domingo, fevereiro 19, 2012

Boa Fé


            Excelentíssimo senhor Primeiro-Ministro

            Até por mim mesmo, não quero ter à partida a má fé de acreditar que um gestor político e/ou público parta para o seu projecto de gestão, com mais ínfima intenção de prejudicar o respectivo bem público e/ou de se beneficiar unilateral, corporativa, partidária ou ideologicamente a si mesmo e aos seus, de todo ou sem mais.

            Ainda que dadas as circunstancias, muitas ou de todo demasiadas vezes, à chegada como mínimo eu termine com muitas dúvidas com relação a essa boa fé; até porque se por mais não for, como diz o ditado, tendencialmente: o poder vicia e corrompe ou pode corromper!

            Em toda a anterior sequência, pelo que já ouvi, inclusive a personalidades de cor partidária diversa, acerca da pessoa do Senhor Primeiro-Ministro actual Dr. º Pedro Passos Coelho, mas favorável à sua pessoa, sem qualquer ironia, quero mais do que nunca crer que o senhor tem a melhor das intenções pró públicas e nacionais com base nas medidas governativas que está a tomar, inclusive aquém e além duma dita Troika, enquanto tendo-se-nos esta última imposto por nossas sucessivas más governações do passado mais recente e mais remoto. 

            Mas a partir do que salvo o atrevimento, a ousadia, o pretensiosismo, a presunção, quiçá o devaneio, permita-se-me mesmo que indirecta, virtual ou hipoteticamente dizer três ou quatro coisinhas ao Senhor Primeiro-Ministro Pedro Passos Coelho (PPC) que é o seguinte:

            _ Primeiro, acho que o Senhor Primeiro-Ministro PPC entrou demasiadamente a matar ou melhor como que a pretender resolver, revolucionar ou como mais comummente de costuma dizer desde logo a nível político, a reformar o que e como nos é substancialmente inerente há séculos ou desde globalmente sempre. É que tanto ou mais que a questão política, económica ou financeira há questões sociais culturalmente enraizadas que não se resolvem dum dia para o outro, nem sequer duma geração para a outra, como por exemplo e como melhor das hipóteses ao nível dum certo desenrascanso e/ou como pior das hipóteses ao nível dum certo chico espertismo luso ou até latino que nos está subjacente, que inclusive nem meio século de arbitrária e repressiva ditadura conseguiram eliminar, que se acaso até acabaram por agudizar(!) e que a subsequente democracia tem sido o pasto em que esse desenrascanso e/ou chico espertismo se espraiou, em qualquer dos casos com os resultados que se puderam e podem constatar, enquanto desenrascanso e/ou chico espertismo que me parece ser sociocultualmente transversal, incluída a classe política!

            _ Segundo e até por directa sequência do anterior ou o Senhor Primeiro-Ministro PPC é duma massa, duma fibra e diria mesmo duma superioridade ética, moral e por si só política para se conseguir impor positiva e democraticamente enquanto tal, incluindo ainda de forma incontornável todos ou pelo menos a maioria daqueles que governativamente o rodeiam e/ou então para além de correr o risco de não ir longe enquanto Primeiro-Ministro e/ou como governante democrático, tanto pior se correndo ainda o risco de que a sua terapêutica acabe por agudizar a patologia, inclusive com risco de coma ou até de morte do paciente que é a própria nação. Claro que estou a ser um pouco dramático, mas tenho de levar todas as hipóteses até às últimas consequências, além de que dadas as circunstancias não sei se estarei a ser tão dramático assim!?

            _ Terceiro, entenderá o Senhor Primeiro-Ministro que com tudo isto não me limito a criticá-lo positiva ou negativamente a si, até porque o senhor tem ainda relativamente pouco tempo de governação, nem sequer a criticar qualquer dos seus antecessores sem mais, salvo no que à imagem e semelhança dos seus antecessores, também o senhor tenha prometido eleitoralmente uma coisa e não raro feito exactamente o inverso porque parece ter entrado na moda que um governo imediatamente após ser eleito acabar surpreendentemente a descobrir um país de tanga ou tanga que o valha!!!_ como pretexto para não se fazer o pró eleitoralmente prometido, se acaso até bem pelo contrário; em qualquer caso e acima de tudo prefiro, pretendo ou necessito criticar um culto social modo geral, de que eu mesmo sou parte integrante, mas de que também o Senhor Primeiro-Ministro PPC e os seus respectivos antecessores foram e são duma ou doutra forma não só partes integrantes, como até como partes integrantes de elite. Enquanto culto social modo geral, que mais uma vez regressando ao pretérito meio século de ditadura _ de que durante décadas foi dalgum modo tabu falar-se, porque uns estavam demasiado comprometidos com a pretérita e outros queriam esquece-la, enquanto tal de muitas formas e em muitos casos não se fez a devida catarse da respectiva _ em que regra geral poucos mais direitos havia do que o direito do respeitinho e/ou de obedecia arbitrária e incondicional às hierarquias superiores instituídas, quiçá como factor no mínimo parcial e (pró) compensatoriamente responsável por uma genérica reclamação de direitos democráticos, como se inerente a direitos não houvessem deveres, enquanto estes últimos de sobra na ditadura; enfim salvo sempre as devidas excepções que estarão mais ou menos próximas da regra ou não, o facto é que a mim me parece que vivemos num significativo ciclo de desequilíbrio e de disfuncionalismo, não só social quanto existencial, de que a classe política não é nem está de todo alheia, até bem pelo contrário.

           _Quarto, gostaria de chamar à atenção para o facto de quando se fala em nome do país, da pátria, da nação, etc., não só porque em nome de países, de pátrias e de nações já muitas barbaridades foram cometidas ao longa do história humana. Sendo ainda que a nível nacional interno ao falar-se de país, de pátria ou de nação nunca se sabe muito bem do que se está de facto a falar, senão veja-se os resultados de quem há décadas fala a e governa em nome do País!!! Por mim sempre que ouço, por exemplo pedir sacrifícios em nome do País, da Pátria ou da Nação, não posso cada vez mais deixar de ver o País dos gestores e dos geridos; dos ricos e dos pobres; dos protegidos e dos excluídos; dos doutores e dos outros; etc., etc., etc., sem que na verdade o deve e o haver entre sacrifícios e o benefício desses mesmos sacrifícios coincida própria, exacta ou proporcionalmente com o todo nacional, mas sim e muito mais com sacrifício para uns e benefícios para outros. De resto nuns casos até se sabe, mas noutros nem se sabe muito bem ou de todo para onde foram milhares de milhões de €uros que foram injectados pela comunidade Europeia e que durante uns anos ainda circularam na nosso economia!? E aqui sim vou ser irónico para dizer que seguramente foram os patriotas que tomaram ou estão a tomar conta desses mesmos milhares de milhões, possivelmente têm-nos a render em nome da Pátria! 

            _ Quinto e último, não creio que isto que eu aqui escrevo, sirva de grande ou mesmo do que quer que substancialmente seja a nível sociocultural, político e/ou nacional, até porque isso seria demasiado pretensiosismo da minha parte. Além de que com o mesmo não proponho própria e positivamente algo de novo ou de concreto, aquém e além de chamar a atenção do Senhor Primeiro Ministro PPC. Mas que ao derivar o presente dum meu pró vital, sanitário ou subsistente processo de auto gestão própria; pode que dalguma respectiva e ainda que só residual, pontual, circunstancial ou até enviesada forma acabe por o mesmo ser pró vital, sanitária ou subsistentemente útil a quem mais quer que seja(!); pois caso contrário, sem qualquer ironia, resta-me pedir sentido perdão por esta minha existência, desde logo a quem esta minha existência toque duma qualquer referente, influente ou consequente forma _ (desde a minha família até por eventual e remoto exemplo ao Senhor Primeiro-Ministro) _ , por mais ínfima, reflexa ou residual que seja essa forma!
            
           Salvo sempre o dever, a obrigação e/ou a responsabilidade de que quem é tocado, acabe por fazer com relação e/ou em sequência desse toque! 

            Confesso que não voto há anos. Não necessária ou absolutamente por ir para a praia, por simplesmente não querer saber ou porque me seja um incomodo, etc. Pelo que não o faço por duas ordens de razões fundamentais, primeiro por minha carência de convicção política/partidária e/ou até ideológica. O que nesta sequência e mal comparado seja, para mim ir votar é uma espécie de jogar um jogo de sorte ou de azar, salvo que ao nível político não raro com um vencedor previamente anunciado. Por outro lado, porque dadas as circunstancias em que uns quase seguramente jamais ganharão e outros que ganhando recorrentemente com base em promessas eleitorais, por vezes promessas demasiado pomposas ou megalómanas logo à partida, que cada vez menos cumprem à posterior e que quando cumprem é com os resultados conhecidos(!...); a partir de que para mim ir votar nestas circunstâncias é como que estar a enganar-me a mim mesmo. Sequência de que mais que não votar por motivos passivos ou comodistas, quiçá até bem pelo contrário, faço-o como um pró activo ou humano sinal de descontentamento, com a prática política e com os respectivos políticos, regra geral.


            Mas até assumindo aqui algum compromisso a esta nível, quiçá passe a ir votar nos mais fracos, independentemente de quem estes sejam a cada momento ou respectivo ciclo eleitoral, até enquanto mais fracos por (auto) identificação comigo mesmo, além de que os mais fortes têm sempre muitos votos garantidos logo à partida e assim ao votar nos mais fracos, fortalece-se dalgum modo o necessário contraditório democrático ou pelo menos pró democrático! Salvo para quem é totalitarista ou tem tendências totalitaristas, sendo que também eu gostaria que houvesse um governo e uma gestão política modo geral que fosse tão universal e transversalmente completa em si mesma, além de que sustentada por um culto social modo geral tão civicamente elevado que enquanto tal se vissem diluídas as divergências político-partidárias e/ou os contraditórios democráticos, mas já que parece estarmos muito longe de tal desidrato, a meu ver e sentir, nas circunstâncias em causa, o melhor mesmo é apoiar democrática ou pró democraticamente os mais fracos!...

            

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