domingo, março 16, 2014

Perversidades e mesquinhezes do sistema

            Não sei se e/ou até que ponto com mais ou menos, toda ou nenhuma conspiração prática ou teórica!?

            Mas independentemente de quem defende mais ou menos gestão publica, desde logo por parte do Estado relativamente ao bem comum e da respectiva sociedade (segurança, saúde, educação, etc.,) modo geral; o facto é que de entre uma dimensão (mais) e outra (menos) pró gestão pública do bem comum, há uma respectivamente difusa, quando não mesmo profundamente ambígua ou até perversa dimensão intermédia. E vou passar a dar um múltiplo exemplo prático disso mesmo:

             Em poucos (dois ou três) dias de intermédio escutei publicamente via televisão um director hospitalar público a queixar-se da falta de anestesistas para efectuar as devidas cirurgias, dizia ainda o senhor que com mais de 40% de perda da capacidade cirúrgica hospitalar que o mesmo dirige. Logo a fazer pressupor que há em dito hospital todos os restantes técnicos (especialistas, cirurgiões, enfermeiro/as, etc.,) pagos pelo próprio governo da Nação, mas que tão só por carência de dois, três ou quatro técnicos anestesistas tudo fica (semi) emperrado ou mesmo cirurgicamente bloqueado _ sem evitar a despesa pública inerente. O que por si só já é algo muito difícil de entender razoavelmente, por não dizer que é tão mais absolutamente perverso quanto são os próprios governantes da nação que dizem que tem de se reduzir a despesa do Estado e tornar o Estado mais eficiente, o que na circunstancia não me parece em absoluto ser nem uma coisa (redução de despesa) nem outra (maior eficiência), se acaso até conjunturalmente bem pelo contrário.
 
            Mas como se o anterior não bastasse, a mesma governação política e pública do país, está a oferecer uns, salvo erro, designados “cheques oferta de saúde” para os utentes do serviço nacional de saúde publica que, também por perversidades como a anteriormente citada, engrossam as listas de espera do serviço nacional de saúde, por inerência poderem passar a ser tratados e/ou intervencionados cirurgicamente em hospitais ou clínicas privado/as _ como sucedeu com ao menos duas pessoas(*) que conheço e com quem tão ocasional quanto providencialmente falei ao respeito já após ter escutado o director hospitalar em questão. Seja que a multi perversa governação política e publica do país, que por si só fala em “reduzir a despesa do Estado e tornar o Estado mais funcional e economicamente eficiente”, pelo contrário continua a sustentar o despesismo do Estado, inclusive de forma perversamente inócua como no caso de ao menos um hospital em que faltam anestesistas, ao mesmo ambíguo tempo que em nome do Estado multiplica esse despesismo pelo sector privado, por exemplo com "cheques oferta", no caso concreto tendo por base o factor da saúde pública.

            Pode não haver em tudo isto uma teoria conspirativa de quem é a favor ou contra o sistema nacional de saúde pública e/ou privado, nem algum tipo do muitas vezes falado e outras comprovado joguinho de interesses mais ou menos obscuros e por si só ilegítimos de entre o sector público e privado; mas desde logo e seguramente há uma profunda perversidade ou pelo menos profunda incompetência democrática na gestão dos valores públicos e/ou do próprio Estado, que sem prejuízo doutras pretéritas e/ou eventuais futuras gestões, no caso concreto e desde logo por parte da sistémica gestão política e pública do Estado actual!

            Mas pior, muito pior que tudo o anterior enquanto por parte da administração política e publica do próprio Estado, que pode ou não conter dita conspiração e mas seguramente contém perspectivas ideológicas e aqui ou ali incompetência democrática e/ou interesses mais ou menos legítimos ou ilegítimos; o pior dizia e digo eu ainda é que nós, o dito povinho que por si só compomos o próprio Estados e enquanto democraticamente elegemos livremente quem faça a gestão política e publica desse mesmo Estado, perante perversidades como a acabada de descrever atrás, é que apesar de felizmente não todos, mas em todo o caso muitos e enquanto tal de todo demasiados elementos do povinho, que numa base mais ou menos "chico espertista" por exemplo aproveitando os “cheques ofertade saúde”, aquém e além de poderem ou não esperar mais algum tempo pela oportunidade de ser tratados e/ou intervencionados cirurgicamente nas instituições de saúde publicas que os (nós) mesmos pagam(os) duma ou doutra forma, no entanto e acima de tudo fiquem(os) pura e simplesmente satisfeitos por esses “cheques oferta” sem mais e/ou em alguns casos até fiquem(os)todos vaidosos pela facultação pública de ditos “cheques oferta”, sem que importe minimamente com o que possa estar (conspirativa, incompetente, interesseira e/ou obscuramente) por detrás e em alguns casos mesmo sabendo-o, sentimo-nos privilegiados pela “oferta” e/ou bem governados enquanto por quem “oferece”, com base na própria "oferta" _ dalgum modo numa base relativamente comum do tipo "eu estou desenrascado, o próximo e/ou o próprio país que se desenrasquem também"! O que tanto ou mais que perverso chega a ser profundamente mesquinho, num ciclo de interesses mais ou menos estonteante e/ou conclusiva, cíclica e sistemicamente pró critico e austero.

            Perversa, mesquinha e dalgum social modo transversalmente lamentável!

                                                                                              VB

           (*) Sendo que ao menos uma das pessoas minhas conhecidas e por citadas atrás, recusou um primeiro "cheque" oferta após muitos meses de espera por uma cirurgia à coluna vertebral. Mas após o que não fixei bem quantos meses mais de espera, segundo entendi perfazendo seguramente muito mais dum ano de espera e diversas consultas com o médico assistente do serviço nacional de saúde publica que o estava a acompanhar, respectivamente perante mais um e segundo "cheque oferta", este paciente consultou mais uma vez o seu respectivo médico assistente para designadamente lhe perguntar o que fazer com (mais) aquele "cheque oferta", ao que segundo o mesmo o médico lhe terá dito que de entre o tempo de espera até então e a indefinição de não saber quanto mais poderia ter de esperar, que fosse ele mesmo utente/paciente a decidir o que fazer, como seja: aproveitar o "cheque oferta" para ser intervencionado de imediato numa clinica ou hospital privada/o e/ou então continuar a esperar! No caso o utente/paciente em causa acabou por nesta segunda oportunidade decidir-se por aproveitar a mesma, tendo-lhe ainda sido proporcionada a oportunidade de escolha entre três instituições de saúde privada em três respectivos pontos bem diversos do país, no caso independentemente do acréscimo de custos de deslocação de entre os diversos pontos em causa, com relação à origem do paciente, passando-se em qualquer caso o privilégio e/ou a responsabilidade da escolha para o utente/paciente. E se no caso o utente/paciente em causa acabou por escolher a instituição mais próxima da sua origem residencial, ironicamente e a piorar toda esta contextual envolvência, como melhor das hipóteses objectiva e democraticamente pouco clara, a própria intervenção cirúrgica não correu nada bem, inclusive tendo o paciente ficado pior do que estava antes de ser intervencionado, com a ainda agravante de que segundo posterior e tripartido parecer médico, incluindo o parecer de quem o intervencionou e ainda dum dos melhores especialistas nacionais, parece que após dita "malfadada" intervenção o paciente não pode ou pelo menos não deve voltar a ser intervencionado, pelo menos sem muito, repito, muitoooooooooooo elevada probabilidade de não voltar a andar pelo próprio pé, sendo que entretanto ficou a andar pior do que andava antes de ser intervencionado e que segundo também parece não tinha à partida, nem em absolto de ser assim _ seja que a intervenção cirúrgica a que o mesmo foi submetido poderia e deveria ter corrido de todo melhor e para o bem. Tudo isto só para dar um mero exemplo das perversidades do sistema, tanto pior se associadas à sorte e/ou ao azar de cada qual!
           Mas em toda esta sequência não quero perder a oportunidade de dar um meu exemplo próprio enquanto utente/paciente deste sistema nacional de saúde, aquém e além deste sistema "democrático" modo geral; quando com explicito início há cerca de três décadas atrás, passei a ter tão graves quanto degenerativos problemas ao nível articular, mais concretamente  ao nível dos joelhos, fazendo com que aos dezoito anos de idade já não pode-se praticar desportos bruscos ou de choque como por exemplo o futebol; posteriormente fui deixando de poder correr, inicialmente a descer e com o tempo (quase) em absoluto; de bicicleta pude andar sem condicionalismos de maior até cerca dos trinta e poucos anos de idade, mas na casa dos quarente já nem de bicicleta posso andar natural, livre e/ou incondicionalmente; vai-me restando e cada vez mais mal o andar normal e corrente do dia a dia. Mas entretanto e logo no início deste(s) meu(s) problemas articulares, consultei médicos do serviço nacional de saúde, de que desisti porque e de resto creio que dada a minha jovem idade à altura, o facto de ter relativamente bom (atlético) aspecto exterior e de andar naturalmente pelo meu próprio pé, como que senti ou mesmo constatei não ser levado muito a sério; seja que dependente ou independentemente disso o facto é que levei anos para conseguir uma consulta de especialidade (ortopédica), sendo que só consegui essa consulta após ter consultado um especialista privado, às minhas próprias custas, como seja sem "cheques oferta", respectivamente feito radiografias também às minhas custas, em qualquer dos casos no sector privado, mas talvez porque o médico privado constatou que eu não tinha a mais mínima possibilidade financeira de sustentar um tratamento privado, afinal eu há altura como salvo raras excepções sempre usufrui do rendimento mínimo nacional  _ como seja "mata a fome" _ após efectuar as ditas radiografias e consultas privadas, o próprio médico do sector privado aconselhou-me a recorrer ao sector púbico para continuar qualquer espécie de terapia, disse o mesmo que como mínimo teria de fazer fisioterapia especifica à zona afectada, alegadamente com um rotula mais alta que o normal quando em esforço! Recorri então de novo ao serviço nacional de saúde, com as conclusões e indicações do médico privado e curiosamente pela primeira vez consegui de imediato consulta para um especialista do sector publico, no caso para tão só assinar por baixo o que o médico privado havia aconselhado, como fosse no mínimo fisioterapia especifica. Mas no caso acabei mesmo por não fazer dita fisioterapia, desde logo porque não podia deixar de trabalhar, segundo porque trabalha cerca de doze horas por dia e não tinha tempo para terapias que eram o mínimo, depois e apesar de tudo há altura ainda andava relativamente bem no que ao dia a dia diz respeito, mas também porque comecei a crescentemente desacreditar cada vez mais no sistema de saúde e em última instancia ou em certa medida nos seus próprios técnicos. A partir de que a minha média de idas ao médico (público/privado) passou a andar pelos sete ou oito anos de intervalo, sendo que por vezes passa dos dez anos e outras vezes andará pela metade disso e ainda assim só o faço em sequência duma qualquer aguda crise de saúde, como por exemplo da última vez o fiz em sequência duma persistente crise ao nível intestinal, em que designadamente acabei cerca de sete horas a soro! Seja que o meu crónico e degenerativo problema articular só me voltará a levar a quem de direito, como seja ao medico, quando por qualquer eventual motivo algo quebrar literalmente a este nível e/ou então quando eu já não poder mesmo nem caminhar pelo meu próprio pé. Pois que de resto vivo ou pelo menos subsisto com base nesta minha condição existencial própria em associação, comparação e/ou contraste com o meio envolvente, desde logo com o sistema "democrático" e/ou de saúde publica que me tocou viver _ dalgum conclusivo modo e sem lamentos nem regozijos, da e pela minha parte passou a coincidir com regra geral "dobrar até quebrar" ou será "antes quebrar que dobrar" e/ou ambas as coisas, ou nenhuma delas, ou cada uma ou ambas com mais ou menos o que quer que seja ou deixe de ser!?  VB 

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