segunda-feira, agosto 26, 2013

Espectacular e industrial NORMA dos incêndios florestais

            Como triste sinal dos tempos e do mental sociocultural geral!

           Chegado o Verão, são ano atrás ano e dia após dia os títulos da imprensa escrita, radiofónica e televisiva, com respectivas e ilustrativas imagens fotográficas, relatos verbais ou imagens televisivas a versar o dilemático tema dos incêndios florestais, com ditos títulos de imprensa básica e genericamente do tipo: centenas de homens (bombeiros, militares e afins); dezenas de viaturas terrestres (tanques e auto tanques); diversos meios aéreos (aviões e helicópteros) combatem as chamas aqui e ali; com correspondentes dezenas, centenas, milhares ou até dezenas de milhares de hectares de área florestar ardida e/ou a arder; com ainda diários e incansáveis avisos de perigo de incêndio devido às temperaturas altas, acrescidos de cautelares normas ou mesmo obrigações de base legal, como por exemplo no relativo a não fumar ou a não foguear em área florestal, etc., etc., global sequência, ao que cada vez mais parece adicionar-se e enquanto tal tornar-se norma, uns ditos acidentes pessoais e/ou colectivos, no limite redundando em morte, por norma enquanto inerente aos operacionais (bombeiros e afins) de índole profissional ou voluntária, em qualquer caso destacados para o combate às chamas; em regra tudo espectacularmente mediatizado como socioculturalmente convém, a que acresce ainda noticias inerentes à detenção por parte das autoridades policiais competentes dalguns suspeitos de atear dolosa ou promiscuamente fogos florestais!

            Ainda que duma forma bastante grosseira e/ou superficial, o facto é que o anterior parágrafo reflecte ou retrata aquilo que é de há muito e parece que cada vez mais a triste Norma ou quiçá pelos meios técnicos, humanos, materiais, legais e/ou outros envolvidos, até já Industria, no que a incêndios florestais diz respeito.

            A partir de que a questão é que: desde logo eu próprio me recordo, mas muito mais que eu se recordam por experiência própria os meus pais e tanto mais ainda se os meus avós _ neste último caso já falecidos_ de que aquém e além de floresta, haver milhares, repito milhares hectares de campos plantados de cereal, como seja de algo tremendamente volátil em pleno Verão, sendo que enquanto Portugal como País fundamentalmente agrícola, há altura havia também milhares de homens e mulheres a trabalhar os campos, natural e proporcionalmente divididos pelas parcelas que lhes correspondiam enquanto proprietários ou assalariados agrícolas e em que pelo menos os homens eram (quase) literalmente todos fumadores, inclusive e se acaso fazia-se o almoço em pleno campo com recurso ao fogo; no entanto parece que há altura o calor de Verão não era propicio ou mesmo espoletador de incêndios florestais e/ou de muito voláteis campos cerealíferos. E que se quando havia um qualquer fogo que fugi-se minimamente ao mais imediato e/ou corrente controlo humano _ vulgo incêndio _, logo e com um espírito que quiçá hoje em dia regra geral não exista, toda a gente disponível e/ou em proximidade ao fogo, acorria tão natural, espontânea e motivadamente a apagar o fogo, que o mesmo tinha poucas ou nenhumas hipóteses de progredir, sendo que há altura nem sequer havia bombeiros em muitos locais (vilas e afins) onde posteriormente os passou a haver, mas mesmo quando inclusive numa primeira fase de proliferação de associações humanitárias de Bombeiros Voluntários a nível nacional, ainda assim parecia haver e havia de facto um certo orgulho nas populações civis modo geral, que com poucos mais meios que o próprio corpo, a natural vontade e o espontâneo engenho para combater o fogo, dizerem no relativo a incêndios: não foi necessários virem os Bombeiros e/ou quando os Bombeiros chegaram já o fogo estava extinto _ sendo que em toda esta última acepção não pretendo dizer que foi e/ou é por haver bombeiros que passou a haver ou há incêndios florestais, pretendo dizer e digo sim é que o espírito e o mental sociocultural geral, no caso com relação ao fenómeno dos fogos florestais é totalmente diverso ao que já foi em tempos, aquém e além de bombeiros ou de não bombeiros e afins. De resto e como parece confirma-se que quantas mais instituições públicas ou privadas existem (protecção civil, bombeiros, meios aéreos de base privada e comercial, etc., etc.,), inclusive com todas estas instituições baseadas em regras técnicas, legais e afins, sem esquecer os permanentes e cautelares avisos ou anúncios mediáticos, tudo adicionado de intermináveis meios económico-financeiros disponibilizados, em qualquer caso pró prevenção e combate a incêndios florestais; no entanto parece irónica e paradoxalmente que também mais quantitativa e mais qualitativamente graves incêndios florestais existem, inclusive parece que também com cada vez mais recorrentes vitimas humanas a lamentar.

            Seja que para mim, esta a (quase) todos os títulos nefasta coisa dos incêndios florestais, desde logo tendo por base a qualitativa, quantitativa, recorrente e acrescida gravidade dos mesmos, que enquanto tal se cristaliza cada vez mais como a norma e não como a excepção, tem tanto ou quiçá muito mais que ver com o espírito e/ou com o mental sociocultural geral inerente do que com os meios técnicos, materiais, humanos e/ou outros de prevenção e/ou de combate aos fogos (incêndios) florestais. Seja ainda que há décadas atrás um fogo fora de controlo _ vulgo incêndio _ era a excepção que havia que combater o mais imediata, absoluta ou incondicionalmente possível com todos os parcos meios técnicos e materiais, mas com todos os substanciais meios humanos e vitais disponíveis há altura, isto enquanto naturalmente interiorizado em todos e cada qual e/ou como a esmagadora norma sociocultural geral, em que a haver orgulho, este último era directamente proporcional a combater-se e extinguir-se o fogo (incêndio) o mais rápido e eficazmente possível, como um verdadeiro estado de espírito e não como uma norma e/ou imposição técnica/legal, se acaso vedada a uma série de peritos devidamente hierarquizados, talvez por isso levando a que por exemplo e por vezes se ouça dizer aqui e ali que: “os bombeiros não combateram de imediato o incêndio num determinado ponto territorial, geográfico e/ou por si só de gradual progressão do fogo, porque alegadamente esperavam ordens superiores para poderem entrar num determinado cercado particular, para acederem a um determinado ponto do terreno e/ou afins”!

            Enfim, digo eu que tudo isto me parece redundar num sinal dos tempos e/ou do mental sociocultural geral _ já agora refira-se que um sinal dos tempos e/ou um mental sociocultural geral eminentemente tristes e degradantes, desde logo para o bem comum, inclusive para a vida natural selvagem e o meio ambiente global, de que em qualquer dos casos somos humana parte integrante e duma ou doutra forma dependentes. Mas talvez tudo isso pouco ou nada importe, num mundo e/ou numa sociedade e cultura humana essencialmente materialistas, em que designadamente o ter e/ou o parecer importam muito mais do que o ser e/ou do que o querer bem _ veremos até quando, como e/ou com que consequências vitais ou universais (globais), aquém e além de humanas, ainda que enquanto tal necessária e incontornavelmente também humanas!?

                                                                                              VB 

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