II
Saudade
Da minha pessoal parte, já seja por motivos de saúde, de trabalho e até por
isso também de vida em geral, por um lado a aquisição de casa própria era-me e
é-me algo literalmente impossível e por outro lado as obras na casa familiar,
ao menos de momento estavam mesmo muito longe de ser uma prioridade para mim.
Sequência de que sei que vou ser civilizacionalmente incorrecto ao dizer que: é
verdade que após as obras na casa familiar, por destacado exemplo quer o
isolamento climático, quer o isolamento acústico melhoraram muito. Ainda que
outra verdade seja e é também que ao menos eu pessoalmente sinto saudade de
escutar a passarada chilreando sobre telhado, regra geral durante todo o ano e
mais em especial em época de criação (Primavera), inclusive para mim e a partir
de dentro de casa não escutar os sons da natureza, como por exemplo os grilos a
cantar nos campos envolventes, é como ser/estar surdo. Mas atenção que ao
aludir aqui ao termo saudade, não o faço tão só pela simples estranheza de ter
passado duma realidade habitacional para outra, sob diversos aspectos
significativamente distinta e alegadamente melhor da unilateral perspectiva
humana. Até porque nesta última acepção de passar duma realidade para outra, a
mesma deu-se por nossa humana auto determinação, mais empreendedoramente activa
por parte do sector feminino familiar e logo mais empreendedoramente passiva
por parte do sector masculino familiar, em que neste último caso me incluo eu
próprio. Mas em qualquer caso com a mais activa ou mais passiva auto
determinação humana em causa para com o nosso melhor e unilateral bem-estar
humano próprio. Pelo que a estranheza da minha parte se a existir, como existe,
devia ser essencialmente positiva do ponto de vista do nosso bem-estar humano e
por isso nem estranheza chega-se a ser, sendo mais bem uma espécie de Ufffff
finalmente umas minimamente boas (confortáveis) condições de habitabilidade
humana cá em casa.
Seja que no meu caso pessoal o que me faz sentir saudade da dimensão de habitabilidade
humana pré obras e/ou estranheza de entre o pré e o pós obras cá em casa é que
até por experiência própria eu sei que quanto mais humanamente avançamos e
evoluímos ao nível do nosso unilateral bem-estar humano, ao menos segundo a
base sociocultural e civilizacional vigente, por respectiva regra também mais e
mais nos afastamos da vida natural modo geral. Na melhor das hipóteses
desprezando e na pior das hipóteses hostilizando esta última. Sendo que sem
muitos dos nossos unilaterais confortos humanos nós podemos perfeitamente
viver, como remotamente comprovável desde sempre. Já sem a vida natural modo
geral, não diria taxativamente há prior, mas como mínimo imagino que aprazo não
possamos nem sequer sobreviver. E o facto é que apesar dalguma ténue e gradual
evolução no que à positiva interacção humana com a restante vida natural, o
facto também é que o que acima de tudo prevalece, muito generalizadamente e na
melhor das hipóteses, é como menos má das hipóteses um desprezo e na pior das
hipóteses uma hostilidade humana face a tudo o que é vida natural, em favor do
unilateral interesse (bem-estar) humano. De resto a gradual evolução humana no
que a positiva interacção com a restante vida natural, é na melhor das
hipóteses proporcional à degradação da restante vida natural por inerência de
negativa acção ou positiva omissão humana face á restante vida natural; sendo
que a mim pessoalmente, de entre observação própria associada a alguns dados
científicos, me parece que a negativa acção ou positiva omissão humana vai
muito à frente e está muito acima de qualquer positiva acção e evolução humana,
em qualquer dos casos face à restante vida natural.
Seja que creio, ao menos, eu que se com verdadeira e Universal inteligência
humana se pode salvaguardar o máximo de bem-estar humano em minimamente devida
harmonia com a restante vida natural, como por si só seja com um mínimo
prejuízo do meio ambiente natural modo geral e se tanto quanto possível com
equitativo e paralelo beneficio deste último face à própria evolução humana _
ainda que esse equitativo e paralelo benéfico esteja cada vez mais distante da
realidade, mesmo se incluindo as positivas evoluções ao respeito, em especial
se quando estas últimas evoluções por norma andam muito e parece que crescentemente
atrás dos já concretizados prejuízos inerentes. Aliás, se como qualquer outro
animal e/ou ser vivente dito de irracional, também a humanidade tem a natural e
instintiva astúcia/esperteza para defender o seu (nosso) subsistente
interesse imediato e unilateral próprio, logo se adicionada a
dita de racionalmente engenhosa e inteligente sofisticação humana, enquanto
humanidade precisamente (auto) dita de racional e inteligente também deveria
ter a natural astúcia/inteligência de defender o Universal interesse
natural/vital modo geral, de que de resto a humanidade é parte integrante e
dependente. O que em grande medida não sucedendo na prática, regra geral e
aprazo pode fazer e faz irónica, paradoxal e conclusivamente da humanidade mais
irracional que qualquer outra espécie vivente natural, dita de irracional.
Especialmente se a engenhosa e racional sofisticação humana, auto proclamada de
inteligência, acabe levando desde logo à própria e directa ou mesmo que
indirecta autodestruição/extinção humana, se acaso devido a extinção de toda a
restante vida natural e/ou planetária, sob nossa própria mão/acção humana.
Claro que aqui dir-me-ão alguns: _ pois mas nem o próprio Planeta viverá
natural, indefinida e eternamente para sempre! Ao que eu só posso responder
que: _ não é por todos e cada um de nós sabermos racionalmente que vamos
naturalmente morrer um dia que acabamos por nos matar de véspera…, no limite à
nascença ou quando tomamos conhecimento de nós mesmos e da nossa perecível
condição animal/humana. Aliás até bem pelo contrário, pois que por norma
procuramos é viver ou pelo menos sobreviver o mais tempo e o melhor possível,
como seja que de entre nascer e morrer procuramos é retirar o maior e se acaso
o mais unilateral e que não raro indiscriminado proveito individual, familiar,
corporativo, em suma humano possível de todos e de mais um dos recursos
naturais disponíveis e que não raro até de entre humanos, mesmo que aprazo com
prejuízo natural/vital dum modo geral e por isso também com prejuízo humano em
particular e concreto. Em que contextualizando tudo isto nas particulares obras
na nossa casa familiar, diria e digo eu que por diversos motivos e razões, a
começar logo pela muito limitada capacidade de investimento familiar, em
associação às centenárias características e à respectiva localização da casa
familiar em restrito contexto urbanizado, logo e com a excepção dum melhor
isolamento térmico derivado das obras já executadas que evita um acrescido
desgaste de energia eléctrica e/ou de biomassa com todas as positivas
implicações dessa poupança energética ao nível natural geral e climático em
particular, de resto as obras executadas cá em casa, como inclusive é genérica
norma sociocultural e civilizacional, visaram básica e essencialmente o
nosso maior e melhor bem-estar humano, até porque não havendo orçamento
para obras mais profundas nem em pró beneficio humano nem até por isso tão
pouco em pró benefício natural modo geral. Salvo que para além do benéfico
isolamento térmico directamente derivado das obras já executadas cá em casa
face à vida natural modo geral, por si só evitando inusitados desgastes de
energia humanamente processada, designadamente energia eléctrica; também ainda
e já no próprio pós obras, eu pessoalmente tenho algumas ideias próprias para
salvaguardar o mais possível a vida natural modo geral, sem prejudicar na
essência as nossas condições de habitabilidade humana; enquanto minhas
ideias próprias que dentro das minhas respectivas capacidades técnicas e
práticas, aquém e além de qualquer residual investimento, incluindo ao menos o
parcial aval da restante família, já as comecei a pôr em prática, como por
um mero e micro exemplo criando condições para que designadamente as
andorinhas continuem a pousar e se for o caso também a procriar nos beirais de
nossa casa familiar; mesmo que esta/s minha/s ideia/s vaia/m contra
ou pelo menos esteja/m muito lateral/ais à norma sociocultural e
civilizacional humana vigente dum modo geral, enquanto norma esta que em regra
visa essencial e não raro literalmente auto defender os mais imediatos,
comodistas, sofisticados, materialistas e por si só unilaterais
interesses humanos próprios, sem grande e não raro sem absoluta perspectiva
vital e/ou natural modo geral, em que à imagem e semelhança de muitos outros
elementos vitais naturais, por exemplo para o contexto sociocultural e
civilizacional humano vigente também o vital elemento natural andorinha é
mais um incomodo que suja paredes do que um benefício
que consome insectos e faz parte da biodiversidade
natural, derivando dai uma continua e crescente hostilização humana, com
não raro correspondentemente directa ou indirecta destruição da biodiversidade
natural por negativa acção ou ao menos por positiva inacção humana face à
restante vida natural, com subsequente prejuízo humano aprazo. Logo sem
conclusivamente grande ou mesmo sem absoluta auto proclamada racionalidade e
inteligência humana em efectivo e aprazo.
Até
porque entretanto a grande regra sociocultural e civilizacional humana é mesmo
a do imediatismo materialista, com toda a sua infinda, crescente e imparável
panóplia de processos e de artefactos, designada e crescentemente no momento
actual mais aos tecnológicos níveis mecânico e electrónico, que por
si sós parecem preencher e/ou esgotar a humanidade enquanto tal. Tudo ainda
numa vertigem humana crescentemente asséptica, que parece ser crescente e diria
eu que patologicamente alérgica a tudo o que é natural, em especial no que à
interacção directa, corrente, cultural e civilizacional da humanidade com a
restante vida natural no seu todo, aquém e além dos mais directos, imediatos e
unilaterais interesses humanos ao respeito. Enfim e com ressalva para as
devidas excepções, de resto com a humanidade cada vez mais e mais genericamente
fechada em e sobre si mesma e as suas respectivas obras e/ou criações, o que
pessoalmente não me atrevo a dizer em objectivo até que ponto será
conclusivamente bom ou mau e melhor ou pior para a própria humanidade sem mais,
mas seguramente que para a restante vida natural (fauna, flora e clima) está
mais que provado e comprovado que está a ser crescentemente fatal e tão só por
isso imagino que venha a ser duma ou doutra forma fatal também para a própria
humanidade a mais curto, médio ou longo prazo. Mas também de que importa isso
se as imediatas benesses e distracções das próprias materialistas criações e
obras humanas, de reiterado cariz mais tecnológico
mecânico e/ou electrónico na actualidade, chegam e sobram para a
satisfazer/distrair a própria humanidade por si só e com relação à restante
vida natural _ salvo no que as tecnologias, mecânica e electrónica, humanas em
causa contribuam ou ajudem a contribuir para a vida natural modo geral e
respectiva saúde desta última, ainda que como bem se sabe nem sempre nem de
todo assim é, de resto em demasiados casos bem mesmo pelo contrário!
Base de que em
grande medida contra a genérica norma sociocultural e civilizacional humana
vigente, essencialmente anti-natura, eu pessoalmente sinta tanta ou mais
saudade duma maior proximidade com a vida dita de natural, do que por exemplo
sinto mera satisfação pela melhoria de unilaterais condições de habitabilidade
humana, como no caso concreto de entre o pré e o após obras de
melhoramento/renovação na nossa casa familiar própria, desde logo pró nossa
melhor condição de habitabilidade humana, mas também com algumas preocupações
pró vida natural, ainda que por diversos motivos não podendo concretizar tantas
quanto eu gostaria. Sendo este apenas mais um motivo para o meu diverso ou
mesmo contraditório turbilhão emocional de entre o pré e o pós obras cá na casa
familiar _ salvo que até
pelo que presentemente escrevo, com mais tudo o que lhe está pré, pró e pós
inerente, eu esteja a tentar e em efectivo creio que estou de facto a conseguir mitigar
o meu turbilhão emocional inerente, no caso de entre a minha perspectiva
mais pró naturalista e/ou pró transversalidade vital/universal, versos o
global contexto sociocultural e civilizacional vigente que aquém e além dalguns
consideráveis esforços em sentido contrário é no entanto um contexto
genérica e crescentemente anti-natura ou pelo menos cada vez mais à margem da
restante vida natural, o que a mim me suscita tanta mais saudade do vital
equilíbrio natural quanto mais este último vai ficando crescentemente perdido
perante ou sob um contexto sociocultural e civilizacional humano que é cada vez
mais agressiva ou pelo menos desprezivelmente hostil
à vital biodiversidade natural e ainda ao equilíbrio climático, por
mais micro esforços pessoais ou familiares que eu e a minha família faça/mos em
sentido positivamente inverso. VB
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