domingo, janeiro 29, 2017

Estado de calamidade, com origem gripal ou paranóica

            Como algo transversal a tudo o mais que eu escrevo, digo que comecei originalmente a escrever e continuo indefinidamente a escrever porque há coisas que me incomodam ou que mesmo me magoam para além do que mais e melhor eu possa fazer que não seja basicamente desabafar (falar/escrever) ao respeito. Sendo que quando essas coisas têm que ver exclusiva ou essencialmente comigo, o simples facto de falar/escrever ao respeito já me leva a entendê-las melhor e se acaso a ultrapassá-las positivamente, já quando essas coisas têm que ver também ou essencialmente com o exterior, pode que ao escrever e partilhar o que escrevo ao respeito com o respectivo exterior isso possa influenciar dalguma positiva ou pelo menos pró inquietante e reflexiva forma esse mesmo exterior!?

            O texto abaixo vai particularmente dedicado ao Serviço Nacional de Saúde (SNS). Já agora o mesmo foi originalmente escrito no imediatamente passado dia 3 do corrente, mas por diversas contingências só hoje dia 29 do mesmo corrente Janeiro de 2017 me está a ser possível partilhá-lo, sem absoluto prejuízo da sua continua vigência que é crescentemente recorrente ano após ano, inclusive com possíveis reincidências num mesmo ano.

            Em directa sequência da mediática notícia televisiva: _ “urgências hospitalares, sem capacidade de resposta _ vulgo em rotura ou estado de calamidade _ devido a forte adesão de pacientes com sintomas gripais”. 

            O oito e o oitenta, entre gripe e paranóia

            Talvez o meu caso pessoal não seja prático exemplo para alguém mais. Sendo o meu exemplo, o de alguém que para além de padecer de renite alérgica, fazendo com que a Primavera seja um pequeno inferno para mim, incluindo que quando pró subsistentemente necessário, a respectiva penitência dos meus pecados, não deixo ou pelo menos até à data não tenho deixado de trabalhar directa e activamente com cereais e/ou no meio de poléns, o que chega a ser de loucos dado o meu significativamente elevado nível de alergia quer a fenos quer a poléns modo geral; pelo que também ainda e para com o concreto contexto gripal aqui em causa, diria e digo que salvo as raras e por isso dificilmente memoráveis excepções em que isso não aconteça, mas por outro inverso e mais recorrente lado incluindo as possíveis recaídas, por norma costumo ter, ao menos, um episódio gripal por ano. Designadamente com febre, falta de apetite, falta de forças, dores no corpo, inusitada dificuldade de concentração, etc.; no entanto, até por uma ancestral condição cultural(*) que já vem dos meus pais, avós, etc., o facto é que jamais recorri a um médico e/ou quando tenho emprego jamais faltei a um dia de trabalho devido a estar com gripe, mesmo que com febre. O que incluindo ainda que as minhas actividades laborais/profissionais nas cerca de duas últimas décadas têm sido exclusivamente praticadas ao ar livre, pelo que na medida do possível procurando sempre não transmitir o vírus a outras pessoas, de resto e por respectiva norma tenho curtido e curado os meus estados gripais ao sol, à chuva, ao vento, ao calor, ao frio, em resumo segundo o estado climatérico de cada momento e/ou respectiva estação do ano, sempre sem acorrer aos serviços médicos devido a gripe.

            Mas no extremo oposto, também estão as pessoas, como um jovem senhor aparentemente entre os vinte e os trinta anos de idade, que precisamente inserido na reportagem televisiva aludida acima e que dava conta do estado de rotura das urgências hospitalares devido à forte acorrência de pacientes com sintomas gripais, cujo respectivo jovem senhor em causa, enquanto entrevistado televisivamente em momento algum espirrou, tossiu, lacrimejou, pingou do nariz, etc., seja que sem absoluto prejuízo do senhor estar de facto em estado gripal, ao menos externamente não o aparentava em absoluto, o que como mínimo leva a crer que estaria num estado gripal muito inicial e/ou pouco agravado, no entanto acorreu logo às urgências hospitalares, digo eu, tão só por isso! Contribuindo, na circunstancia, também ele para a dita rotura/calamidade das urgências hospitalares, com consequência prática de passarem a ficar à porta dessas mesmas urgências utentes verdadeiramente graves, como entre outros incluído um concreto caso de AVC com hemorragia que ficou indefinidamente em espera sobre uma maca dos bombeiros à porta das próprias urgências hospitalares por incapacidade de resposta destas últimas, o que também foi paralelamente relatado nessa mesma reportagem televisiva. 

            Seja que se o meu caso pessoal é até pouco recomendável no que ao não recurso aos serviços médicos e concretamente às urgências hospitalares respeita, já o caso do jovem senhor atrás referido me parece estar no extremo oposto no que a esse mesmo recurso respeita, em qualquer dos casos por inerência dum, digo eu, mero estado gripal. O que se no meu caso pode levar a colocar em causa a minha própria saúde, enquanto na medida do possível procurando eu sempre evitar contagiar outras pessoas; já no segundo caso, do aludido jovem senhor, me parece levar a uma mais ou menos injustificada rotura dos serviços de urgências, com prejuízo dos casos verdadeiramente urgentes. Pelo que se o meu caso é dalguma forma insensato, por não acorrer sequer ao médico de medicina geral e muito menos a uma urgências hospitalares devido a sintomas de gripe, então o caso do jovem senhor em causa parece-me ser mais insensato ainda ao acorrer directamente às urgências hospitalares em sequência dos primeiros e/ou mais leves sintomas gripais ou quiçá de mero constipado(!?).

            Enfim, não sei até que ponto derivado ou não dos epidemicamente falsos alarmes que foram a gripe aviaria e posteriormente a gripe suína, em que até talvez porque não terminarem de morrer massivamente nem aves nem suínos devido às epidemicamente correspondentes gripe’s aviaria e suína, este respectivo segundo caso derivou alternativamente numa mais subjectiva gripe A. Sequência a partir da que, sem prejuízo da maior ou menor gravidade inerente, inclusive pelo ditos grupos de risco ou mais vulneráveis ao vírus gripal, como por exemplo os idosos, etc., o facto é que em qualquer caso parece estar instalada uma certa paranóia gripal, com resultados práticos como o de cíclica e parece que crescente rotura _ vulgo estado de calamidade _ anual nas urgências hospitalares por inerência de estados gripais ou se acaso de mera suspeita de estados gripais. Pelo que talvez o SNS deva instituir não só o estado de alarme gripal, mas também já o estado de alarme de calamidade das urgências hospitalares devido a alarme gripal; pois parece-me a mim que a subjacente paranóia é senão já uma das patologias, pelo menos é também já um dos sintomas inerentes!

            VB

            (*)...muito resumidamente, pela vertente cultural venho duma referente, influente e consequente base que com genérica extensão social, ao tempo dos meus avós e parte do tempo dos meus pais estes viviam/subsistiam a um nível mesmo muito rudimentar, a ruçar a miséria, em que por mais que trabalhassem esse trabalho rendia muito pouco e regra geral só o elemento masculino é que trabalhava ou pelo menos tinha o dever e obrigação de trabalhar remuneradamente fora de casa; como seja um tempo em que salvo se estivesse mesmo a morrer, praticamente ninguém se podia dar ao luxo de ficar um só dia, pior se mais que um dia sem trabalhar/ganhar, no que por exemplo resultava que ficar-se em casa por uns simples sintomas de gripe ou constipado; sendo que há altura não se fazia muita distinção entre gripe e constipado, muito menos se tinha noção de pandémicas gripes aviaria, suína e/ou A(alfabética); logo e tanto pior se por parte dum elemento masculino, regra geral ficar em casa por um mero estado gripal, era sinónimo de estigmatizante mariquice ou de quem não queria era (ir) trabalhar _ independentemente de onde, quando e a quem estas ultimas duas hipóteses se aplicassem ou apliquem de facto. Sem esquecer que o acesso aos médicos era (quase) nulo e então se por um/a simples gripe/constipado nem sequer se pensava recorrer ao médico, seja que como para quase tudo o sanitariamente mais, por incontornável norma recorria-se às designadas mesinhas caseiras. Logo eu que semi-circunstancial e opcionalmente vivo/subsisto do ponto de vista cultural de entre o passado e o (in)constante e (im)permanente presente momento, se por um lado não deixo de contemporaneamente recorrer à medicina sempre que algum sintoma patológico se me torna absoluta e/ou pelo menos auto gestionadamente insustentável, por outro mais corrente e por si só cultural lado também sou muito resistente a esse mesmo recurso à medicina, menos ainda se por uns natural e/ou culturalmente simples sintomas de gripe/constipado. 

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