segunda-feira, março 09, 2015

Inveja vs convicção moral

           Tenho andado com pouca motivação para a escrita ou mais concretamente para escrever coisas publicáveis. Mas por vezes, como no caso que se segue, não posso evitar!...

            Há três dias atrás entrei num Snack-bar a fim de comer uma frugal refeição, na hora de almoço duma acção de formação de COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E TÉCNICAS DE PROCURA DE EMPREGO – FORMAÇÃO TRANSVERSAL de acordo com a(s) unidade(s) de formação de curta duração (UFCD), por parte do IEFP. No caso uma acção de formação no âmbito da minha inscrição no IEFP como desempregado, ainda que por auto opção própria eu não esteja a receber qualquer subsídio do Estado e inclusive auto abdiquei da ajuda relativa ao transporte para com frequência da acção de formação em causa. Seja que dalgum modo estou ao arrepio do que tem sido prática dalgumas individualidades da alta política, mas dum ou outro modo também da generalidade da sociedade. Designadamente quando cada qual procura absorver todos os recursos do Estado licitamente disponíveis, mas ao que segundo parece não raro até também de forma ilícita.
            E precisamente após entrar no Snack-bar em causa, das quatro pessoas presentes, com uma delas tenho algum nível de conhecimento já há alguns anos, pelo menos para saber que a mesma faz parte integrante da função pública(*). Não sei se a conversa entre as pessoas em causa já vinha de trás ou se só iniciou após eu entrar, o facto é que após eu ter desejado boa-tarde a todos os presentes e cumprimentado duma forma mais pessoal essa dita pessoa que é funcionária pública e que eu conheço um pouco melhor que as três restantes _ que já agora das quatro individualidades em causa três eram do género masculino e uma do género feminino, mas com a conversa a decorrer essencialmente entre os indivíduos do género masculino. Em que na sequência do meu cumprimento aos presentes, essa pessoa com quem tenho um pouco mais de conhecimento ao ver-me ali perguntou-me: _ “então onde trabalhas agora?” Ao que mais ou menos naturalmente lhe correspondi: _ “ de momento estou desempregado e ando a frequentar um pequeno curso de formação!”  
            Como já referi, não sei até ponto a conversa já vinha de trás ou não(!?), mas após eu terminar de dizer que estava desempregado e a frequentar um pequeno curso de formação, o individuo funcionário público que eu melhor conhecia, por assim dizer, desembainhou a espada e entrou num longo e exaustivo monólogo que só terminou quando alguns longos minutos depois o mesmo teve de se ir embora. Cuja sua primeira reacção e recorrente mote para tudo o que se seguiu foi a seguinte: _ “pois uns andam a roubar como esse Sócrates, esse Passos Coelho, mais outros e a agente que pague!”; “por mim é forçar essa cambada a devolver o que roubaram, depois abrir uma vala e um tiro nos cornos de cada um e não prisões de luxo para essa cambada!”; “eu se falhar um mês com a prestação da casa tiram-me tudo e esses filhos de puta fazem e roubam tudo quanto querem e pouco ou nada lhes acontece, nem os obrigam a devolver o que roubaram!” Enfim a base do extenso e redundante monólogo era esta e por mais que se concordassem ou discordasse do senhor este continuava com o seu discurso inflamado e inclusive com gestos convictos de colocar a arma à cara e dar um tiro na cabeça de cada um.  
            Tudo isto e da minha parte para dizer que eu concordei com o mesmo no que a desiguais e enquanto tal injustas formas como pelo menos até há pouco tempo atrás a justiça tratava as elites face às bases sociais e concordei também com o facto do mesmo dizer que quem rouba deve devolver o que roubou tão imediatamente quanto seja descoberto, ao que acrescentei ainda que o pior castigo que se pode dar a quem rouba ou é autor de actos de corrupção é precisamente fazer devolver os bens adquiridos sob tais ilegítimas formas e respectivamente cumprir a lei, a começar por prisão, mas também discordei do senhor, no que a dar um tiro na cabeça alheia diz respeito, em especial no sequencial contexto em causa, quando segundo se sabe ou como mínimo se intui que a corrupção, o trafico de influências, o compadrio e afins é social e publicamente transversal. E depois acho eu que será necessário ser-se duma superioridade moral absolutamente intocável, como para ir tão longe quanto dar um tiro na cabeça alheia, quando a desonestidade é mais ou menos publica/socialmente transversal, aquém e além de mais ou menos generalizadas ou não. Pelo que ou aquele funcionário público em concreto é absolutamente leal, honesto e competente quer técnica, quer moralmente no trabalho e na vida social, para poder falar com todo aquele ímpeto em local público acerca das desonestidades alheias e dos castigos que segundo o próprio essas mesmas desonestidades lhe merecem, como nada mais nada menos que conclusivamente “dar um tiro na cabeça de quem as comete”. Sendo que eu mesmo, que inclusive tendo legitimo direito a prestação de Fundo de Desemprego, a ajudas de custo de transporte para com frequência dum pequeno curso de formação por parte do IEFP para comigo, no entanto auto abdiquei(**) dessas benesses, pelo que por si só e enquanto tal não posso deixar de me sentir indignado e/ou mesmo ofendido por as classes políticas e/ou sociais médias-altas, que deveriam dar o exemplo serem no entanto as primeiras a prevaricar, mas no entanto acho mais que devia ser o Estado de Direito a funcionar de forma verdadeiramente Universal, que não um pseudo Estado de Direito a funcionar mais e melhor para uns que para outros, quer no que se refere a castigos quer no que se refere a benesses. E depois dar um tiro na cabeça alheia é um acto, mesmo que punitivo, radical e como historicamente se sabe os radicalismos nem sempre nem de todo foram ou melhores exemplos morais e/ou outros; além de que como já referi atrás as desonestidades públicas/sociais são transversais e não exclusivas das elites, das classes médias ou das classes inferiores.
            De resto o incendiado monólogo daquele meu conhecido e funcionário público, que no entanto desconheço até que ponto o mesmo é tão mais superiormente honesto como para poder falar em dar um tiro nos cornos dos desonestos, no entanto e enquanto tal fez-me recordar um episódio que se passou há uns meses trás, quando também após eu e mais alguns colegas de trabalho termos entrado num outro determinado estabelecimento de restauração para almoçar, no caso enquanto eu ainda em contexto de trabalho demos de caras com uma longa mesa com cerca de dez ou mais indivíduos do género masculino a almoçar. Eu reconheci dois desses indivíduos a quem cumprimentei de forma pessoal, os restantes não reconheci de todo, mas alguns vim a saber mais tarde quem eram, mas de entre os que eu já conhecia e os que vim a conhecer posteriormente havia desde um construtor civil, um pedreiro, um ex. PSP, um ex. GNR, etc., etc.. Todos falavam alto e algo inflamadamente, defendia-se a reinstituição do Estado Novo e dum novo “Salazar”, no limite matava-se e feria-se daqui e dali. Nada daquela conversa era directamente comigo ou com qualquer dos meus colegas presentes e de resto na mesa em que nos sentamos para almoçar eu até fiquei de costas para a bancada com todos aqueles senhores a falar alto e inflamadamente a cerca das desonestidades alheias. E precisamente enquanto falando aqueles senhores para que todos em redor ouvissem, tornando dalguma forma todos os envolventes participes da sua inflamada conversa, houve um momento em que eu não resisti a intervir, designadamente desmontando argumentativamente algumas contradições, inclusive dizendo que Salazar pode não ter roubado o País, mas seguramente roubou o povo em nome de determinadas elites; além de que regimes ditatoriais já sejam de cariz político, civil, militar, religioso ou outro regra geral tendem a submeter os povos que governam à obediência (quase) incondicional, por si só à dependência das elites instituídas, para que estas se imponham e governem a seu belo prazer; não raro remetendo as massas à ignorância universal; sem esquecer ainda que por exemplo ao tempo de Salazar e por si só dentro do seu regime ditatorial já havia gente desonesta e eu sei-o por conhecimento de casos próximos; além de todas as frequentemente infames ou mesmo criminosas descriminações das classes ditatorialmente dominantes sobre as classes dominadas. Inclusive dei o exemplo de empresários portugueses que ao terem-se instalado na Roménia enquanto país governado ditatorialmente durante décadas, notaram que o povo romeno é trabalhador, mas em regra só funciona sob permanente supervisão superior, já que foi ditatorialmente destituído de iniciativa própria _ dalgum modo à imagem e semelhança de Portugal após décadas de ditatorial domino do Estado Novo de Salazar, o que de resto ainda estamos a pagar de momento e continuaremos a pagar por mais alguns indeterminados anos. Enfim, não sei bem como definir a minha interferência mas curiosamente e ao contrário do que à partida eu mesmo consegui prever, numa bancada composta por cerca de dez individualidades, algumas com idade para serem meus pais e outros com uma carreira profissional com que eu nem consigo (já) sequer sonhar, como que ficaram apaticamente sem pio, inclusive alguns acabaram concordando dalgum modo comigo com expressões do tipo: “... visto dessa forma, até tem a sua razão de ser!” e houve mesmo um dos que eu já conhecia que no relativo ás desonestidades das elites políticas que os mesmos ali criticavam à mesa acabou por dizer: _ “bem se a gente estivesse no lugar deles _ dos governantes políticos _ se calhar fazíamos igual a eles!”  
            O que nesta última acepção em concreto me leva a concluir que muitas vezes e em muitos casos me parece que se fala mais por inveja do que por convicção moral. Que já agora o pelintra do Zé povinho de que eu mesmo sou parte integrante por vezes tende a pensar que cometer uma “pelintra” desonestidade, está perdoada por si só ou perante as “elitistas” desonestidades, seja que há muito quem de forma absolutamente errónea pense que roubar/desviar 5€ é menos grave que roubar/desviar 5000 ou 5.000.000 de €uros..., inclusive erróneo porque leva a pressupor que quem “pelintramente” roubou/desviou 5€, só não roubou/desviou 5000 ou 5.000.000 porque não teve elitista acesso aos mesmos _ o mesmo se aplicando moralmente a quem mete “cunhas” ou faz uso de “influências”, por exemplo para acesso doutro alguém a cargos públicos ou privados, já sejam cargos de nível básico, intermédio ou superior, aquém e além da natural vocação ou do mérito próprio de quem concorre e/ou é admitido em determinado cargo publico ou privado, mas em especial se publico! De resto não fossemos todos nós humanos, com todas as potencialidades positivas e negativas inerentes a todos e a cada qual! E assim de entre os desonestos exemplos das elites, inclusive por saberem que significativa parte do povinho só não rouba se não poder e/ou então que só se queixa quando já não sobra nada para este último, não será por acaso que as desonestidades das elites e das bases sociais vêm desde há muito, dalgum modo desde sempre, no entanto enquanto foi dando um pouco para todos (quase) ninguém se queixava, mas agora que cada vez mais só vai dando para uns poucos (quase) todos os restantes nos queixamos; havendo ainda a subtileza de quem seja mais perdoável ou ressalvável por ser “amigalhaço” versos o outro que é desconhecido ou que pertence a uma raça, a uma ideologia, a um credo ou a um estatuto social diferente; pelo que sem prejuízo de quem é portador duma verdadeira e Universal moralidade teórica e prática, de resto com muitas pseudo moralidades de entre meio cá vamos andando, não sei até que ponto se com mais inveja ou se com mais convicção moral?!
                                                                                                          VB

            (*) Por alguém a quem dei objectivamente a ler o texto atrás: “inveja vs convicção moral”, me ter questionado acerca de porque insistia eu na revelação da condição de funcionário público _ que já agora creio na ocasião em dia de folga _ do Sr. º que no fundo me suscitou escrever tudo isto? Relativamente ao que para além do que imediatamente respondi à pessoa que me questionou e que agora transcrevo com um pouco mais de especificidade que a expressão escrita me permite face à expressão oral, é assim: primeiro, insisti na qualidade de funcionário público do Sr. º como constatação dum facto; segundo porque até em sequência do primeiro, como seja que se o facto do Sr.º ser funcionário público não lhe confere à partida nenhuma inferioridade moral ou qualquer outra, tão pouco lhe confere correspondente superioridade moral ou qualquer outra por si só ou com relação a quem mais quer que seja, intra ou extra função pública; terceiro e também em directa inerência do anterior, segundo se sabe os funcionários públicos são tão honestos ou desonestos  quanto quais queres outros, no fundo e em termos de valores são simples e transversalmente humanos, pelo melhor e pelo pior e para o bem ou para o mal; quarto e por si só salvo quem está maioritária ou minoritariamente(!?) na função área da actividade pública por convicção e mérito próprio das funções que lá exercer, de resto também se sabe que há muito quem se vincule ao funcionalismo publico, para além de em nome de certos poderes e/ou estatutos, com tudo o que isso pode implicar quer em termos de honestidade quer de desonestidade(!) também e desde logo há muito quem o faça em nome "de emprego e de vencimento certos e seguros”, mas depois passe a vida a “choramingar” que se “ganha pouco” e que “não se pode fugir às obrigações fiscais”. Enfim quis e quero eu dizer com tudo isto que a própria humanidade de que eu mesmo sou humilde exemplar é um Ser tremendamente complicado, aquém e além de naturalmente complexo. Desde logo complicado quando toca a procurar e encontrar “bodes expiatórios” no seu semelhante e/ou em “deuses” e “demónios” externos a si, ainda que e/ou até porque para as suas próprias misérias morais e/ou outras; o que não invalidando em absoluto a desonestidade, em alguns casos mesmo a descarada desonestidade moral de personalidades e/ou elites políticas e sociais que devendo dar o exemplo moral, no entanto e pela inversa no limite “roubam” o colectivo; no entanto e a meu ver a solução disso passa tanto ou mais por todos e por cada qual procurar-mos (auto) melhorarmo-nos, na circunstancia moralmente a nós mesmos, com correspondente reflexo no próximo e no exterior modo geral, do que por exemplo eleger políticos com a fé e a esperança de que eles façam por nós o que nós mesmos não fazemos e/ou que até por isso conferindo-lhes nós um poder que eles nem sempre nem por vezes de todo utilizam da melhor ou por si só mais (pró) colectiva e universalmente justa ou moral da formas. De resto em democracia os políticos são eleitos pela maioria da população, pelo que a eleição e reeleição de políticos honestos ou desonestos depende de todo mais do colectivo ou pelo menos da maioria de nós do que dos próprios políticos. Tudo isto por assim dizer com o funcionalismo publico como intermédio elo de ligação entre a população civil em geral e a própria gestão politica/publica em particular. E é basicamente isso que eu queria ou quero dizer, agora cada qual que o entenda como possa, saiba, queira ou mais política, pessoal, social, cultural, pública, civil, ideológica ou absolutamente lhe convenha!... 

            (**) Enquanto eu desempregado com legitimo direito a prestação de Fundo de Desemprego, se no entanto auto abdiquei de como tal ser subsidiado pelo Estado, não o fiz por ser rico, bem literalmente pelo contrário, nem tão pouco por ter outros rendimentos; mas tão só para com base nalgumas parcas poupanças que fiz nos últimos dois anos de trabalho e na respectiva esperança de voltar ao mercado de trabalho brevemente, ainda que em actividades que sejam contraproducentes no que à melhoria ou que tão só à estabilização dalgumas minhas crescentes condicionantes fisiológicas, o que entretanto quis ou necessitei ao auto abdicar do apoio financeiro do Estado foi conquistar alguma pontual liberdade e/ou autonomia própria, designadamente para frequentar algum tipo de formação por minha própria conta, que particularmente me interessa, como por exemplo ao nível fotográfico, mas quiçá e acima de tudo pró disponibilização de espaço, de tempo e/ou interior, por si só e nas globais circunstancias em causa, para esta minha pró vital, sanitária ou subsistente necessidade de escrever. Enquanto disponibilidade espacial, temporal e/ou interior que em regra e em significativa parte nem actividades laborais/profissionais de subsistência que no meu caso têm sido e são essencialmente de índole física, nem tão pouco os compromisso subjacentes a receber prestação de Fundo de Desemprego me permitem, pelo menos na medida do mais plenamente possível. O que por exemplo com relação a qualquer funcionário publico, com todas as dificuldades inerentes a estes últimos, não vou dizer que tenho uma vida mais facilitada ou mais dificultada do que estes últimos, mas o que a minha própria vida não é seguramente em e por si só é fácil; no entanto prefiro e procuro auto melhorar-me constante e permanentemente a mim mesmo perante e para com a própria vida, em vez de esperar que por exemplo políticos façam ou vivam por mim o que eu mesmo não faça ou não viva por mim mesmo, pior ainda se andar a “matar e a ferir” quem quer que seja, muito menos políticos que democraticamente a maioria populacional/social elege e não raro reelege. VB  

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