época de criação (Primavera), inclusive para mim e a partir de dentro de casa não escutar os sons da natureza, como por exemplo os grilos a cantar nos campos envolventes, é como ser/estar surdo. Mas atenção que ao aludir aqui ao termo saudade, não o faço tão só pela simples estranheza de ter passado duma realidade habitacional para outra, sob diversos aspectos significativamente distinta e alegadamente melhor da unilateral perspectiva humana. Até porque nesta última acepção de passar duma realidade para outra, a mesma deu-se por nossa humana auto determinação, mais empreendedoramente activa por parte do sector feminino familiar e logo mais empreendedoramente passiva por parte do sector masculino familiar, em que neste último caso me incluo eu próprio. Mas em qualquer caso com a mais activa ou mais passiva auto determinação humana em causa para com o nosso melhor e unilateral bem-estar humano próprio. Pelo que a estranheza da minha parte se a existir, como existe, devia ser essencialmente positiva do ponto de vista do nosso bem-estar humano e por isso nem estranheza chega-se a ser, sendo mais bem uma espécie de Ufffff finalmente umas minimamente boas (confortáveis) condições de habitabilidade humana cá em casa.

            Seja que no meu caso pessoal o que me faz sentir saudade da dimensão de habitabilidade humana pré obras e/ou estranheza de entre o pré e o pós obras cá em casa é que até por experiência própria eu sei que quanto mais humanamente avançamos e evoluímos ao nível do nosso unilateral bem-estar humano, ao menos segundo a base sociocultural e civilizacional vigente, por respectiva regra também mais e mais nos afastamos da vida natural modo geral. Na melhor das hipóteses desprezando e na pior das hipóteses hostilizando esta última. Sendo que sem muitos dos nossos unilaterais confortos humanos nós podemos perfeitamente viver, como remotamente comprovável desde sempre. Já sem a vida natural modo geral, não diria taxativamente há prior, mas como mínimo imagino que aprazo não possamos nem sequer sobreviver. E o facto é que apesar dalguma ténue e gradual evolução no que à positiva interacção humana com a restante vida natural, o facto também é que o que acima de tudo prevalece, muito generalizadamente e na melhor das hipóteses, é como menos má das hipóteses um desprezo e na pior das hipóteses uma hostilidade humana face a tudo o que é vida natural, em favor do unilateral interesse (bem-estar) humano. De resto a gradual evolução humana no que a positiva interacção com a restante vida natural, é na melhor das hipóteses proporcional à degradação da restante vida natural por inerência de negativa acção ou positiva omissão humana face á restante vida natural; sendo que a mim pessoalmente, de entre observação própria associada a alguns dados científicos, me parece que a negativa acção ou positiva omissão humana vai muito à frente e está muito acima de qualquer positiva acção e evolução humana, em qualquer dos casos face à restante vida natural.

            Seja que creio, ao menos, eu que se com verdadeira e Universal inteligência humana se pode salvaguardar o máximo de bem-estar humano em minimamente devida harmonia com a restante vida natural, como por si só seja com um mínimo prejuízo do meio ambiente natural modo geral e se tanto quanto possível com equitativo e paralelo beneficio deste último face à própria evolução humana _ ainda que esse equitativo e paralelo benéfico esteja cada vez mais distante da realidade, mesmo se incluindo as positivas evoluções ao respeito, em especial se quando estas últimas evoluções por norma andam muito e parece que crescentemente atrás dos já concretizados prejuízos inerentes. Aliás, se como qualquer outro animal e/ou ser vivente dito de irracional, também a humanidade tem a natural e instintiva astúcia/esperteza para defender o seu (nosso) subsistente interesse imediato e unilateral próprio, logo se adicionada a dita de racionalmente engenhosa e inteligente sofisticação humana, enquanto humanidade precisamente (auto) dita de racional e inteligente também deveria ter a natural astúcia/inteligência de defender o Universal interesse natural/vital modo geral, de que de resto a humanidade é parte integrante e dependente. O que em grande medida não sucedendo na prática, regra geral e aprazo pode fazer e faz irónica, paradoxal e conclusivamente da humanidade mais irracional que qualquer outra espécie vivente natural, dita de irracional. Especialmente se a engenhosa e racional sofisticação humana, auto proclamada de inteligência, acabe levando desde logo à própria e directa ou mesmo que indirecta autodestruição/extinção humana, se acaso devido a extinção de toda a restante vida natural e/ou planetária, sob nossa própria mão/acção humana.

            Claro que aqui dir-me-ão alguns: _ pois mas nem o próprio Planeta viverá natural, indefinida e eternamente para sempre! Ao que eu só posso responder que: _ não é por todos e cada um de nós sabermos racionalmente que vamos naturalmente morrer um dia que acabamos por nos matar de véspera…, no limite à nascença ou quando tomamos conhecimento de nós mesmos e da nossa perecível condição animal/humana. Aliás até bem pelo contrário, pois que por norma procuramos é viver ou pelo menos sobreviver o mais tempo e o melhor possível, como seja que de entre nascer e morrer procuramos é retirar o maior e se acaso o mais unilateral e que não raro indiscriminado proveito individual, familiar, corporativo, em suma humano possível de todos e de mais um dos recursos naturais disponíveis e que não raro até de entre humanos, mesmo que aprazo com prejuízo natural/vital dum modo geral e por isso também com prejuízo humano em particular e concreto. Em que contextualizando tudo isto nas particulares obras na nossa casa familiar, diria e digo eu que por diversos motivos e razões, a começar logo pela muito limitada capacidade de investimento familiar, em associação às centenárias características e à respectiva localização da casa familiar em restrito contexto urbanizado, logo e com a excepção dum melhor isolamento térmico derivado das obras já executadas que evita um acrescido desgaste de energia eléctrica e/ou de biomassa com todas as positivas implicações dessa poupança energética ao nível natural geral e climático em particular, de resto as obras executadas cá em casa, como inclusive é genérica norma sociocultural e civilizacional, visaram básica e essencialmente o nosso maior e melhor bem-estar humano, até porque não havendo orçamento para obras mais profundas nem em pró beneficio humano nem até por isso tão pouco em pró benefício natural modo geral. Salvo que para além do benéfico isolamento térmico directamente derivado das obras já executadas cá em casa face à vida natural modo geral, por si só evitando inusitados desgastes de energia humanamente processada, designadamente energia eléctrica; também ainda e já no próprio pós obras, eu pessoalmente tenho algumas ideias próprias para salvaguardar o mais possível a vida natural modo geral, sem prejudicar na essência as nossas condições de habitabilidade humana; enquanto minhas ideias próprias que dentro das minhas respectivas capacidades técnicas e práticas, aquém e além de qualquer residual investimento, incluindo ao menos o parcial aval da restante família, já as comecei a pôr em prática, como por um mero e micro exemplo criando condições para que designadamente as andorinhas continuem a pousar e se for o caso também a procriar nos beirais de nossa casa familiar; mesmo que esta/s minha/s ideia/s vaia/m contra ou pelo menos esteja/m muito lateral/ais à norma sociocultural e civilizacional humana vigente dum modo geral, enquanto norma esta que em regra visa essencial e não raro literalmente auto defender os mais imediatos, comodistas, sofisticados, materialistas e por si só unilaterais interesses humanos próprios, sem grande e não raro sem absoluta perspectiva vital e/ou natural modo geral, em que à imagem e semelhança de muitos outros elementos vitais naturais, por exemplo para o contexto sociocultural e civilizacional humano vigente também o vital elemento natural andorinha é mais um incomodo que suja paredes do que um benefício que consome insectos e faz parte da biodiversidade natural, derivando dai uma continua e crescente hostilização humana, com não raro correspondentemente directa ou indirecta destruição da biodiversidade natural por negativa acção ou ao menos por positiva inacção humana face à restante vida natural, com subsequente prejuízo humano aprazo. Logo sem conclusivamente grande ou mesmo sem absoluta auto proclamada racionalidade e inteligência humana em efectivo e aprazo.

            Até porque entretanto a grande regra sociocultural e civilizacional humana é mesmo a do imediatismo materialista, com toda a sua infinda, crescente e imparável panóplia de processos e de artefactos, designada e crescentemente no momento actual mais aos tecnológicos níveis mecânico e electrónico, que por si sós parecem preencher e/ou esgotar a humanidade enquanto tal. Tudo ainda numa vertigem humana crescentemente asséptica, que parece ser crescente e diria eu que patologicamente alérgica a tudo o que é natural, em especial no que à interacção directa, corrente, cultural e civilizacional da humanidade com a restante vida natural no seu todo, aquém e além dos mais directos, imediatos e unilaterais interesses humanos ao respeito. Enfim e com ressalva para as devidas excepções, de resto com a humanidade cada vez mais e mais genericamente fechada em e sobre si mesma e as suas respectivas obras e/ou criações, o que pessoalmente não me atrevo a dizer em objectivo até que ponto será conclusivamente bom ou mau e melhor ou pior para a própria humanidade sem mais, mas seguramente que para a restante vida natural (fauna, flora e clima) está mais que provado e comprovado que está a ser crescentemente fatal e tão só por isso imagino que venha a ser duma ou doutra forma fatal também para a própria humanidade a mais curto, médio ou longo prazo. Mas também de que importa isso se as imediatas benesses e distracções das próprias materialistas criações e obras humanas, de reiterado cariz mais tecnológico  mecânico e/ou electrónico na actualidade, chegam e sobram para a satisfazer/distrair a própria humanidade por si só e com relação à restante vida natural _ salvo no que as tecnologias, mecânica e electrónica, humanas em causa contribuam ou ajudem a contribuir para a vida natural modo geral e respectiva saúde desta última, ainda que como bem se sabe nem sempre nem de todo assim é, de resto em demasiados casos bem mesmo pelo contrário!

            Base de que em grande medida contra a genérica norma sociocultural e civilizacional humana vigente, essencialmente anti-natura, eu pessoalmente sinta tanta ou mais saudade duma maior proximidade com a vida dita de natural, do que por exemplo sinto mera satisfação pela melhoria de unilaterais condições de habitabilidade humana, como no caso concreto de entre o pré e o após obras de melhoramento/renovação na nossa casa familiar própria, desde logo pró nossa melhor condição de habitabilidade humana, mas também com algumas preocupações pró vida natural, ainda que por diversos motivos não podendo concretizar tantas quanto eu gostaria. Sendo este apenas mais um motivo para o meu diverso ou mesmo contraditório turbilhão emocional de entre o pré e o pós obras cá na casa familiar _ salvo que até pelo que presentemente escrevo, com mais tudo o que lhe está pré, pró e pós inerente, eu esteja a tentar e em efectivo creio que estou de facto a conseguir mitigar o meu turbilhão emocional inerente, no caso de entre a minha perspectiva mais pró naturalista e/ou pró transversalidade vital/universal, versos o global contexto sociocultural e civilizacional vigente que aquém e além dalguns consideráveis esforços em sentido contrário é no entanto um contexto genérica e crescentemente anti-natura ou pelo menos cada vez mais à margem da restante vida natural, o que a mim me suscita tanta mais saudade do vital equilíbrio natural quanto mais este último vai ficando crescentemente perdido perante ou sob um contexto sociocultural e civilizacional humano que é cada vez mais agressiva ou pelo menos desprezivelmente hostil à vital biodiversidade natural e ainda ao equilíbrio climático, por mais micro esforços pessoais ou familiares que eu e a minha família faça/mos em sentido positivamente inverso. VB
                                                    

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