quarta-feira, março 28, 2018

Porreirismo

           Numa sequência de auto-gestão pessoal e existencial própria da minha parte, tendo por base a realidade da vida, a partir de vivencialmente me ter habituado a colocar tudo e todos positiva, coerente, sociocultural e existencialmente em causa, a começar e terminar por mim mesmo, cujo qualquer meu processo de aprendizagem de vida e de viver se passou a basear na minha própria vivência prática e/ou na minha contemplativa observação da prática vivência do meio envolvente a mim, tanto mais se com este último referente, influente e consequentemente para com e sobre mim, o que em qualquer dos casos à cautela me levou a tender auto isolar-me e/ou a passivizar-me prática, interactiva e funcionalmente o mais possível. Logo a seguinte história é paradigma do que podia e pode, tal como de resto levava e leva a que eu tende-se e tenda a evitar o mais possível a vida social, ainda que a partir do que reflexiva, contemplativa, meditativa e por si só auto-gestionadamente vou aprendendo de entre minha vivência própria e a minha observação da vivência envolvente a mim, de qualquer modo e em qualquer dos casos com exemplificação na seguinte história, também pode ser uma das portas que me traga ou leve a reentrar na vida social a um nível transversalmente positivo para mim e para o meio envolvente a mim, em qualquer caso a partir de mim e mas com base no exterior a mim e/ou vice-versa. Já agora devendo eu acrescentar que o factor porreirismo do titulo acima, é um factor, mais ou menos, socioculturalmente transversal, aquém e além de meras situações de transito automóvel, como a que está na base do que porreirisitamente se segue:  

           Há já uns anos, numa saída nocturna com um amigo pessoal, estando eu com o meu carro, chegados ao nosso destino estacionei o carro em local de estacionamento paralelo ao sentido da via (rua) urbana, enquanto do outro lado também havia estacionamento automóvel e mas perpendicular ao sentido dessa mesma via (rua). Tudo isto na proximidade de diversos estabelecimentos comerciais, ditos de comes e bebes: restaurantes, cafés, pastelarias, bares. Sendo que antes mesmo de eu e o amigo que me acompanhava entrarmos em qualquer dos estabelecimentos em causa, acabamos por dar de caras com mais dois amigos comuns, que com relação a mim eram mais conhecidos, ainda que enquanto amigos do amigo que me acompanhava, por assim dizer: amigo de amigo, meu amigo é! Cujos esses outros dois amigos saiam precisamente dum dos estabelecimentos comerciais em causa, como seja que os mesmos iam, enquanto nós chegávamos, por isso tendo entre os quatro ficado a conversar uns minutos em plena rua, na proximidade do estacionamento, vulgo a poucos metros de onde eu deixara o meu carro estacionado e com respectiva vista directa para o mesmo.

            Quando eis que precisa e paralelamente a coincidir com a anterior sequência, saiu um senhor dum dos estabelecimentos em causa, cujo esse mesmo senhor estava não só alcoolizado, como mesmo e acima de tudo estava obviamente embriagado, pois que a mais ou menos cada passo em frente dava dois para os lados. Pelo que numa primeira instância sequer me passou pela cabeça que o senhor fosse conduzir um automóvel. Mas no caso não só ia e foi conduzir um automóvel, quanto esse automóvel estava no estacionamento perpendicular à via, precisamente na justa direcção do meu próprio carro estacionado no lado inverso da via e paralelo à mesma. Pelo que quando me apercebi que o senhor ia conduzir o carro estacionado directamente perpendicular ao meu, recordo de ainda ter dito algo como: _ “o melhor será eu tirar o carro dali!”; mas logo e pelo menos um dos amigos disse algo como: _ “não vale a pena tirares o carro, porque esse _ referindo-se ao senhor embriagado _ está habituado a conduzir bêbado, por isso já não bate nem numa parede!”, pelo que tão renitente quanto estupidamente acatei a observação de ao menos um dos meus interlocutores, com dalgum modo aprovação dos restantes. E digo estupidamente, também porque precisamente o senhor embriagado ao arrancar com o seu carro em marcha a trás a fim de sair do estacionamento perpendicular à via, sem fazer a mais mínima mudança de direcção e nem travar, acabou por ir directamente embater no meu carro estacionado no outro lado da via. E como se isso não bastasse, talvez porque o senhor condutor embriagado pensasse que nenhum de nós ali presentes era dono do carro em que batera, logo procurou arrancar já em marcha frontal, só que o seu próprio estado de embriagues não o deixou ter a suficiente reflexa desenvoltura, o que associado ao facto de eu estar muito próximo, me levou a correr e bater-lhe no tejadilho do carro para que o mesmo parasse. E assim foi, o senhor parou e tendo deixado o carro mal estacionado/parado encima da faixa de rodagem, perguntou: _ o que se passava? E eu correspondi-lhe de imediato, com algo como: _ “o estado de bebedeira é assim tanto que nem se aperceba que bateu no carro alheio?!. O senhor resmungou algo, que já não recordo, mas acabou por sair do carro, tendo então eu, o próprio senhor condutor embriagado e mais os meus três amigos, nos dirigido ao meu carro a ver o estrago produzido pela batida. Que a bem da verdade, ao ser o meu carro da altura um rijo Fiat127 Super, com apenas duas portas e tendo a pancada sido precisamente na extremidade (batente) entre onde começava e terminava a porta do condutor, acabou por amolgar, mas não o suficiente como para que por exemplo a porta tivesse deixado de abrir ou de fechar. Mas eu não pude deixar de dizer/perguntar: _ “então e agora como é que se resolve este problema?!”, ao que o senhor embriagado, apesar de todas aquelas testemunhas do ocorrido, aludindo à amolgadura na porta se voltou para mim e disse: _ “isso se calhar já estava assim!”. Não tendo sido algo que eu ouvisse sem de imediato corresponder com: _ “aí o senhor dá uma pancada de todo o tamanho em carro alheio, perante várias testemunhas, dando a entender que não se apercebeu de bater e quando confrontado com a realidade, armado em esperto, ainda me está a tentar desmentir; pois então resolvemos já o problema!”. Cuja esta minha última observação correspondeu a eu pegar no telemóvel para ligar à autoridade policial local (GNR). Só que aqui entraram os meus três amigos e interlocutores originais, dizendo-me mais insistentemente dois deles, referindo-se ao senhor condutor embriagado, que eu conhecia apenas de vista: _ “é pá, deixa lá o tipo, que ele é emigrante e está a dias de ir de novo, se bem recordo, para a Suíça.”, mas até porque entretanto quem tinha uma pancada no carro, derivada da bebedeira alheia era eu, ainda repliquei com argumentos como: _ “pois se assim é, o senhor é que devia ter o cuidado de ser ele a procurar evitar problemas!”. Mas os meus amigos insistiram: _ “deixa-o lá, afinal de contas a amolgadela da porta tão pouco é muito grande e se vais fazer queixa dele lixas-lhe a vida!”. Enfim, um certo complacente e no limite mesmo ridículo ou irracional porreirismo, que inclusive se costuma taxar de porreirismo nacional. A que no caso eu acabei por aceder, desde logo com meu prejuízo material próprio. Mas o pior nem foi o meu prejuízo material derivado da amolgadura no carro, que de resto ficou para enquanto restante vida do carro, pois que o pior veio imediatamente após eu ter deixado o senhor condutor embriagado ir embora, a conduzir no respectivo estado de óbvia embriagues em que estava. 

            Como seja que a partir daí, até por numa base auto-gestiva da minha parte, em sequência de me ter habituado a colocar tudo e todos sociocultural e existencialmente em causa, a começar e terminar por mim mesmo, cuja minha verdadeira aprendizagem da vida e de viver se processava e ainda processa com base na mais crua, dura e quente ou fria realidade da própria vida, com tudo o que objectiva e subjectivamente isso seja ou signifique, designadamente de entre mim e o meio envolvente a mim, também respectivamente e ao menos numa primeira instância, devo agora confessar que à altura e naquelas circunstancias fui mais que suficientemente simplista, ingénuo, por si só ridícula e irracionalmente porreirista _ vulgo porreiristamente correcto _ ao ter deixado o senhor condutor embriagado seguir viagem sem ter eu chamado a autoridade policial e/ou então sem eu tomar alguma medida própria, como por exemplo forçar o senhor a ir para casa de táxi, em troca de eu não chamar a autoridade policial. Pois que se num primeiro momento, enquanto eu instado pelos meus três amigos/interlocutores originais em associação a minha torpeza interpessoal e social, acabei por deixar o senhor condutor embriagado seguir viagem, tão pouco foi necessário mais do que um dois ou três minutos após para que eu caísse numa realidade mental/consciente própria, que foi auto colocar-me a hipótese do senhor condutor embriagado acabar por poder ter algum acidente no percurso até sua casa, para onde alegadamente seguiu viagem sob efeito do álcool. Pior ainda se esse possível acidente tivesse graves consequências pessoais e humanas para o próprio, mas infinita e diria mesmo indescritivelmente pior ainda era a hipóteses do senhor ser causador dum possível acidente que envolvesse graves consequências para terceiros, no limite para uma família inteira, o que como todo/as duma ou doutra forma sabemos já tem acontecido, em absoluto mais do que o devido. A partir de que, vivendo o senhor embriagado a cerca de dez minutos em carro em velocidade normal/legal, a partir do local de onde eu o deixara seguir viagem, também e enquanto não passou pelo menos uma hora, sem que eu visse passar a autoridade policial e/ou as autoridades sanitárias, em qualquer dos casos assinalando marcha de emergência, com possibilidade disso suceder derivado a possível ou efectivo acidente automóvel provocado pelo condutor embriagado em causa, também durante pelo menos essa primeira hora consecutiva foi como se repetidas injecções de gelo me percorressem as veias, a espinha dorsal e/ou sem que a minha cabeça conseguisse pensar em algo mais ou melhor _ que neste último caso bem mesmo pelo contrário, quanto mais promissoramente animador era o ambiente envolvente a mim naquela momento, tanto mais mal eu me sentia comigo mesmo.

            Felizmente que nessa mesma noite nada mais de anormal se passou, desde logo ao nível de trânsito local. Mas o mesmo senhor condutor embriagado que eu, porreiro, deixara insensatamente seguir viagem naquela noite em que o mesmo batera no meu carro, salvo erro, cerca de meio ano após, acabou esse mesmo senhor condutor por falecer num respectivo acidente automóvel, no mesmo percurso de entre a sua residência e o local de onde naquela prévia noite eu o deixara seguir viagem. Que sem prejuízo da infelicidade do próprio, tão pouco posso deixar de acima de tudo dizer: felizmente que, mesmo já não me envolvendo directa ou indirectamente a mim, nesta segunda ocasião o senhor tão pouco embateu em nenhum outro veiculo com seus respectivo/s ocupante/s. Levando-me conclusivamente a crer que o meu absurdo porreirismo de uns meses antes não aqueceu, nem arrefeceu para o violentamente triste destino final daquele senhor; salvo que se na primeira ocasião eu tivesse de facto assumido a anti-porreiraça medida, mais drástica, que teria sido eu chamar a autoridade policial, em directa sequência daquele senhor ter embatido no meu carro por inerência do seu óbvio estado de embriagues, quiçá uns meses após o mesmo eventualmente estivesse com a carta de condução legalmente apreendida e como tal não teria falecido no posterior acidente em que de facto faleceu!? Ainda que isso tão pouco fosse garantia do senhor mais tarde ou mais cedo acabar mesmo por falecer de acidente automóvel, eventualmente numa posterior ocasião face aquela em que efectivamente faleceu com até possível envolvimento doutros veículos e seus respectivos ocupantes; como de resto todos que conduzimos estamos sujeitos a que nos aconteça, bater noutros ou ser batidos por outros, só que uns procuramos o mais possível evitar a concretização de tal possibilidade, enquanto outros parece que procuram antecipar o mais possível essa mesma concretização, cujo pior mesmo é quando isso envolve terceiros, no limite mesmo inocentes famílias inteiras, onde então o porreirismo só sabe pseudo-benévola e moralmente lamentar a sorte ou no caso o azar dos acidentados!   

VB 

Nota: Tudo o anterior ocorreu-me em directa sequência duma situação actualmente vigente, acerca da que até pela sua ainda parcial vigência actual a não devo expor aqui, mas que por exemplo da minha parte está, positivamente, nos antípodas do porreirismo descrito acima. Seja que se actualmente estou a ser "porreiro" é por confrontar as pessoas positiva e construtivamente, ao invés de as deixar errar sucessiva e/ou agravadamente, sem que em qualquer dos casos eu faça ou diga consequentemente o que quer que seja, por receio de "magoar" ou "prejudicar" outréns, quando não raro essa/es outréns já se estão a prejudicar a si mesma/os, com consequentes reflexos no exterior, no caso concreto em e sobre mim.                   

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