sábado, fevereiro 08, 2014

(INTRA e EXTRA) DECIFRANDO O ENIGMA!!!

            Antes de mais devo dizer que não tenho convicções políticas do ponto de vista partidário e/ou até meramente ideológico de esquerda ou de direita, sem mais; no fundo e na medida do possível auto assumo-me como um pró pleno humanista e/ou universalista, em que designadamente cabem todas as ideologias no que as mesmas contenham de pró integralmente complementar de entre si, em que polarizando a coisa para um nível fisiologicamente pessoal e/ou humano, costumo dizer-me de e para mim mesmo que por exemplo sem o meu braço direito ou esquerdo serei sempre um deficiente, aquém e além do que, mais ou menos condicionada e/ou dependentemente, eu possa fazer apenas e só com um braço e/ou até sem nenhum. A partir de que devo acima de tudo agradecer a iniciativa radiofónica No Limite da Dor, por finalmente expor de forma objectiva, clara e testemunhalmente directa uma das fases e facetas mais marcantes da história nacional relativamente recente e mas também desde sempre. Cuja respectiva fase e faceta em causa, creio eu que, estão ainda muito mal digeridas e/ou resolvidas ao nível do colectivo nacional, diria mesmo que são temas “Tabu” para muito qualitativa e/ou quantitativa gente! Pelo que aqui fica a minha muito grata reverência à Ana Aranha e à Antena1 da RDP pela iniciativa de trazerem à tona este tema tão colectiva e historicamente sensível, tocante e consequente.

            No limite da dor

            Da minha parte diria que a minha vida está profundamente marcada pelo antes e pelo após ou melhor pelo choque de entre o pré e o pós revolução democrática de Abril de 74. Ainda que até por facetas mais subjectivas dessa marca, em associação ao presente contexto duma sucinta postagem de Blog, não me é muito viável sequer começar a descrever objectivamente o quanto me foi, está a ser e continuará indefinidamente a ser tocante essa mesma marca, salvo se pelo que se segue!

            Em directa sequência do programa “No limite da dor” de Ana Aranha na RDP Antena1, tendo por base a entrevista a ex. torturados às mãos da pré revolucionária policia política (PIDE), posso por exemplo adiantar que por mim mesmo falando foi e/ou é-me tão ou mais tortuoso viver na indefinida e iminente expectativa de poder ser torturado do que por exemplo a tortura em e por si só, o que digo desde logo pela minha experiência escolar primária em que a(o)s professor(a)es, inclusive com institucional ou cultural apoio social/familiar castigavam física e mentalmente, com o argumento de que só assim se aprendia a lição, sendo que para mim era sempre tão ou mais tortuosa a pré e/ou permanente expectativa do castigo do que o castigo em si mesmo _ sem natural prejuízo do tortuoso deste último.

            A partir de que quando, após Abril de 74, comecei a ouvir falar mais directa, objectiva e abertamente das ditas requintadas e brutais torturas concretizadas pela PIDE, tanto mais assim se a partir da minha original base sociocultural e existencial essencialmente humilde, obediente (oprimida) e simplista, passou a intrigar-me de forma perturbadora e enigmática, quem e como seriam as pessoas que se dedicavam a torturar de forma fria, sistematicamente requintada e/ou brutal outras pessoas _ suas semelhantes?! Que segundo parece, não raro muitas destas últimas pessoas nada mais pretendiam do que reclamar pacificamente justiça e liberdade, custando a acreditar os motivos e razões para tanta e tão requintada brutalidade policial, no fundo por parte do próprio Estado, aquém e além de numa contextual e radical polarização política, social e cultural, em que o pólo dominante senão eliminava, pelo menos oprimia e reprimia o pólo dominado _ com uma imensa e amorfa massa social de entre meio. Sendo que nestas coisas há sempre os “mais papistas que o próprio Papa”; levando-me a (re)questionar-me acerca de quem e porquê sustentava brutal, sistemática e tortuosamente na prática, um sistema ideológica e/ou moralmente liderado por Senhor Presidente do Conselho de seu nome: António Oliveira Salazar e posteriormente pelo Prof.º Marcelo Caetano?!

            Claro que ainda que a mesma esteja subjectivamente implícita, no entanto a mais substancial resposta a isto seria e é objectivamente muito mais extensa e complexa do que a que circunstancialmente vou dar, para inclusive sob risco de ser mal interpretado(!?) dizer que numa primeira instância (primariamente) descobri a resposta a essa mesma pergunta em mim mesmo, quando a partir de respectivo determinado momento passei a sentir propensão a fazer, primeiro emotiva e depois se acaso tão fria e sistematicamente aos torturadores aquilo que os mesmos faziam aos seus torturados; o que dalgum modo foi ainda tão ou mais perturbador para mim do que saber que havia pessoas que torturavam outras pessoas, em qualquer dos casos aquém e além de mim mesmo. Também por isso entrei em pró positivo, vital, sanitário e/ou subsistente processo de auto gestão e de (re)estruturação própria, por assim dizer de entre os meus humildes e obedientes(*) princípios existenciais de base opressiva/repressiva e uma posteriormente dita de liberdade democrática, (ainda) actualmente vigente! Tendo eu entretanto chegado à democrática conclusão de que o ideal mesmo seria não haver tortura em absoluto. Mas como a própria vida é tão ambígua em si mesma que chega a só fazer sentido perante a morte, sendo que frequentemente a própria humanidade não passa de mero e primordial reflexo da ambiguidade da própria vida, a pontos da tortura de entre humanos se chegar a concretizar em nome dum Deus bom e/ou em nome da paz e da não violência! Restando então meramente a fé e a esperança de que até em sequencial existência de tortura por si só e/ou face à dor existencial que está naturalmente subjacentes a todos e a cada qual, a própria humanidade possa chegar algum hipotético e remoto dia a um nível de cultura (inteligência, sabedoria e justiça) vital/universal em que a tortura não faça mais sentido, salvo se como aquilo que a mesma é: estúpida, perversamente estúpida!

            Global sequência aquém e além do que acima de tudo admiro profundamente as pessoas que dependente ou independentemente das próprias serem por si sós potenciais torturadoras ou não(?!), no entanto e no efectivo caso concreto passaram _ não raro com uma capacidade de resistência física e psicológicas além do à partida insuspeitável num ser humano _ pelo processo de presos e torturados às mãos da dita polícia política, que aquém e além de noutros países, noutras regiões do planeta e/ou noutras ideologias, culturas e civilizações humanas em qualquer tempo, no caso concreto e durante a ditadura fascista/salazarista, em Portugal se designava por PIDE (Policia de Investigação e Defesa do Estado).

            Responsável e consequentemente: 

                                                                                              VB

            (*) Ao meu nível sociocultural e familiar original em contexto opressivo/repressivo pré democrático, era-se de todo mais instruído para a obediência (subserviência) do que educado para a liberdade (autodeterminação).

            Obs: À partida era para publicar um mero comentário de dois pequenos parágrafos, a todo este respeito, na página RTP/no limite da dor no Facebook. Mas como não resisti a deixar-me levar pelo mesmo, pelo menos até onde e como me foi espaço, temporal e interiormente possível, de entre o passado Sábado 01 e hoje mesmo Sábado 08, em qualquer caso do corrente Fevereiro de 2014; o facto é que acabei chegando ao transacto texto, que creio ser extensiva e qualitativamente mais passível de postagem aqui meu Blogger do que como um mero comentário no FB _ sem prejuízo de fazer um comentário ao respeito no Facebook.

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