quarta-feira, fevereiro 08, 2012

Emigração providencial

02-02-2012

Ia na tarde de ontem (01-02-2012) a ouvir na Antena1 da RDP, aquilo que, correctamente, eu designaria como uma reportagem radiofónica acerca de portugueses emigrados.

Estando a atravessar uma zona de serra, nem sempre consegui escutar como devido o que era dito, devido a intermitências na emissão, mas do que ouvi e entre outros casos, pude por exemplo aperceber-me do que creio ser um jovem arquitecto português, que não tendo conseguido encontrar saídas profissionais para a sua formação em Portugal, inclusive muitos dos seus colegas de curso que ficaram em Portugal ou estão em cíclicos e até por isso humilhantes estágios não remunerados ou estão no desemprego, sequência de que a muito custo por ter de deixar família, amigos e o território de origem, acabou este jovem(?) arquitecto por emigrar para a Alemanha, mais concretamente para Berlim; onde também segundo o próprio os arquitectos portugueses até gozam duma significativamente boa reputação.

Por outro lado e mais à frente entrou o caso dum casal português ex. emigrantes em França, que após muitos anos emigrados acabaram regressando a Portugal, onde abriram um restaurante, segundo consta de sucesso e segundo os próprios, trabalhando ao lado dos seus respectivos empregados, porque supostamente isso de dar uma de patrão só para andar dum lado para o outro, à partida está votado ao fracasso! Cujo um dos motivos que os levou a apostar num negócio próprio e em Portugal, foi um familiar ter-lhe dito que para andarem a trabalhar uma vida toda e muito, para outros, constatando que tinham valor para tal, porque não faze-lo para eles mesmos? Ao que os mesmos aquiesceram e que após o sucesso da aposta neles por eles mesmos, dizem agora que não é necessário ir para fora (para o estrangeiro) para ter sucesso, pois que com "bom" trabalho, o sucesso é possível mesmo em Portugal.

Por mim mesmo e fazendo o balanço de entre estes dois casos, mas pegando pelas conclusivas palavras deste último casal diria que:


_ Primeiro: caso os elementos deste casal não tivessem emigrado, eventualmente jamais descobririam que têm o valor que têm(!), até porque se assim não fosse não teriam jamais emigrado!

Segundo: lamentavelmente em Portugal as pessoas, os próprios portugueses temo-nos em baixa conta e/ou damo-nos muito pouco valor a nós mesmos. Desde logo porque as gerações mais velhas ainda vivas nasceram e cresceram num regime político/social interno que fez delas puras e duras analfabetas, incondicionalmente obedientes e/ou com muito respeitinho, cujo grande valor que tinham era mesmo o de obedecer (quase) incondicional e por norma arbitrariamente a uma infinidade de hierarquias superiores, que em grande medida ou em significativa escala eram as próprias hierarquias analfabetas quer literária quer vital e universalmente! Depois veio uma dita democracia, com respectiva aposta no ensino e/ou na educação democrática, como seja socialmente transversal, só que parece que a coisa não correu ou não está ainda a correr assim tão bem, porque desde logo grande parte dos doutores, engenheiros, arquitectos e afins parecem não ter colocação, dalgum modo como que não servindo anos de esforço dos próprios, das suas famílias e do próprio País, como se tudo não passa-se duma imensa e aparentemente infinita disfuncionalidade interna!

Terceiro e último: quiçá agora que os próprios responsáveis governativos, incluindo o senhor primeiro ministro, entre outras individualidades começam a aconselhar os portugueses a emigrar, o que não será necessário, porque como sempre a necessidade dos próprios os levará ou não a tal. Mas que após emigrarem e trabalharem duro e forte lá fora, sendo devidamente valorizados e remunerados por isso, quiçá voltem a Portugal com o produto material do seu trabalho no exterior e/ou como no caso do casal atrás referido, também com o conhecimento não só técnico, como também substancial e intrínseco do seu valor, acabando por enriquecer o País de fora para dentro, que não em e por si só. É lamentável esta nossa triste sina ou este nosso triste fado, mas é o que temos e com o que podemos contar _ salvo as devidas excepções internas pela positiva, que até por mim mesmo que jamais emigrei, talvez até por falta de coragem para tal, gostaria de não ter de o fazer, respectivamente espero as positivas excepções internas sejam cada vez mais a norma e cada vez menos a excepção! Ainda que no que a mim particular e unilateralmente toca seria e/ou será demasiado pretensiosismo da minha querer fazer parte das positivas excepções, inclusive para que as mesmas sejam cada vez menos a excepção e mas sim cada vez mais a regra _ salvo que de entre a semi objectiva ou subjectiva pressão para emigrar e a minha teimosia ou se acaso a minha covardia para o fazer, não me reste mais ou melhor que apostar em mim próprio, mesmo que muitas vezes não saiba como, quanto, nem porque e para quê o fazer!? Restando-me pouco mais ou nada que auto assumir-me como e enquanto tal, tentando na sequência auto subsistir desde logo em e a mim próprio, mas também a muito do que e de quem me rodeia, de e para com o que escrever coisas como esta me acaba sendo pró vital, sanitária, subsistente ou absolutamente providencial!


E entretanto, até em nome da Pátria e/ou da Globalização, em qualquer dos casos, que viva a Emigração!

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