terça-feira, julho 03, 2012

Divergência e ponto de encontro!

            Acabo de assistir ao programa Prós e Contras no canal 1 da RTP _ de resto como uma fonte inspiradora de e para que eu escreva na respectiva sequência _ tendo hoje por base o debate sobre as medidas de austeridade, nomeadamente sob titulo: A roleta russa da austeridade, versando acerca de se as ditas medidas de austeridade devem continuar como actualmente, se acaso até devem ser agravadas ou se pela inversa devem ser revistas e renegociadas. E nesta sequência em concreto, entre muitas outras e quiçá mais importantes coisas que foram ditas, desde logo no relativo ao comum futuro europeu, no entanto e por mim, destacaria a divergência entre Miguel Sousa Tavares e o Dr.º Mário Soares, relativamente à sustentabilidade do estado social em Portugal e suponho que na própria Europa. Relativamente ao que Miguel Sousa Tavares (MST), entre outras coisas, disse e da minha perspectiva bem, algo como: “...o estado social é insustentável como está ou como vem do passado, porque o mesmo foi inicialmente criado na base duma esperança de vida que não ultrapassava os sessenta e cinco anos, quando entretanto a esperança de vida subiu para os oitenta e cinco anos, além de que as pessoas _ vulgo indivíduos _ passaram a querer e a exigir tudo e mais alguma coisa e/ou a querer sempre mais e mais, incluindo saúde, educação, justiça, etc., universalmente grátis para todos (ricos e pobres), com muitas inerentes injustiças pelo meio!... Pelo que nesta sequência alguma coisa tem de mudar, porque assim é insustentável a prazo.”

            Algo a que o Dr.º Mário Soares correspondeu dizendo, entre outras coisas, algo como: “...pois mas quando se retira hospitais, centros se saúde, rendimento às pessoas, neste último caso com impossibilidade de muitos pagarem um táxi para irem ao médico, designadamente fazer o periódico tratamento inerente a uma qualquer doença crónica; não pode ser só assim e tem de se encontrar solução para isto. Não se podendo vir com o fatal argumento de que não há dinheiro, designadamente para o estado social, quando entretanto aprece dinheiro para tudo e para mais uma coisa, inclusive para cobrir as fraudes bancárias entre outras, sem sequer se apurarem as responsabilidades inerentes, nem para onde ou para quem vai efectivamente o dinheiro inerente a essa(s) cobertura(s). Além de que _ concordantemente com MST _ pode sempre mudar-se o que está mal no estado social, como em outras áreas, o que de resto é uma opção política, pelo que o que não se pode é cair na fatalidade de que as coisas só podem ser ou deixar de ser desta ou daquela outra forma, sem mais. E que isso coincida com asfixiar o estado social _ e digo eu _ a quem do mesmo mais efectivamente necessita.

            Quero eu e por mim mesmo dizer ainda a todo este respeito, desde logo que: sendo eu originária e vivencialmente pertencente às bases de entre as bases sociais, tenho à partida todo o interesse em que o estado social não vá-a à falência, sem mais. Ainda que eu pessoalmente até faça o menor uso possível do estado social e que quando o faço procuro fazê-lo o mais positiva e construtivamente possível, seja que ao nível se utilizar por exemplo os serviços de saúde do Estado em regra só o faço em última instância e/ou o menos possível, seja que não raro e quando posso utilizo até mais e às minhas próprias custas os serviços de saúde privados que os do Estado, já quanto a prestações sociais, só muito rara e pontualmente recorri às mesmas e quando o fiz ou se quando tiver de voltar a fazê-lo e que dadas as circunstancias se ainda houver possibilidade de e para tal(!?), por norma procuro e/ou procurarei aproveitá-lo, designadamente para desenvolver esta minha pró vital, sanitária ou subsistente necessidade de escrever, que não por exemplo para ir para os copos ou para estar esticado na espreguiçadeira _ ainda que estes dois últimos exemplos até dêem muito jeito a quem tende a demonizar o estado social! Mas por outro lado também tenho de reconhecer que efectivamente ouve e há como mínimo muitos facilitismos, comodismos, deixa andar, favores, em suma e no limite muitos abusos e muitas injustiças, desde o gato ou gata pingados equivalentes a mim, que se poderem exigem que o autocarro publico pare à sua porta em concreto, até ao senhor ou senhora remediado(a)s ou mesmo rico(a)s que só não esfolam o sistema, no caso concreto o estado social até ao tutano se não poderem, tudo com mais ou menos activa ou passiva responsabilidade politica e/ou de quem gere a coisa mais directa e operacionalmente! Até talvez por isso sejamos um país genericamente de brandos costumes, porque por exemplo e digo eu, quando toca a comer _ salvo as devidas e mais ou menos amplas ou restritas excepções _ cada qual come devida ou indevidamente o que mais pode, pelo que quando toca a pagar, mesmo que uns tenham comido (muito) mais que outros, com ressalva dos que só comem o que lhes deixam ou o que lhes dão, no entanto como estes últimos tendem a ser essencialmente humildes e obedientes, de resto senti-mo-nos todos significativa e moralmente culpados ou comprometidos como para quem quer que seja reclamar muito ou o que quer que seja, pelo menos até que não se seja pisado para além do limite do razoável ou desproporcionalmente para além do que cada qual comeu previamente _ com o verbo comer aqui acrescentado de: para além do limite, para além do razoável, para além do legitimo ou para além do moralmente devido _ com respectiva e reiterada ressalva para os que num extremo não chegaram ou não chegam sequer a comer o legitimamente devido, que inclusive são uma vastíssima faixa da população total, mas que humildemente nada reclamam; tendo os que comeram ou comem o legitimamente correcto pelo meio, que enquanto tal e por norma pouco ou nada têm que reclamar, por si sós; com no outro extremo estão os que sendo minoritários no entanto comeram e/ou continuem a comer a seu belo prazer ou para além do devido, desde logo mais que a esmagadora maioria populacional e enquanto tal até tentem passar desapercebidos e/ou se pela inversa tentando passar como salvadores da pátria, como seja sem reclamar mas distraindo o patriótico meio envolvente, saberão os próprios e Deus em nome do quê ou de quem(!?). Tudo isto, se me é permitido acrescentá-lo, sem esquecer que segundo rezam diversas crónicas, o endividamento privado até suplanta em muito o endividamento publico, incluindo ainda que o estado social é apenas parte do endividamento público modo geral, pelo que tão pouco creio em absoluto que seja este o grande mal da nação, nem por inerência o pior da dívida nacional ao exterior. Mas em que colocando-se sistematicamente o Estado como o mau da fita, sendo que o Estado somos todos e cada um de nós, ainda que por norma se perspective o Estado como quem o administra e não como o seu todo, por respectiva norma se tenda a fazer do Estado o bode expiatório de todos os erros, abusos e/ou mesmo fraudes envolventes, desde logo como auto desresponsabilização de cada um de nós indivíduos ditos privados que compomos o Estado _ pelo que aquém e além dos efectivos erros, abusos e/ou fraudes do próprio Estado, desde logo de entre a gestão do Estado e alguns Privados, não raro em favor destes últimos, que no caso sendo o Estado composto por todos e cada um de nós, pelo menos em democracia não saímos absolutamente impunes dos ditos erros do Estado, desde logo em favor dalguns poucos, versos em detrimento de muitos outros ditos privados ou mesmo em detrimento do dito povo como grande massa populacional! O que na sua globalidade e grosso modo me leva a concluir que por um lado há um Estado composto por uma ideologia pós revolução democrática, designadamente favorável ao estado social e por outro lado há um Estado com uma ideologia pré revolução democrática, desfavorável ao estado social, sendo que dadas as circunstancias, com muitos erros e abusos pelo meio parece que esta última ideologia se vem a impor aos poucos e poucos, com semi passiva ou activa conivência de todos e de cada um de nós dito povo, que pelo melhor e pelo pior, para o bem ou para o mal somos e compomos o mesmo dito Estado. 

            Pelo que da minha perspectiva, a solução ao respeito estaria ou estará algures entre as respectivas perspectivas(*) de Miguel Sousa Tavares e do Dr.º Mário Soares; que sendo perspectivas algo divergentes, no entanto ambas têm a suas devidas razões de ser, aquém e além de que a meu ver e sentir não são necessária ou absolutamente incompatíveis de entre si. Desde logo se com a politica, a justiça e respectivamente a sociedade em geral a funcionarem como devido; o que efectivamente não tem sucedido, nem eu pessoalmente tenho perspectivas de que assim venha suceder a breve prazo em Portugal, tudo tanto pior se dada a complexidade e em muitos aspectos até perversidade da situação a nível Europeu e inclusive a nível Mundial modo geral _ que se acaso até serve de recorrente desculpa aos responsáveis internos, desde logo inerentes à gestão da causa publica, para o não positivo ou devido cumprimento das suas respectivas responsabilidades, reiteradamente com maior ou menor conivência democrática de todos e de cada um de nós, dito de democraticamente supremo ou soberano Povo.

            Mas de entre e/ou aquém e além do que para não ser pessimista e/ou fatalista, acrescentaria que as dificuldades por vezes ou em regra são o derradeiro e mas também mais substancial motivo e razão para se mudar para melhor, pelo que até o crescente agravar da situação a nível nacional em concreto, com as políticas do actual governo PSD/CDS, acabando eventual ou cada vez mais comprovadamente por não ser estas em si mesmas a solução ou sequer o princípio da solução do problema austeridade, com tudo o que o originou e do mesmo está e continuará a derivar, se acaso e como cada vez mais parece que até bem pelo contrário, então e ao menos que sejam o derradeiro motivo que espolete verdadeiras situações de justiça: política, económica, financeira, jurídica e em suma social modo geral. Até porque o espaço de manobra entre reverter positivamente caminho ou como melhor de entre as piores das hipóteses cair-se numa permanente instabilidade, indefinição e imprevisibilidade do futuro imediato ou remoto é tudo quanto cada vez mais nos resta, tendo por base a situação actual.

            E já agora a terminar, se por um lado e por assim dizer não acredito comprovadamente num estado social selvagem, tão pouco acredito num crescente liberalismo capitalista não menos selvagem, se acaso até bem pelo contrário. Pelo que seja como for há que encontrar pontos de equilíbrio e de justiça de entre tudo isto, sem esquecer um tema duma importância tremenda e eu diria mesmo emergente e imergentemente crescente que é o Ambiente. Pelo que designadamente economia e desenvolvimento económico, tudo muito bem, mas não selvática ou de forma insustentável a prazo, como até aqui. Seja que, salvo os muitos e cada vez mais que não têm muito mais por onde baixar o que quer que seja, no entanto e na medida do possível baixemos todos um pouco ou em alguns casos mesmo muito o nível de exigências exteriores para connosco, até por em nome dos muitos e cada vez mais que inversamente só têm a perspectiva de que apenas lhes seja exigido _ vulgo os que têm mais direitos que deveres, versos os que têm mais deveres que direitos _, pelo que acima de tudo em nome do universal e justo bem comum, em primeira e última instância pró bem do próprio planeta azul que nos sustenta de todas e de mais uma forma e/ou de que por si só somos universal parte integrante, sejamos mais pró positiva e construtivamente auto exigentes e críticos connosco mesmos, até para termos pró positiva e construtiva legitimidade de exigir e/ou de criticar o próximo. No fundo comecemos a mudar-nos pró positiva e construtivamente a nós mesmos, até para influenciarmos pró positiva e construtivamente o próximo; o que em conclusão refiro porque não raro e como sempre salvo as devidas excepções, do maior ao mais pequeno e/ou do topo da sociedade até à base da mesma e vice-versa, me perece que somos muito exigentes com o outro, desde logo com o Estado para connosco, se acaso e/ou de todo em demasiados casos sendo pouco ou nada exigentes connosco para com o outro ou desde logo para com o Estado _ sem naturalmente esquecer que o Estado e/ou os seus máximos representantes não raro são os primeiros e/ou os que mais pecam ao respeito. E assim sendo, salvo alguns minoritários privilegiados e alguns outros minimamente remediados, em qualquer dos casos mais ou menos legitima ou ilegitimamente, os restantes e modo geral, como desde sempre e na melhor das hipóteses, cá vamos andando como Deus quer! 


                                                                                                               Victor Barão


           (*) Dependente ou independentemente de em regra se concordar mais ou menos, com Miguel Sousa Tavares e/ou com o Dr.º Mário Soares!?

                                                                                                              

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