segunda-feira, outubro 26, 2015

Fraude

            Pessoalmente não gosto muito de escrever e/ou pior ainda se de expor o que escrevo acerca deste tipo de assunto na medida em que o mesmo implica factores tão complexos, multifacetados e não raro contraditórios que quanto mais escrevo ao respeito mais sinto e até mesmo constato que muito mais fica por escrever/dizer. Sequência de que particularizando um pouco mais, diria que tão pouco e muito menos ainda me apetece analisar a situação política nacional do ponto de vista meramente interno. Até porque isso coincidiria com enredar-me na politiquice partidária interna, que é algo transversal a todos os partidos sem qualquer excepção e que, salvo alguns minimamente positivos e coerentes factores, de resto e na sua global essência inclui demasiadas contradições, incoerências, cinismos, hipocrisias, por mais e pior não dizer. Depois ainda o que tenho essencialmente para aqui dizer, inclui confessamente muitas limitações (linguísticas, argumentativas, racionais, intelectuais, académicas, culturais, etc.,) da minha unilateral parte pessoal, face a algo que transcende em muito o mero contexto nacional interno e tanto mais se a mim próprio. Mas em que mesmo dentro das minhas limitações inerentes, não consigo nem quero evitar a necessidade de escrever o possível ao respeito. E tendo precisamente como ponto de partida o contexto nacional interno, que na actual situação política, com incontornável extensão económica e social, se pode resumir como de indefinição quanto ao governo que vingará em sequência das recentes eleições legislativas, ainda que e/ou até porque tenha sido recentemente anunciado pelo Sr. Presidente da Republica que no imediato será governamentalmente empossada a coligação social-democrata e populista PàF, constituída pelos partidos PSD e CDS/PP, enquanto esta vencedora minoritária das correspondentes eleições legislativas recentes. Mas a partir de que enquanto esta última vencedora minoritária, num contexto da vida política, económica e social interna, por assim dizer, delicadamente crítica e fracturante, a ponto de neste último caso não ter sido concedida maioria absoluta democrática a qualquer partido ou coligação a eleições, levando no entanto a que pós eleitoralmente e no caso também pós anuncio presidencial de concessão governativa à coligação PàF, a respectiva e enquanto tal maioritária oposição composta pelo PS, pela coligação PCP/PEV(CDU) e pelo BE, que no seu global conjunto formam uma maioria parlamentar que já disse e redisse não deixar passar o governo de coligação minoritária social-democrata e populista (PSD e CDS/PP) no parlamento. Inclusive tendo já, pós eleitoralmente, a conjuntural maioria parlamentar PS, CDU e BE se auto proposto em coligação ou pelo menos em conivência de entre as forças partidárias inerentes a governar o país, no caso com o PS como titular da governação, algo a que no entanto e como já referido atrás numa primeira instância o Sr. Presidente da República se opôs _ por si só ao indigitar a coligação PàF (PSD e CDS/PP) a formar governo. Dando tudo isto lugar a uma situação de impasse ou pelo menos de significativa expectativa quanto ao imediato futuro político do País, já que vai ser empossado um governo que segundo se prevê não passará no parlamento.

            A partir de que, tirando questões de pormenor e/ou de mais ou menos directa e imediata submissão aos mercantis ditames liberais, de resto, digo eu: o que interessa se em Portugal é o PSD, o CDS/PP, o PS, o PCP/PEV(CDU), o BE ou qualquer outro partido político a governar a sós ou em coligação(!?), quando no actual e globalizante contexto mundial é o ideal liberal, materializado nos ditos mercados económicos/financeiros, quem dita as correspondentes regras do respectivo jogo económico/financeiro e por inerência também político e social geral, ainda que ideal liberal este que nenhum dos partidos políticos internos professa em si mesmo. Mesmo que quando, salvo as efectivas ou eventuais devidas e dissidentes excepções, como a Islândia(!?), de resto e enquanto tal é o ideal liberal de base mercantilista quem tem globalmente tanto transcendente poder na actualidade, quando e por quanto foram os ditos de auto-regulados mercados, em associação ou dissociação aos governos e/ou às sociedades de cada nação, os respectivos grandes responsáveis pela grave crise económica/financeira e respectivamente também política e social internacional; sendo no entanto os mesmos mercados a (auto) gerir a respectiva crise por eles próprios criada, com dita (auto) gestão em nome de saída dessa mesma crise, em qualquer dos casos e como tal com os mercados liberais sempre no topo do comando económico, financeiro, político e social global. Pelo que a verdadeira social-democracia, o verdadeiro socialismo, tanto mais se o verdadeiro comunismo, nas presentes mercantis circunstâncias globais liberais, como melhor das hipóteses só faz/em sentido como oposição e nunca como governo de qualquer nação. Sequência de que não havendo nenhum partido assumidamente liberal em Portugal, qualquer opção governativa que a nível nacional interno se proponha democraticamente a governar, dependente ou independentemente de com um pouco mais ou menos de austeridade imposta pelos mercados e/ou auto assumida pelos governos internos, acaba sendo sempre uma opção democraticamente fraudulenta. Isto porque à falta duma assumida força política liberal interna, que enquanto tal concorra e vença umas eleições democráticas, de resto qualquer democrática governação possível será sempre com base e em nome da social-democracia, do populismo, do socialismo, do comunismo, etc., enquanto estas últimas como as partidárias forças políticas internas disponíveis e enquanto tais extra ou mesmo contra liberalmente. Ainda que na prática terão sempre de executar uma governação pró liberal ou pelo menos sob os ditames dos globais mercados liberais, perante quem Portugal está crescente e/ou cronicamente endividado. Seja que resumidamente com base na enorme e inclusive crescente ou já crónica divida económica/financeira nacional face aos mercados, o que qualquer governo interno, já seja ele de caris social-democrata, socialista ou qualquer outro, terminará tendo de fazer será sempre e duma ou doutra forma subjugar-se ou aliar-se a estes mesmos mercados liberais globais, que enquanto tal nos são reiteradamente, crescentes e/ou já crónicos, credores nacionais.
            Sequência de que salvo se queira alternativamente entrar em guerra aberta e/ou em auto isolacionismo nacional face ao global exterior liberal mercantilista, o que ao menos ou acima de tudo socialmente não sucede em Portugal, nem na Europa e dalgum modo até no Mundo dum modo geral. E que inclusive onde isso, de entrar em guerra aberta ou em auto isolacionismo face aos mercados, parecia querer suceder, como na Grécia, acabou por, como se sabe, não se concretizar de facto. Isto porque, digo eu, desde logo e por um lado há que assumir as consequências políticas e sociais duma guerra aberta e/ou dum auto isolacionismo explicito face à grande Ordem Mundial, que no caso é o mercantilista liberalismo económico e financeiro global que transcende em muito cada Estado nacional, tanto mais se Estados pequenos, pobres e sobre endividados como o Português, pelo que combater isso ou dissidir disso parece ser algo que quem quer que seja pode ou pelo menos consegue terminar de fazer _ salvo a Islândia(!?). Ou se por outro inverso lado quando há que assumir abertamente a consonância política e social com a mesma dita grande Ordem Mundial de mercantilista essência económica/financeira liberal, o que ao nível da base social-democrata, populista ou socialista europeia e portuguesa em concreto, isso acaba sendo uma pura e dura fraude política e social democrática, na medida em que a social-democracia, o populismo, o socialismo e em especial o comunismo não são liberalismo económico/financeiro, ainda que e/ou até porque este último seja, por assim dizer, quem mais ordena, inclusive em Portugal onde não há nenhum partido assumidamente liberal. Seja que quando os mais diversos governos europeus e no caso de Portugal em concreto são global e essencialmente de base social-democrata, populista ou socialista, logo se qualquer deles a governar (pró ou sob) desígnio liberal mercantilista, mas em democrático e eleitoralista nome social-democrata, populista, socialista e/ou tanto mais se comunista é e será sempre uma fraude enquanto tal. Como por exemplo fez a coligação PàF nos últimos quatro anos, inclusive sob o absoluto lema de que “não há outro caminho possível” _ que não o de em conclusão prosseguir e se acaso até ultrapassar os liberais ditames dos mercados _, ainda que no caso da coligação PàF sob mista coligação de identidade social-democrata (PSD) e populista (CDS/PP). Ou ainda como, em grande medida, se propõe agora fazer o próprio socialismo por via do PS, que neste último caso e pasme-se em coligação ou pelo menos com o conivente apoio comunista (PCP/PEV _ CDU) e bloquista (BE), enquanto estes últimos como derradeiro e residual reduto de oposição mais acerrimamente explicita ao liberalismo. Enfim, salvo mais uma vez se queira entrar em guerra aberta e/ou em auto isolacionismo político e social face ao mercantilista liberalismo global, enquanto algo que a generalidade política e social parece não crer, nem mesmo em Portugal onde essa generalidade política e social é essencialmente social-democrata e socialista, que no entanto e no seu conjunto foi a mesma que ao menos politicamente endividou o País face aos mercados liberais. E que como tal sente a correspondente necessidade de auto assumir as respectivas responsabilidades por isso, submetendo-se ou pelo menos colando-se aos mercados, aquém e além dalguns membros ditos de sociais-democratas e/ou socialistas serem eles mesmo pró liberais(!?). De entre o que em qualquer caso acaba por haver é um liberalismo, fraudulentamente, travestido de diversas formas e cores, como designadamente das cores e das formas social-democrata, populista, socialista e se acaso até comunista; isto especialmente em países como Portugal onde não existe nenhum partido liberal para concorrer a eleições democráticas e se em acaso de correspondente vitória eleitoral assumir as correspondentes rédeas governativas democráticas, enquanto tal sim em democraticamente legítima consonância com o liberalismo global, ao que, no caso, também  Portugal em concreto parece não poder escapar, já seja sob sigla expressamente liberal e democraticamente legítima ou não. Dalgum ilustrativamente grosseiro modo é como que quer se aceite e goste ou não da morte, o incontornável e fatal facto é que não se pode escapar à influência, até por Universal e conclusiva inevitabilidade, da mesma. 
            E assim sendo quando a grande Ordem Mundial(*) actual e por um indeterminado futuro é mesmo a do mercantilista liberalismo económico/financeiro global, perante a que por si só e devido a uma diversidade de más opções de cariz económico/financeiro a partir de gestões políticas, empresarias ou particulares que levaram a uma redundante dívida em vez de a uma dívida positivamente temporária e estruturante que se resolve-se a si mesma com base no, por assim dizer, projecto ou ideal político, empresarial e particular que lhe deu origem; o facto é que de entre outros também Portugal está devedor até raiz dos cabelos perante os mercados de que enquanto tal é refém, sem grande margem de, democraticamente, coerente manobra para sociais-democracias, socialismos e menos ainda comunismos e afins. De entre o que, até bem longe disso, não tendo vencido clara ou maioritariamente as eleições democráticas nenhuma das forças políticas de explicita rotura com o liberalismo económico/financeiro como o PCP e o BE, que enquanto tal teriam de assumir uma guerra aberta ou um auto isolacionismo face aos mercados globais, com todas as consequências inerentes, como a exemplo da Grécia(!!!); nem por outro lado havendo em Portugal nenhuma força política assumidamente liberal que enquanto tal vença umas eleições democráticas, logo tudo o que resta é a grande fraude de, salvo com mais ou menos medidas de austeridade, ter de se terminar governando liberalmente ou ao menos sob imposição económica/financeira liberal global, ainda que em pró democraticamente eleitoralista nome da social-democracia, do socialismo, do populismo e agora parece que também do comunismo e afins.
 
            Tudo isto, num Portugal, com a sua população geral a assistir de duas grandes perspectivas que, com uma diversidade de intermédias variantes, a meu ver são: por um lado os militantes ou simpatizantes partidários que duma perspectiva quase clubística, sejam quais forem as circunstâncias, se dizem sociais-democratas, socialistas, comunistas, etc., com a sua cor e/ou ideologia política/partidária sempre correcta e a outra ou diversa sempre errada; e por outro lado os que como, designadamente eu mesmo, por assim dizer, me assumo neutro da perspectiva meramente partidária, e que como tal assisto a todo o jogo político partidário, nas presentes e descritas circunstancias em causa, com significativa perplexidade e não raro mesmo com indignação, enquanto jogo político partidário de conclusiva submissão e/ou colagem ao mercantilismo liberal, ainda que em democraticamente eleitoralista nome da social-democracia, do populismo, do socialismo e se acaso até do comunismo, já que quem quer que seja se assume como liberal e vence eleições democráticas como tal. Sendo ainda que personalizando tudo isto em mim, diria e digo que: por um lado é bem verdade que o meu contributo pessoal para o bem e/ou para a riqueza nacional é algo modestamente residual, por norma ao serviço doutréns e a um nível muito básico e rudimentar _ ainda que dando o melhor de mim enquanto tal, no limite até á consciente custa da minha saúde; no entanto e por outro lado não é menos verdade que também não contribui nem contribuo directa, activa e menos ainda irresponsável e inconsequentemente para o mal e/ou na circunstancia para a imensa dívida nacional face aos liberais mercados globais _ ainda que de diversas formas também eu tenha de pagar as consequências económicas, financeiras, políticas e sociais dessa mesma dívida. Isso sim, quando em qualquer caso e desde logo pela minha vida e/ou subsistência própria, apesar de e/ou até por tudo procurando eu ser o mais positivo, construtivo, criativo e produtivo possível, por mais difícil, complexo, por si só austero e/ou aparentemente impossível que não raro ou mesmo em regra isso se me apresente ou aparente, inclusive quando por mim próprio não passo dum mero ser básico e rudimentar, muitas vezes perdido de mim mesmo e da própria vida, mas tanto mais e pior se no circunstancial genérico contexto de democrática fraude e/ou indefinição política e social interna, face ao, na circunstancia, liberal mercantilismo global.  
                                                                                              Victor Barão
           
            (*) Não sei até que ponto estarei a ser demasiado simplista ao designar o liberalismo económico/financeiro ou numa palavra o neoliberalismo como a grande Ordem Mundial actual e de futuro…; mas o facto é que os ditos mercados económico/financeiros liberais, enquanto credores de Estados, de Empresas, de Indivíduos, etc., são também por assim dizer quem mais Ordena actual e globalmente.