terça-feira, agosto 09, 2016

Nojo


            Já aqui escrevi a respeito dos crónicos e sazonais incêndios florestais, que ano após ano destroem o meio ambiente natural, além de património humano e com muita pena minha não consigo evitar voltar a fazê-lo, escrever ao respeito. Na presente circunstância para dizer que:

            Até porque, além do património humano, a própria biodiversidade (fauna e flora, incluído o clima) natural me é algo muito caro e a sua respectiva destruição dolorosamente lamentável; logo e se tanto quanto possível, nesta respectiva fase do ano (Verão) evito sequer ver os noticiários televisivos, porque as notícias relativas a incêndios florestais são recorrentes, múltiplas, contínuas e em certa medida até, como mínimo, ridiculamente sensacionalistas. Mas como duma ou doutra forma e num ou noutro momento não consigo evitar ver essas mesmas notícias, além de que tão pouco tenho por objectivo “meter a cabeça na areia” face à realidade concreta, ainda que para isso tão pouco necessite de estar a ver a mesma e tanto pior se ridiculamente sensacionalista história repetida uma e outra vez, resta-me no entanto e enquanto tal dizer que mete-me nojo, profundo e crescente nojo tudo o relacionado com os incêndios florestais e a forma mediática como os mesmos são tratados. Desde logo dando-se essencialmente e acima de tudo o calor climático como o grande responsável dos incêndios florestais, quando de facto o calor climático é apenas e indirectamente um factor contribuinte para esses incêndios, enquanto segundo revelam estudos científicos e de resto é como mínimo intuível por e para qualquer vulgar cidadão comum, como eu, que o grande responsável pelos incêndios florestais é o próprio ser humano, já seja por pura e negligente ignorância ou por pura e criminosa malvadez.

            Mas em qualquer caso e acima de tudo o que também e em certa medida até mais me enoja é a imensa indústria que entretanto se instituiu em torno dos incêndios florestais. No caso uma indústria que envolve milhões na prevenção e no combate aos incêndios florestais, além de muitos outros milhões na divulgação mediática dessa prevenção e desse do combate aos mesmos incêndios florestais; ainda que curiosa e ironicamente quantos mais milhões despendidos, quer na prevenção, quer no combate, quer ainda na divulgação mediática dessa mesma prevenção e desse mesmo combate, parece no entanto e paradoxalmente que mais e maiores incêndios florestais há, ano após ano. E atenção que quando, em termos de nojo, falo na prevenção e acima de tudo no combate a incêndios florestais não me refiro propriamente aos operacionais de base, a começar logo nos bombeiros, entre outros, que arriscam a saúde e a vida em especial nesse concreto combate, refiro-me sim a toda uma cultura e respectiva estrutura organizativa inerente que absorve e inclusive exige crescentes meios e respectivos orçamentos milionários, mas que pegando em comparativos dados históricos, parece não só não funcionar como se acaso até ser contraproducente, no mínimo ao nível preventivo, além de que também ao nível do combate parece que nem sempre nem de todo corre tudo como devido, a destacado exemplo do que pela voz do próprio presidente da Liga de Bombeiros Portugueses sucedeu há meia dúzia de anos atrás num grande incêndio na Serra do Caldeirão no Algarve. 

            A partir de que a espectacularmente perversa “cereja no topo do bolo” parece-me a mim ser a também ainda redundantemente espectacular divulgação mediática do por si só espectacular combate a esses mesmos incêndios florestais e dos em si mesmos, não menos e até crescentemente, espectaculares meios técnicos e humanos envolvidos. Aliás no relativo ao espectacular circo da divulgação mediática do fenómeno incendiário, antes mesmo de haver qualquer incêndio, começam logo umas diárias e digo eu ridiculamente designadas de preventivas previsões de incêndio, que incluem até uns cromáticos códigos (...amarelo, laranja, etc.,) segundo a gravidade da previsão, tendo por base as condições climáticas (temperatura, humidade do ar, etc.,) como se por si só estas últimas fossem ou sejam o grande e principal factor para os incêndios florestais, dalgum mesmo que indirecto modo, como que tomando as condições climáticas como a grande norma para a existência de incêndios florestais. Quando todos os factos levam a crer, e sem medo das palavras digo eu mesmo, que essa norma esta na própria cultura, mente e acção humana, inclusive e se acaso derivada do circo mediático e institucional genericamente gerado em torno do incêndios florestais, desde logo tomando por base o próprio paradoxo de que quanto mais preventivas previsões mediáticas, mais respectivos meios de prevenção e de combate a incêndios, também mais quantitativa e qualitativamente graves incêndios parece haver. O que resumida, reiterada e para eventual bem dos meus, mais ou menos poderosos, detractores ao respeito, também sempre humildemente da minha parte, me parece mais uma vez a mim ser acima tudo e cada vez mais um espectáculo tão solidamente instituído quanto toda a restante e inerente indústria envolvente _ já seja esta última a um nível mais pró benévolo, ainda que no mínimo aparentemente infrutífero enquanto tal, designadamente ao mais indirecto nível dos meios de prevenção e de combate aos incêndios florestais, incluindo ainda a respectiva divulgação mediática desses mesmos meios; ou já seja a um nível mais malévolo, como por exemplo nalguns eventuais interesses económicos ou outros, directamente derivados dos e/ou para com os mesmos incêndios florestais e seus respectivos autores. Mas de entre o que em qualquer dos casos e na circunstancia andam, múltipla e crescentemente, muitos milhões, perdão, muitos interesses, mais ou menos directa ou indirecta e benévola ou malevolamente envolvidos. Tudo quando, para mim, os incêndios enquanto tais e os incêndios florestais em particular são pura e simplesmente para ser evitados e/ou para ser combatidos sem mais, por si só sem grandes e/ou se acaso sem absolutas divulgações, desde logo mediáticas. Mas isso tem que ver com questões culturais, civilizacionais e/ou por si só Vitais/Universais, que em grande media estão até nos antípodas da cultura, da civilização e/ou por si só da Vital/Universal (in)consciência, essencialmente (pró) materialista e sensacionalista, humana actual, no presente caso também com relação a este fenómeno dos incêndios florestais em particular e concreto.

            Global sequência de entre o que lamento tanto mais o fenómeno dos incêndios florestais, quando e porquanto tendo eu mesmo de estar uma vez mais a falar/escrever ao respeito, no meu caso, por pró descompressiva via do que isso me revolta e enoja. Pelo que em resumo final prefiro em absoluto, a abrir e a fechar este meu texto, deixar duas respectivas imagens fotográficas _ de direitos autorais livres _ contendo essas mesmas imagens o que na presente circunstancia e a todos os lamentáveis níveis, os respectivos incêndios florestais recorrente, continua e parece que crescentemente destroem, ano após ano, não só em Portugal quanto no Mundo, ainda que no que mais directa e particularmente me toca, que é Portugal em concreto. Inclusive quando Portugal, que segundo rezam as próprias crónicas oficiais e mediáticas, mesmo enquanto país relativamente pequeno, parece estar a bater todos os recordes a nível Europeu, quer em número de incêndios, quer de respectiva área ardida.

          VB