O local que as fotos documentam situa-se à beira duma estrada onde, salvo raras excepções, à partida e por norma só circula trânsito local ou seja que durante horas pode não circular carro algum. Eu próprio só transito por esta estrada por objectiva opção ou por circunstancial necessidade, como por exemplo quando me for mais perto circular por ali para chegar a algum determinado lugar em concreto, o que é raríssimo. Até porque esta estrada conduz a lugares que por natural norma não frequento. Pelo que só por aqui circulo quando de todo mais por opção do que por necessidade, como por exemplo quando por numa espécie de passeio procuro variar a rota ou o destino duma minha saída mais lúdica e/ou então por excepcional necessidade como quando aqui trabalhava ou quando em transito para qualquer outro trabalho em que por aqui tivesse de passar. O que, repito, em qualquer dos casos é raríssimo. Mas hoje foi um desses raros dias, em que num misto de objectiva e lúdica opção por me deslocar a um determinado local, mesmo havendo outras possíveis vias para lá chegar, no entanto num semiobjectivo ou subjectivo misto me deu mais circunstancial jeito circular por ali; como seja que desta vez foi por opção antes de ser por necessidade, ainda que no final por um redundante e conclusivo, raro, misto de opção e necessidade. Ou seja, ainda, que tendo eu optado por ir a um lugar onde não necessitava objectivamente faze-lo, acabou por me ser mais objectivamente útil faze-lo por esta via _ estrada.
A partir de que as presentes fotos documentam um projecto agroflorestal com cerca de dois anos, precisamente à beira da estrada em causa, enquanto projecto agroflorestal que em parte eu ajudei a plantar enquanto integrado numa grande equipa de mais de dez pessoas, além ainda da respectiva vedação do projecto que numa respectiva equipa de trabalho entre duas e quatro pessoas, esta sim, eu acompanhei de princípio a fim. Seja que cada pau da vedação passou-me duma ou doutra forma pelas mãos, já fosse a distribuir os mesmos, a abrir covas e buracos para os respectivos, a espetá-los e a bate-los, a aprumá-los, etc., e o mesmo se refere à rede que desde carregá-la, descarregá-la, distribui-la no terreno, desenrolá-la, ligar cada rolo ao outro, esticá-la, pregá-la, enfim de tudo um pouco desta vedação me passou pelas mãos. Em qualquer dos casos, execução de plantação das árvores e da vedação não foi nada de extraordinário para mim na medida em que trabalhei cerca de nove anos nesta actividade em infindáveis hectares de árvores plantados e incontáveis quilómetros de rede iniciados e concluídos.
Pelo
que o que tornou este projecto em particular digno de eu o ter fotografado e no
dia de hoje em concreto foi o facto de que inclusive após já ter passado por
ali alguma que outra vez após o mesmo projecto concluído sem que isso me
disse-se algo de significativo, de resto como quando passo junto doutros
projectos equivalentes em que trabalhei e em que sem me ter esquecido de tal facto, no
entanto muitas ou mesmo mais das vezes quando me dou conta já deixei os mesmos para trás sem sequer me
ter apercebido disso _ no fundo sou também um tanto distraído, vulgo lunático. Além ainda de que cada vez sou menos saudosista e/ou
nostálgico do passado recente e/ou remoto, preferindo ou necessitando
naturalmente aproveitar o melhor e o pior do passado como referência para um
presente e um futuro melhores, desde logo procurando evitar o pior e procurando
cultivar o melhor, mas deixando o passando por si só onde lhe pertence que é
entregue a si mesmo. Mas hoje foi especial. Era já fim de tarde, o sol cada vez
mais baixo, a luz a bater perpendicular, a estrada deserta e de repente
enquanto circulava ao lado do projecto bateu-me uma nostalgia que já após ter
passado os limites do próprio projecto não evitei parar o carro e voltar para
trás. Senti que tinha de parar ao menos uns minutos e tendo a máquina fotográfica
comigo não consegui tão pouco evitar fazer umas fotos. Sendo que após voltar
para trás e estacionar o carro na berma da estrada, houve ainda algo mais a
aguçar a minha nostalgia que foi o facto de que só se ouvia o chilrear dos
pássaros e o atrito da leve brisa nos ouvidos, como que estando pessoal e humanamente sozinho ao cair da tarde num local em que vivi momentos relativamente intensos em companhia doutras pessoas e ao serviço duma pessoa em concreto, por norma a partir do inicio da manhã e durante as intermédias horas de cada dia em que ali trabalhei, aguçando ainda mais a
minha sensibilidade do momento, fazendo de toda aquela conjunção de factores e
naquele momento algo particularmente nostálgico, a ponto de eu ter revivido com
uma intensidade extra os dias que por ali trabalhei e a companhia das pessoas com
quem o fiz, como jamais me sucedeu em qualquer outro lugar semelhante ou
equivalente e que foram muitos, que ainda por um motivo ou outro, com uns a deixarem-me
mais recordações que outros. E mas este se não o era já, a partir de hoje tornou-se
um dos mais significativos não só a nível de recordação do mesmo, mas também e mais ineditamente a este nível de nostalgia.
Algo
para com o que definitivamente contribuiu um factor decisivo que foi a pessoa
ao serviço da qual trabalhei naquele local, inclusive pessoa que nem era de
acompanhar os trabalhos muito directamente de perto, mas que salvo rara
equitativa excepção aquele projecto acompanhou-o mais de perto que a qualquer outro, em
todo o tempo que trabalhei para a pessoa em causa, cerca de três anos. E que sendo
a pessoa em causa relativamente jovem, pouco mais velha que eu, no entanto já
não se encontra entre nós, devido a de todo inesperada e lamentavelmente ter
falecido às assassinas mãos dum seu respectivo funcionário, no caso e se assim
se pode dizer meu ex.colega, porque entretanto eu já não estava a trabalhar na
empresa, mas mesmo quando comigo ainda ao serviço da empresa e enquanto tal com
esse ainda colega, o mesmo tinha um estatuto significativamente diverso do meu
dentro da empresa, digamos que tinha um estatuto de muito maior
responsabilidade e de mais proximidade ao patrão do que eu. E quando eu, de
entre uma série doutros colegas saí(mos) da empresa, por momentânea falta de
trabalho para tantos funcionários, cerca de vinte à altura, foi ainda com a
possibilidade de voltar a trabalhar na mesma. Mas entretanto com o fatídico
desaparecimento do patrão, ainda que tendo ficado as filhas do respectivo à
frente da empresa e sem absoluto desprimor algum para com estas últimas, se acaso
até bem pelo contrário, no entanto mesmo que esse regresso se concretiza-se ou
concretize já nunca seria ou será a mesma coisa, que independentemente de ser melhor ou pior, será sempre diferente e haverá já sempre um antes e um depois muito substancial, até por com o factor fatídico de entre meio,
que entretanto e ainda por cima tendo-me apanhado esse fatídico acontecimento fora da empresa na altura da sua ocorrência, logo sem que eu vivesse a natural transição por dentro, pelo que agora e ao menos para mim seria e será já sempre
uma outra coisa, se assim se pode dizer uma outra empresa, apesar de no fundo
ser a mesma.
E
não digo tudo isto num sentido cínico ou hipócrita de elogiar o falecido só porque é
falecido, até porque com mais ou menos razão de parte a parte, assumo que ainda
que raras vezes no entanto nem sempre concordámos um com o outro e isto quando
eu sou muito interpessoalmente reservado e o respectivo mesmo que conferindo natural responsabilidade também deixava muito
espaço aos seus funcionários, como no caso eu. Pelo que digo-o sim porque na tarde de hoje, que fala
por si só ao respeito, houve um momento em que me cheguei a emocionar mais do
que é comum, inclusive sem jamais deixar de haver uma significativa carga emocional enquanto por ali
me mantive, tão só por estar naquele lugar onde inclusive um dos dias e numa
determinada circunstancia do meu trabalho ali e ao seu serviço não concordei com ele como patrão, ainda que tendo-lhe obedecido
eu enquanto funcionário, mesmo que no final a minha perspectiva tenha prevalecido por
posterior interferência doutro funcionário com mais influente peso que eu dentro da empresa e face ao patrão, enquanto interferência esta última alheia a mim e mas coincidente com a minha perspectiva ao respeito, face ao patrão. Na circunstancia ao
invés ainda do que alguma outra vez em algum outro trabalho em que ele patrão me corrigiu com
toda a razão da sua parte e/ou ainda alguma que outra vez em que a razão era partilhada a partir
de perspectivas diversas e mas complementares de entre nós. Tudo isto para dizer que nem sempre tudo são ou têm de ser só "rosas", até porque não existem "rosas" sem "espinhos", para que no balanço final das recordações sejam global e essencialmente positivas, como neste caso em que ao menos para mim as recordações são de todo mais positivas que negativas, inclusive porque estas últimas dependeram mais de mim mesmo do que do exterior como por exemplo do patrão em concreto. Até porque eu estive de todo mais presente em corpo (físico) do que em alma (essência). Ainda que minha correspondente presença mais em corpo (físico) do que alma (essência), com base na que dei o melhor possível de mim enquanto tal, inclusive de forma abnegada e conclusivamente às custas da pouca saúde física que ainda me restava em especial ao nível da articulação dos joelhos e mas não só. Sendo que enquanto tal jamais me defendi positivamente a mim mesmo, até porque no caso defender-me positivamente a mim mesmo estava muito aquém e além do trabalho de subsistência na empresa aqui em causa ou em qualquer outra equivalente e/ou pró minha mera subsistência básica e imediata, dependente ou independentemente ainda desse subsistente trabalho em concreto ou não. A partir de que enquanto tal tão pouco poderia defender positivamente quem mais quer que fosse, como por exemplo a empresa aqui em causa e o respectivo patrão desta última, ao menos aquém e além de me disponibilizar de forma (fisicamente) abnegada/voluntariosa e/ou de forma mais pessoalmente esforçada e sofrível do que natural e espontânea, dum modo geral. Ainda que e/ou até porque _ subsistente, voluntariosa e/ou esforçada _ base esta última em que de resto e apesar de ou até por tudo sinto não ter ficado a dever o que quer que seja a quem quer que seja, salvo talvez a mim mesmo e por inerência à (minha) própria vida como e enquanto tal. De qualquer modo e nesta mesma sequencial base, devo ainda e por mim mesmo confessar que tão pouco jamais me senti tão prática e funcionalmente integrado na concreta empresa aqui em causa, enquanto integração no sentido da interacção
pessoal e social em geral e com o patrão em concreto, quanto por comparativo exemplo muitos
outros funcionários e enquanto tal meus respectivos colegas. Porque desde logo no
meu caso pessoal e salvo por exemplo ao nível do que e como (aqui) escrevo, de resto e norma geral
sou suficientemente reservado como para não criar grandes interactivos e equitativos laços
com quem quer que seja, inclusive ou acima de tudo com patrões com quem inclusive
prefiro manter a estatutariamente devida e respeitosa distância. Isto ainda que e/ou se tanto mais quando este patrão em concreto tratava genericamente connosco funcionários (quase) como se de familiares próximos ou íntimos a si próprio _ o que, curiosamente, refira-se no meu pessoal caso concreto me embaraçava mais do que me deixava à vontade perante e para com o respectivo (patrão).
Mas
que sem mais delongas, de entre outras recordações ao serviço desta empresa e com
aquele patrão em concreto, a partir de agora prefiro também ou acima de tudo ficar-me pela tarde de hoje(*) que falou e
valeu por si só no que a este assunto respeita: como seja eu sentir natural e
espontânea nostalgia do tempo em que trabalhava para uma pessoa(**) que no caso concreto me
fez sentir isso mesmo nostalgia, tendo-me de repente apercebido que entretanto
passaram cerca de dois anos e que para a frente nada mais será como antes, não
só porque o passado não se repete no literal sentido do termo, mas também porque no caso concreto já faltará eternamente sempre um dos elementos, que por si só era
o elemento central, o próprio patrão a serviço do qual trabalhei neste projecto aqui retratado.
Ficam
então as fotos que, para mim, mais que retratarem um local ou um momento,
retratam acima de tudo uma emoção: a minha nostalgia, isso sim, naquele local e
naquele momento.
Victor Barão
(*)
Hoje, refere-se ao momento e que comecei a escrever o transacto texto, agora já ontem 11-09-2015,
na media em que só o terminei de escrever na presente madrugada de hoje 12-09-2015, em
cujo respectivo final da manhã o estou finalmente a publicar após auto revê-lo e
seleccionar as fotos a integrar no mesmo.
(**) Ah! Que não revelo aqui o seu nome,
porque não sei até que ponto a sua família concordaria e aceitaria ou não(!?),
no fundo para não ferir eventuais e de todo legítimas susceptibilidades. Mas já agora refiro que o
mesmo era o maior empregador privado do concelho de onde sou natural, além dum dos maiores empregadores privados de toda a região envolvente
num raio de pelo menos uma centena de quilómetros. VB
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