domingo, julho 15, 2012

Poder político e sociedade civil

             Ouvi ontem no programa televisivo Parlamento na RTP2, em resposta às criticas dos deputados da oposição presentes que nomeadamente diziam que o País vai de mal a pior, na respectiva sequência e salvo erro da minha parte foi o Sr.º deputado do PSD Luís Menezes, mas que se não foi este foi o Sr.º deputado Hélder Amaral do CDS/PP, em qualquer dos casos representantes da maioria parlamentar e enquanto tal do governo actual, a dizer algo como:...”afinal ao invés da oposição que diz que o país vai assim tão mal, não se vê o povo na rua e salvo a recente excepção dos médicos e alguns poucos organizados aqui e ali, de resto não parece que aja assim tanto mau estar e respectivo descontentamento social, que a oposição gostava que houvesse de facto!”

            Por mim gostava de dizer ao Sr.º deputado em causa e a muitos outros representantes da oposição e/ou do governo que: com declarações como estas últimas ou não sabe(m) o País onde vivem ou até acima de tudo não conhecem o Povo que representam e/ou governam. O que a ser assim só vem provar o distanciamento entre governantes e governados ou entre o poder político e o dito povo, o que democraticamente é grave. Ou por outro lado vem provar que os governos e os políticos em geral jogam a seu belo prazer com um povo genérica e substancialmente pacifico e passivo e/ou por si só dito de brandos costumes(*), sabendo os primeiros precisa e objectivamente disso, o que não é menos grave, até bem pelo contrário.

            Começando a falar por mim mesmo, jamais estive plenamente contente com muita da trampa que me rodeia quer social quer acima de tudo politicamente, de resto já perdi muito com isso, desde logo a nível social, no entanto por formação ou por deformação pessoal, social ou existencial jamais fui de ir para a rua protestar, até porque para alem de qualquer minha eventual característica pessoal própria, de resto e desde logo jamais estive ligado a qualquer organização ou movimento sindical, social ou colectivo de qualquer índole, pelo que protestativamente o melhor que poderia fazer seria colar-me a movimentos alheios. Mas por outro lado tão pouco acredito muito em protestativas movimentações de rua, que não raro e como melhor das hipóteses só servem para o poder político ou qualquer outro instituído procurarem desacreditar qualitativa e quantitativamente ditos movimentos de protestos, em regra remetendo-os para uns arruaceiros; para uns privilegiados(**) que procuram manter os privilégios a todo o custo; para organizações, em regra, de cariz comunista ou seja minoritário e enquanto tal não transversalmente credível; desde logo para quando são cinquenta mil, se vir dizer que aquilo não passavam de dez ou quinze mil e assim sucessiva e proporcionalmente até ao infinito. No entanto e no que a mim se refere, pelo menos de há algum tempo para cá e segundo o meu próprio copo tendo transbordado passei paradigmática a escrever em toda esta base e sequência de forma tão responsável e consequente quanto o que e como se pode aqui constatar.

            E passando agora a falar pela generalidade do Povo ou da sociedade interna, de que eu sou apenas um mero e mas também integrante exemplo, que coincidindo ou não com muitos outros, desde logo é sabido do dito povo de brandos costumes, de resto e não raro até utilizado política e socialmente como uma espécie de bandeira promocional da própria nação. Pelo que se só se contar com os protestos de rua para aquilatar do estado do País, da sociedade e/ou do povo, então de entre os brandos costumes e o descrédito do poder político ou qualquer outro, relativamente a qualquer protesto de rua; quer o respectivo poder político, quer qualquer outro estarão de grande, como regra geral sempre estiveram neste mesmo País de brandos costumes que é Portugal. Talvez ou seguramente por isso governos atrás de governos sejam eleitos com base numas premissas que logo imediatamente após eleitos não cumprem, se acaso até bem pelo contrário; sem já falar numa infinidade de suspeições, muitas delas seguramente confirmadas na prática relativas a abusos e/ou mesmo a fraudes por parte do poder político e dos diversos poderes sociais (económico, financeiro, etc., etc., etc.,), sem outras consequências que não as de favorecimento e impunidade relativamente aos mesmos. Bem pode-se dizer que politicamente e em democracia os governos caem punitivamente segundo façam uma má, quando não mesmo danosa ou até em algum que outro suposto caso fraudulenta gestão do País, mas depois os mesmos respectivos, respeitados e privilegiados responsáveis políticos e sociais ficam a ocupar lugares políticos no parlamento à espera de nova oportunidade governativa ou vão para a gestão de grandes grupos empresariais, económicos ou financeiros quer públicos quer privados, quer semi públicos e privados, talvez ou seguramente também por isso e salvo as devidas positivas excepções, o País esteja a correr _ vou naturalmente ironizar _ tão bem quer pública quer privadamente, sempre com os pornográficos benefícios e respectivas impunidades do costume. 

            E já agora, para além do meu exemplo pessoal e/ou do dito e feito povo de brandos costumes, gostaria ainda de dizer, a entre outros inclusive da oposição, mas no caso concreto ao(s) senhor(es) político(s): Luís Menezes ou Hélder Amaral em causa, a quem parece que o mau estar de cada um e da sociedade em geral só ou também se pode e deve fazer sentir em protestos de rua, ainda que logo e respectivamente o poder político vem desvalorizar qualitativa e quantitativamente tanto quanto poder esses mesmos protestos, que tanto desvalorizantemente pior se ditos protestos derem para algum tipo de confronto com as correspondentes autoridades do Estado, porque ai diz-se logo superiormente de cima para baixo que se trata dum bando de delinquentes, de terroristas e/ou afins. Pelo que talvez e como é comum nos políticos, especialmente nos de topo a nível nacional, não saberem por exemplo que há dezenas ou centenas de milhar de reformados a passar muito mal e que efectivamente falam e reclamam enquanto tal uns perante outros em bancos de jardim, em cafés, na rua em pequenos grupos; por outro lado grande parte da sociedade civil não tem poder organizativo, nem respectivamente de protesto colectivo, como por exemplo inerentes à iniciativa privada, nem sequer se inerentes ao próprio Estado desde que com vínculos laborais ou outros de base e substancia bastante precários; mas depois há ainda os ditos protestos silenciosos, desde logo sem repercussão na comunicação social e que enquanto tal é como se não existissem de facto, como recentemente sei ter sucedido por exemplo com funcionários públicos, designadamente inerentes ao fisco, que foram trabalhar vestido de preto em sinal de luto pelo corte de subsídios, sendo que como já referi atrás mesmo quando esses protestos têm repercussão na comunicação social são desvalorizados pelo poder político até ao limite do possível.

            Pelo que senhores políticos não joguem táctica, ideológica e se acaso até perversamente com o poder que têm, nem respectivamente e tanto pior se com as misérias sociais que os envolvem e que os senhores em regra não querem, não podem, não sabem ou não lhes interessa ver ou conhecer. De resto e por mim mesmo, inclusive para com a minha mais pró positiva sanidade própria, quero crer que este presente governo PSD/CDS tem ou terá as melhores intenções políticas, económicas, sociais, culturais, etc., etc., para o País; de resto como todos os que o antecederam, mas até precisamente pelos que o antecederam, em associação ao facto de também este presente governo ter prometido umas coisas e feitos outras; de ter sido democraticamente eleito por uma cada vez menor percentagem da população nacional, cujo um dos grandes protesto é mesmo estar cada vez mais branda e silenciosamente a deixar de votar em políticos não credíveis _ ainda que isso eventual e conclusivamente acabe por jogar contra a população e em favor desses mesmos políticos(!?); inclusive tendo sido este governo eleito tanto ou muito mais como protesto contra os governos do Sr.º José Sócrates do que como uma positiva alternativa de facto; por tudo isto e por tudo o mais que lhe está pré, pró e pós inerente, também por mim tenho um crescente receio do que está para vir!...                                                                                               

            (*) Povo de brandos costumes que em regra só se manifesta duma forma abrangente e transversal em circunstancias absolutamente excepcionais ou numa sequência de causas, efeitos e consequências mais ou menos especiais. Pelo que se se está à espera desse momento, dessas circunstancias ou dessas causas, efeitos e consequências, para se levar o povo a sério, então estamos efectivamente mal, no que à ligação entre poderes políticos e sociais e ao dito povo modo geral. Seja que entretanto não se está a escutar, nem a atentar nos estágios intermédios, precisamente entre o povo passivo, pacifico e/ou dito de brandos costumes, versos o povo que se pode ver na excepcional ou especial contingência de ter de (re)agir muito para além disso _ se acaso e em qualquer dos casos com prejuízo do próprio dito povo!?...

            (**) Eu que, pelo melhor e pelo pior, para o bem ou para o mal, sou uma espécie de caso à parte! No entanto e/ou até por isso quero ou não posso mesmo deixar de a este nível fazer aqui o reparo de que reconheço efectivamente interesses instalados em ditas classes sociais intermédias e eventualmente até de base. Mas no caso tão pouco posso ou quero deixar de reconhecer que há seguramente equivalentes ou até superiores interesses instalados nas elites políticas e sociais modo geral; sendo ainda que os interesses instalados ao nível das classes baixas ou intermédias podem consumir uns milhões (€) repartidos por ou de entre muitos, já os interesses instalados nas elites, pelo menos segundo muitos vezes vem suspeita ou comprovadamente a público, implicam logo umas centenas de milhar ou uns milhões em nome ou em favor de muito poucos. Seja que numa dita democracia representativa em que supostamente as maiorias vencem, governam e têm o poder, sendo que os básicos ou intermédios interesses instalados, estão na representativa maioria populacional ainda que quiçá ou seguramente não em maioria de milhões (€), perante ou sob as representativas minorias elitistas que quiçá ou seguramente são maioritárias ao nível dos milhões (€). E enquanto tal com uma profunda e como mínimo dupla injustiça desde logo entre maioritária representatividade populacional e de respectivos minoritários proventos (€), face à minoritária representatividade das elites políticas e sociais com respectivos maioritários proventos (€) _ tudo e tão só no que ao nível de interesses instalados diz respeito!  

                                                                                              Victor Barão

            Nota: Tudo o transacto, tal como o presente foi e está a ser escrito de forma espontânea, como seja sem qualquer auto revisão, correcção ou complementação a frio _ salvo que o escrevi cerca de vinte e quatro hora após os factos. Pelo que com efectivos ou eventuais defeitos e virtudes, o mesmo vale como e enquanto tal. Desde logo e pelo mesmo assumo respectiva e plena responsabilidade enquanto tal, tal como necessariamente o assumiria por e com qualquer auto revisão, correcção e/ou complementação. 

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