domingo, junho 18, 2017

Tragédia, natural e humana


            Tomando como base e mas não como foco central a presente tragédia do vigente incêndio em Pedrógão Grande (Pedrógão) _ Leiria, de momento já com 62 mortos e cerca de 60 feridos confirmados. Começo por dizer que esta temática dos incêndios florestais me é algo muito caro, na medida em que desde logo para além dos prejuízos materiais e humanos, no limite com mortes e feridos, implica de diversas directas e indirectas formas com a própria vertente biológica e climática, na medida em que os incêndios florestais não só destroem o pulmão natural que é a floresta com consequências a prazo, como no imediato por via do oxigénio queimado e do dióxido de carbono libertado contribui um pouco mais para o aquecimento global. O que por seu turno contribui para condições naturais, desde logo climáticas, propícias a mais e mais graves incêndios florestais. Uma espécie de cíclica e redundante tempestade perfeita, não raro e em qualquer dos casos de origem humana. O que traduzido ao nível nacional português, primeiro e mais remotamente incluiu a alteração da floresta virgem, para uma floresta ou mesmo para uma não floresta de fundamento pró agro-pecuário humano, que por seu mais recente turno derivado do abandono e respectiva crescente desertificação humana do interior rural (agro-pecuário e florestal) nas últimas décadas, levou também a uma respectiva floresta desordenada, o que com base na prévia influência humana não raro coincide com um desordenamento florestal baseado em espécimes altamente voláteis, como o próprio pinhal e/ou em matos e silvados rasteiros não menos voláteis. Ao que se ainda se adicionar que a esmagadora maioria dos incêndios florestais derivam de negligente ou criminosa mão humana. Quer-me no mínimo a mim parecer que os milhares de milhões que se gastam ano atrás ano na prevenção e combate a incêndios florestais neste global contexto, não sendo de todo positivamente inconsequentes, no entanto e se por si sós, sem muito mais e melhor, parecem-me também ser uma muito significativa, por não dizer mesmo pura e dura aberração, dum modo geral. Aliás a este nível dos milhares de milhões gastos em alegada prevenção e alegado combate a incêndios florestais, como já referi em algum outro escrito ao respeito, em especial nas últimas duas ou três décadas me parecem conter algo de tão mais e na melhor das hipóteses dúbio, quanto paradoxalmente a esse bilionário cada vez parece haver quantitativamente mais e qualitativamente maiores incêndios florestais. O que se torna tão mais dúbio ainda quando simples populares, não bombeiros, nem elementos pertencentes ao todo alegadamente especializado mecanismo da Protecção Civil, acabam esses mesmos populares dominando o fogo por si sós e sem mais, junto das suas casas e respectivas zonas residências, inclusive depois de terem recebido ordem oficial da Protecção Civil para abandonarem as suas próprias casas e locais de residência para assim se protegerem do alegadamente imparável fogo!   

            E digo o que digo no anterior parágrafo, desde logo derivado de relatos históricos no que à evolução florestal respeita e depois no que ao corrente e paradoxal fenómeno de prevenção e combate a incêndios florestais das últimas décadas, que neste ultimo caso resulta inversamente ao propagado. E atenção que mais uma vez não tomo o neste momento ainda agravadamente activo em múltiplas frentes, que é o malogrado incêndio de Pedrógão, segundo confirmado pelas autoridades competentes como de origem natural, com correspondente alto prejuízo natural e humano, que desde logo quando há prejuízo natural, biológico e climático, quase invariavelmente sempre haverá também duma ou doutra directa ou indirecta forma prejuízo humano, sendo que neste incêndio de Pedrógão o prejuízo humano é desde logo directo e imediato, com desproporcionado numero de mortos, feridos, destruição de bens (habitações, veículos automóveis, propriedades, etc.). Incluindo ainda tudo o mais que normalmente envolve qualquer outro incêndio florestal, desde a sua origem, passando pela sua sustentação, até à sua prevenção e ao seu combate, etc., mas em que também e acima de tudo por isso o meu foco não vá-a aqui para o incêndio de Pedrógão, nas suas causas, efeitos e consequências que falam já por si sós, nos seus números e respectivas conclusões oficiais, indo então sim o meu foco para o fenómeno incendiário florestal em si mesmo dum modo geral, que em Portugal e durante anos está até a bater todos os lamentáveis recordes qualitativos e quantitativos a homologo nível Europeu, o que por exemplo nas por si sós primeiras vinte e quatro horas de actividade do, de momento, corrente incêndio de Pedrógão, segundo o próprio Sr. Primeiro-Ministro, a partir da sede da Protecção Civil em Oeiras, chegou a incluir mais de cento e cinquenta incêndios activos a nível nacional ao mesmo tempo, a que há pouco numa reportagem televisiva se confirmavam haver de momento ainda trinta e oito incêndios florestais activos a nível nacional. Em qualquer dos casos paralelamente ao próprio e fatalmente vigente incêndio de Pedrógão. O que no seu global conjunto multi-incendiário, para além de obstar a uma maior disponibilidade de meios nacionais para o combate à enorme e de todo anormal desproporcionalidade que está a ser este último incêndio de Pedrógão, é também ainda dita paralela multiplicidade incendiária ao mesmo tempo, regra geral durante todo o Verão e ano atrás ano, uma pura e trágica loucura em qualquer parte do mundo, mais ainda se num País relativamente pequeno como Portugal. Fazendo do que podia e devia ser uma lamentável excepção, uma verdadeira e trágica norma corrente. Se a tudo isto adicionar-mos o circo mediático pró prevenção ou pós cobertura dos próprios incêndios, sem uma vez mais e sempre esquecer os milhares de milhões despendidos em alegada prevenção e combate a incêndios florestais por parte das entidades oficias: políticas, protecção civil, etc., então a loucura parece ser maior ainda.  

            Sendo então conclusivamente tudo isto duma tristeza humana (perda de vidas e de património) e tristeza natural (perda de diversidade biológica e de saúde climática) inauditas, tão só a nível nacional, pior se adicionarmos o resto do planeta, em especial ao nível doutras regiões onde haja o que arder e as condições naturais e climáticas para tal, como em certas regiões dos EUA, da Austrália, do restante Sul Europeu, etc., em qualquer dos casos com não rara associação a negligente ou criminosa acção humana; pelo que em especial nesta última e pejorativa acepção humana, nas respectivas circunstâncias em causa me leva (quase) sempre a uma marcante frase que há muito li ou ouvi algures, que foi e é: _ “a humanidade é o cancro do Planeta”. Com respectivamente, digo eu, incontornável reflexo de retorno sobre a própria humanidade. O que até por (im)perfeita inerência natural, sabendo eu que há tumores benignos e malignos, prefiro então pensar que em genérico resumo final a humanidade seja um tumor planetário mais benigno que maligno; mas que sob e sobre muitos aspectos, como por si só o dos incêndios florestais, com todas as suas, causas, efeitos e consequências, não raro de directa e efectiva ou indirecta e potencial origem e sustentação humana, chego a recear que a minha benigna preferência não passe duma mera ilusão pessoal, face ao factos concretos e/ou à minha mais transversal humanidade.

            Pelo que finalmente com particular pesar pela destruição natural e pelas subsequentemente concretas vítimas humanas, que neste último caso por eventual genérica norma nada têm directamente que ver com a tragédia incendiária, em alguns casos até bem pelo contrário sendo-o enquanto no combate esta última, como no caso de bombeiros que actuam por benigna convicção contra o fogo ou de meros populares que apenas pretendem defender os bens que lhes levou toda uma vida a adquirir ou construir, além ainda que quem tão só circunstancial e desafortunadamente é apanhado na trágica voracidade do fogo, independentemente da origem e sustentação mais humana ou mais natural, mas pior se mais humana, deste último.

                                                                                              VB  

22/06/2107 Acabo de fazer uma breve revisão no texto acima, por um lado corrigindo algum pormenor linguístico para melhor entendimento e mas também para actualizar algum pormenor derivado do desenvolver das circunstancias inerentes ao incêndio de Pedrógão, com extensão a muitos outros. Sendo que há um pormenor da maior importância e que como tal eu designaria como um pormaior que é a confirmação ou não de que ao invés do que oficialmente se alegou de inicio, no entanto cada vez mais se fala que afinal o fogo de Pedrógão não terá tido origem natural numa trovoada seca, mas sim em acção humana duas ou três horas prévias à própria trovoada; sendo que a confirmar-se esta última hipótese, o melhor titulo para este texto seria então mesmo o de "Humanidade, o cancro do Planeta", já seja pela origem, pela sustentação, pela incompetência na prevenção e no combate ao fogo, apesar de todos os humanos que benignamente ainda previnem e combatem de facto o fogo, aquém e além de teorias e/ou de interesses que têm que ver com tudo menos com efectiva prevenção e concreto combate ao fogo, sem naturalmente excluir todas as formas de restantes formas de hostil agressão humana à saúde planetária.