terça-feira, fevereiro 21, 2012

Circunstancial/providencial

            Nasci e comecei a crescer num mundo ou ao menos num contexto sociocultural perfeito, até porque por princípio desde a mais tenra idade sempre que eu me sentia incomodado ou indignado com algo, especialmente se algo, que implicasse o status ou uma infinidade de superiores hierarquias envolventes, tanto mais ainda se enquanto eu criança, num contexto e/ou status envolvente em que o simples facto de se ser criança há altura _ até talvez pela inconveniente ingenuidade e espontaneidade infantil _ já não se tinha valor enquanto tal, tanto pior ainda se enquanto criança pobre. Seja que sentir-me incomodado ou indignado com algo que me envolvesse, por (quase) literal norma, quem estava mal ou errado era eu.

            Entretanto impôs-se um regime dito de democrático em que todas as pretéritas perfeições, verdades absolutas, superioridades incontestáveis e/ou os status envolventes como melhor das hipóteses começaram a estar e a ficar em causa, quando não mesmo anulada(o)s. Sendo que por esta altura já me tendo a mim mesmo significativamente em causa, fiquei como que sem ter ao que ou a quem me agarrar, como um princípio, um meio ou um objectivo de vida coerente ou absolutamente sólido.

            Passei então a agarrar-me referente, influente e consequentemente ao que e a quem se me aparentasse com um mínimo de positividade, de coerência, de objectividade, em alguns casos ao que me era agradável como por exemplo a música e a arte em geral.

            De entre o que circunstancial ou providencialmente me auto assumi pela negativa ou como positivamente inócuo e enquanto tal me auto anulei activa, prática e funcionalmente a mim mesmo e passei a absorver tudo o que e quem me era, por assim sucintamente dizer: positiva, vital ou universalmente inspirador, o que podia e pode ir do vizinho do lado ao maior mito humano de todos os tempos; do acto de subsistência mais básico até ao maior feito artístico ou humano; do mendigo que apesar de e/ou até por tudo resiste ao seu infortúnio até à personalidade mais bem sucedida na vida; da vida natural selvagem à mais sofisticada existência humana; etc., etc., etc., sendo que por positiva insegurança própria tendi a identificar-me com a vertente mais negativa ou desafortunada da vida, à vez que procurando equivaler-me à vertente mais positiva ou afortunada da vida; até que um dia, mesmo que contra todas as probabilidades me vi na intermédia contingência de começar a escrever como minha pró vital, sanitária ou subsistente necessidade própria e agora me vejo na circunstancial ou providencial necessidade de expor o que e como escrevo ao exterior, enquanto tendo eu circunstancial ou providencialmente na escrita a minha maior, melhor quando não mesmo única forma de expressão e de existência própria... 

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