quinta-feira, fevereiro 23, 2012

É pena


            Com todos os seus naturais defeitos e virtudes, eu que até sou profundo admirador da interna democracia multicultural e multiracial Estado Unidense, inclusive e por força das circunstâncias cresci em substancial parte a nível democrático sob a referência democrática dos EUA, na respectiva sequência lamento profundamente que por obra e acção dalguns seus pseudo heróis e/ou justiceiros, os Estados Unidos estejam a perder externamente a sua multicultural e multiracial superioridade moral e democrática, no caso concreto e mais recente com a alegada queima do livro sagrado do Alcorão em pleno Afeganistão. Um pouco ao estilo de combater a injustiça com uma injustiça igual ou maior ainda; é de facto profundamente lamentável; ainda que se possa minimamente entender que militares em zona de combate e/ou em terreno potencialmente hostil, como no Afeganistão, na respectiva tensão dum determinado momento possam tender a excessos com relação ao inimigo, mas quando esses excessos por vezes são cometidos friamente, com exemplo em algumas humilhantes torturas e/ou infâmias como por vezes se tem constatado em alguns vídeos que têm vindo a público, poucas desculpas se possam arranjar ao menos para os directos autores morais e materiais de mesmas ditas humilhantes torturas e/ou infâmias. O que nesta última acepção não sei se foi friamente o caso da alegada queima do Alcorão, mas que em associação a outros episódios idênticos está a minar gradual e se acaso irreversivelmente a imagem e a superioridade moral verdadeiramente multicultural e multiracialmente democrática dos Estados Unidos no mundo, até porque a nível externo os Estados Unidos jamais tiveram um política (pró) democraticamente linear ou coerente, por exemplo quando isso lhe interessa-se particular ou unilateralmente senão apoiando, pelo menos fechando olhos a algumas ditaduras no mundo e não será necessário apresentar exemplos concretos (...)(*) _ mesmo que a nível interno a democracia multicultural e multirracial se conserve mínima ou até crescentemente vigente, inclusive quando está em exercício o primeiro Presidente negro nos Estados Unidos.

            Pelo que estar-se a perder externamente esse superior estatuto multicultural e multiracial democrático, é triste, penoso e mais uma vez profundamente lamentável.

            A injustiça, desde logo a nível auto defensivo e até para não se cair em sub ou sobrevalorização do outro com todas as causas, efeitos e consequência sub e sobre inerentes, combate-se antes, durante e depois do mais com o respeito e a consideração pelo outro, desde logo pelo injusto; é que para actos injusta, provocatória, violenta ou degradantemente humilhantes e infames já temos por irónico exemplo os radicais islâmicos...  

            ...mas parece que cada vez mais, também vice-versa...

            ... como que num potencial Far-West global, em que tanto ou mais que olho por olho e dente por dente acabe por imperar a simples lei do mais forte; sabendo-se de antemão que humana e universalmente o mais forte nunca é eternamente o mais forte por si só e enquanto tal _ tanto mais se exercendo o seu poder com base na razão da força e não na força da razão!...

            ...a verdadeira fortaleza advém do todo ou da interacção entre o todo e o uno, que não do uno em e por si só, sem mais; até talvez ou seguramente por isso os EUA sejam a confederação de Estados mais poderosa do globo desde há décadas, enquanto precisamente na sua democrática multiculturalidade e multiracialidade interna, naturalmente que com todas as virtudes e defeitos inerentes. O que lamentavelmente parece estar a perder-se a nível da interacção dos EUA ou pelo menos dalguns dos seus representativos elementos com o exterior ou com o cultural, racial ou religiosamente diverso, com prejuízo para o todo. È pena.

(*) ...mesmo que em significativa parte isso se tenha passado num contexto de "guerra fria" em que a democracia interna dos EUA se sentia, mais ou menos justificativamente, ameaçada por ditaduras externas. Mas a partir do que não se pode dizer que se faz ou deixa de fazer isto ou aquilo outro em nome do bem próximo ou da libertação dos povos, quando pode não ser só isso ou em algum que outro caso, mesmo de todo isso. Que já agora quanto aos detractores dos EUA, em regra não se julguem (muito) positiva ou universalmente melhores, porque não raro o não são. No fundo somos uma humanidade e vivemos num mundo em que por norma cada qual individual, cultural, nacional ou existencialmente, etc., defende os seus unilaterais ou corporativos  interesses e o outro ou os restantes, salvo no que este(s) ultimo(s) interesse(m) ao(s) primeiro(s), de resto como se diz na minha terra: "Que se lixem!..."  

            

2 comentários:

  1. Caro amigo.Não vou fazer um comentário directo a esta tua publicação,Excelente e sempre actual.Contudo cabe-me tecer algumas notas na mesma linha.
    Sigo como posso, o menos que desejaria, a nossa situação Politico/Social actual,uma vez inseridos numa conjectura deveras desfavorável,fruto de uma crise mundial(segundo dizem).Crise de valores e de modelos de governação que nos levaram para este descalabro obrigando-nos só a cumprir, mas não a usufrir de certos previlégios que nalguns países são regra.Senão vejamos: Trabalhamos mais horas, mas os vencimentos são menores.Estamos à frente na área da tecnologia, mas continuamos anos à espera de uma operação ou de uma decisão jurídica.Muitos dos politicos de à 30 anos ainda se mantêm por cá.Alguns ainda tomam decisões governamentais outros estão a receber os favores nas empresas públicas por terem estado no governo.Somos uma europa moribunda. E nós sofremos atacados por essa doença.Resta-nos uma solução:Pegamos na fantástica ideia de Saramago e desagregamo-nos da Península, logo da europa.Passamos a "jangada de pedra"à deriva, na realidade já o somos.E nós o "ZÉ" os estorninhos que na exemplar dita obra, esvoaçam para rumo incerto.Depois nem a Interpol nos vale.Podem continuar a "sacar" já que ás forças policiais retiram os meios.Depois não chove, logo não temos água para apagar o nosso incêndio.De qualquer modo, nem os bombeiros nos ajudariam já que padecem de falta de meios para repararem as viaturas e nem combustível têm para sairem dos quarteis.Se ninguém nos acode, vamos acabar "sacados",com a jangada de pedra à deriva no atlântico e em chamas como nos antigos ataques aos navios de piratas.
    Já vi este filme:só que em comparação era um pequeno bote.Lembram-se:(Piratas das caraíbas ou Titanic)???

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    1. Até por uma questão de ter passado anos (décadas) a interiorizar sem por norma exteriorizar, agora e de há algum significativo tempo a esta parte, talvez ou seguramente por uma minha disfuncionalidade inter-pessoal e social própria, como que num eterno desequilíbrio entre interiorização e exteriorização, acabo por estar presentemente numa fase de muito maior ou quase esmagadoramente mais de exteriorização do que interiorização, pelo que se por um culturalmente deficiente lado não li ainda qualquer obra de Saramago e logo as citadas em concreto, por outro lado e pelas presentes citações de Saramago no comentário do Mário em associação a uma genérica ideia que eu tenho da sua obra literária (de Saramago) sou tentado a dizer que será a Obra dum visionário e permanentemente actual, nesta última acepção, salvo até que a humanidade e a respectiva sociedade humana passe(mos) para um estágio existencial, vital e universalmente superior, que apesar de não querer ser pessimista, enquanto algo (pessimista) de que por exemplo já ouvi ser qualificado José Saramago, no entanto (estágio existencialmente superior) de que me perece a mim pessoalmente a minha respectiva humanidade estar ainda muito efectivamente distante, mesmo que potencialmente tão perto, quanto desde logo e salvo excepcionais anómalias individuais ou colectivas, dentro de cada qual e respectiva ou complementarmente de entre uns e outros!...

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