Antes
de mais devo dizer que não tenho convicções políticas do ponto de vista
partidário e/ou até meramente ideológico de esquerda ou de direita, sem mais; no
fundo e na medida do possível auto assumo-me como um pró pleno humanista e/ou
universalista, em que designadamente cabem todas as ideologias no que as
mesmas contenham de pró integralmente complementar de entre si, em que polarizando a coisa para
um nível fisiologicamente pessoal e/ou humano, costumo dizer-me de e para mim
mesmo que por exemplo sem o meu braço direito ou esquerdo serei sempre um
deficiente, aquém e além do que, mais ou menos condicionada e/ou dependentemente, eu possa fazer apenas e só com um braço e/ou
até sem nenhum. A partir de que devo acima de tudo agradecer a iniciativa
radiofónica No Limite da Dor, por
finalmente expor de forma objectiva, clara e testemunhalmente directa uma das
fases e facetas mais marcantes da história nacional relativamente recente e mas
também desde sempre. Cuja respectiva fase e faceta em causa, creio eu que,
estão ainda muito mal digeridas e/ou resolvidas ao nível do colectivo nacional,
diria mesmo que são temas “Tabu” para muito qualitativa e/ou quantitativa gente!
Pelo que aqui fica a minha muito grata reverência à Ana Aranha e à Antena1
da RDP
pela iniciativa de trazerem à tona este
tema tão colectiva e historicamente sensível, tocante e consequente.
No
limite da dor
Da minha parte diria que a minha vida
está profundamente marcada pelo antes e pelo após ou melhor pelo choque de
entre o pré e o pós revolução democrática
de Abril de 74. Ainda que até por facetas mais subjectivas dessa marca, em
associação ao presente contexto duma sucinta postagem de Blog, não me é muito
viável sequer começar a descrever objectivamente o quanto me foi, está a ser e
continuará indefinidamente a ser tocante essa mesma marca, salvo se pelo que se
segue!
Em directa sequência do programa “No limite da dor” de Ana Aranha na RDP Antena1, tendo por base a entrevista a ex. torturados às mãos da
pré revolucionária policia política (PIDE), posso por exemplo adiantar que por
mim mesmo falando foi e/ou é-me tão ou mais tortuoso viver na indefinida e
iminente expectativa de poder ser torturado do que por exemplo a tortura em e
por si só, o que digo desde logo pela minha experiência escolar primária em que
a(o)s professor(a)es, inclusive com institucional ou cultural apoio social/familiar
castigavam física e mentalmente, com o argumento de que só assim se aprendia a lição, sendo que para mim era sempre tão ou mais
tortuosa a pré e/ou permanente expectativa do castigo do que o castigo em si
mesmo _ sem natural prejuízo do tortuoso deste último.
A partir de que quando, após Abril de
74, comecei a ouvir falar mais directa, objectiva e abertamente das ditas requintadas
e brutais torturas concretizadas pela
PIDE, tanto mais assim se a partir da minha original base sociocultural e existencial
essencialmente humilde, obediente (oprimida) e simplista, passou a intrigar-me de
forma perturbadora e enigmática, quem
e como seriam as pessoas que se dedicavam a torturar de forma fria,
sistematicamente requintada e/ou brutal outras pessoas _ suas semelhantes?! Que
segundo parece, não raro muitas destas últimas pessoas nada mais pretendiam do
que reclamar pacificamente justiça e liberdade, custando a acreditar os motivos
e razões para tanta e tão requintada brutalidade policial, no fundo por parte
do próprio Estado, aquém e além de numa contextual e radical polarização
política, social e cultural, em que o pólo dominante senão eliminava, pelo
menos oprimia e reprimia o pólo dominado _ com uma imensa e amorfa massa social
de entre meio. Sendo que nestas coisas há sempre os “mais papistas que o próprio Papa”; levando-me a (re)questionar-me
acerca de quem e porquê sustentava brutal, sistemática e tortuosamente na prática,
um sistema ideológica e/ou moralmente liderado por Senhor Presidente do
Conselho de seu nome: António Oliveira Salazar e posteriormente pelo Prof.º
Marcelo Caetano?!
Claro que ainda que a mesma esteja subjectivamente
implícita, no entanto a mais substancial resposta a isto seria e é objectivamente
muito mais extensa e complexa do que a que circunstancialmente vou dar, para inclusive
sob risco de ser mal interpretado(!?) dizer que numa primeira instância (primariamente)
descobri a resposta a essa mesma pergunta em mim mesmo, quando a partir de respectivo
determinado momento passei a sentir propensão a fazer, primeiro emotiva e depois se acaso tão fria e
sistematicamente aos torturadores
aquilo que os mesmos faziam aos seus torturados;
o que dalgum modo foi ainda tão ou mais perturbador para mim do que saber que
havia pessoas que torturavam outras pessoas, em qualquer dos casos aquém e além
de mim mesmo. Também por isso entrei em pró positivo, vital, sanitário e/ou
subsistente processo de auto gestão e de (re)estruturação própria, por assim
dizer de entre os meus humildes e obedientes(*)
princípios existenciais de base opressiva/repressiva e uma posteriormente dita
de liberdade democrática, (ainda) actualmente vigente! Tendo eu entretanto chegado
à democrática conclusão de que o ideal mesmo seria não haver tortura em absoluto. Mas como a
própria vida é tão ambígua em si mesma que chega a só fazer sentido perante a
morte, sendo que frequentemente a própria humanidade não passa de mero e primordial
reflexo da ambiguidade da própria vida, a pontos da tortura de entre humanos se
chegar a concretizar em nome dum Deus bom
e/ou em nome da paz e da não violência! Restando então meramente a
fé e a esperança de que até em sequencial existência de tortura por si só e/ou
face à dor existencial que está naturalmente subjacentes a todos e a cada qual,
a própria humanidade possa chegar algum hipotético e remoto dia a um nível de
cultura (inteligência, sabedoria e justiça) vital/universal em que a tortura
não faça mais sentido, salvo se como aquilo que a mesma é: estúpida, perversamente
estúpida!
Global sequência aquém e além do que
acima de tudo admiro profundamente as pessoas que dependente ou
independentemente das próprias serem por si sós potenciais torturadoras ou
não(?!), no entanto e no efectivo caso concreto passaram _ não raro com uma
capacidade de resistência física e psicológicas além do à partida insuspeitável
num ser humano _ pelo processo de presos e torturados às mãos da dita polícia
política, que aquém e além de noutros países, noutras regiões do planeta e/ou noutras ideologias, culturas e civilizações humanas em qualquer tempo, no caso concreto e durante a ditadura fascista/salazarista, em Portugal se designava por PIDE (Policia de Investigação e
Defesa do Estado).
Responsável e consequentemente:
VB
(*) Ao meu
nível sociocultural e familiar original em contexto opressivo/repressivo pré
democrático, era-se de todo mais instruído para a obediência (subserviência) do
que educado para a liberdade (autodeterminação).
Obs: À partida era para publicar um mero comentário de dois
pequenos parágrafos, a todo este respeito, na página RTP/no limite da dor no Facebook. Mas como não resisti a deixar-me
levar pelo mesmo, pelo menos até onde e como me foi espaço, temporal e interiormente
possível, de entre o passado Sábado 01 e hoje mesmo Sábado 08, em qualquer caso
do corrente Fevereiro de 2014; o facto é que acabei chegando ao transacto
texto, que creio ser extensiva e qualitativamente mais passível de postagem
aqui meu Blogger do que como um mero comentário no FB _ sem prejuízo de fazer
um comentário ao respeito no Facebook.
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