sexta-feira, abril 01, 2016

A ponta dum imenso iceberg

Mitos, lendas e teorias há muito/as, das mais variadas origens e para os mais variados gostos, ideias e/ou cultos acerca da origem e da finalidade da Vida. Mas a realidade concreta é que nós humanos desconhecemos em objectivo a origem e o propósito da nossa própria existência e menos ainda da existência da vida enquanto tal. E nesse aspecto somos apenas mais um animal como qualquer outro. De resto e como melhor das hipóteses somos apenas o topo duma interdependente cadeia alimentar que duma ou doutra forma inclui todos os restantes seres viventes. Mas por exemplo com mais ou menos religião (fé) e/ou ciência (objectividade) humana, sendo que tal como a própria vida quer a fé religiosa quer a objectividade ciência estão pejadas de no limite fatais contradições em si mesmas, tanto mais e pior se de entre uma e outra, o facto é que a vida continua a ser básica e essencialmente um Mistério para a própria humanidade, que enquanto tal (mistério) pode ou não continuar a incluir a humanidade de futuro, aquém e além da acção ou da inacção humana enquanto tal. Salvo que de entre o que já é objectivamente conhecido e o que continua um objectivo mistério para a humanidade em termos vitais/universais modo geral, o facto é que incluindo o senso comum e experiência prática de vida, existe por assim dizer (também) uma característica humana que é a noção ou a consciência de bem e de mal ou no limite a consciência de vida e de morte própria e envolvente. A partir de que muitas coisas se podem e/ou devem fazer, como por exemplo e no caso concreto escrever, tal como eu aqui faço, desejável e necessariamente em prol do bem e/ou da própria vida! Sequencial base em que, salvo a imodéstia e mas espero que em efectivo prol do bem e da vida, entra a substancia do que aqui me trouxe e que é a seguinte foto:



O conteúdo da foto acima, segundo retirado da realidade concreta inerente, apenas e tão só retrata uma pequena ave morta numa estrada de terra batida de origem humana para a circulação de veículos automóvel.

            O que após minha experiência própria de mais de duas décadas a conduzir veículos automóvel, de entre o que mais dum terço dessas duas décadas a conduzir diariamente várias horas por dia em actividade laboral/profissional, posso enquanto tal e com 99,9% de certeza concluir que a ave retratada na foto acima terá sido morta por um veículo automóvel em circulação. Tanto mais ainda assim quanto este tipo de pequena ave silvestre costuma pousar nas respectivas plantas silvestres junto das estradas, mas por norma só levantando voo quando os veículos automóvel já estão muito próximos, tanto pior quanto costuma ainda este tipo de pequena ave levantar voo, como que num movimento semi-circular em que por exemplo para se afastarem da estrada, costumam no entanto e numa primeira instancia levantar em direcção à estada e só depois inverter a direcção, no sentido de dentro para fora da estrada. O que não raro costuma ser fatal para este tipo de ave face à circulação automóvel, tanto mais se em estradas com as bermas muito próximas da faixa de rodagem automóvel, como por exemplo neste tipo de relativamente estreitas estradas de terra batida. Podendo-se talvez e enquanto tal dizer que há uma natural incompatibilidade de entre este tipo de ave silvestre e o transito automóvel de origem humana. Com imediata e implacável vantagem para a circulação automóvel humana, versos respectivo fatal prejuízo para o tipo de ave em causa. Sendo ainda que eu sei isto de experiência própria porque, mesmo provocando-me isso uma forte irritação comigo mesmo e/ou com as circunstancias que a isso me levavam, o facto é que eu próprio matei involuntariamente diversas aves deste tipo enquanto comigo ao volante automóvel, diariamente durante anos.

            A partir de que não deixando jamais de ser o conteúdo da foto apenas e tão só uma pequena ave morta numa estrada de terra batida para circulação automóvel, no entanto acaba também por ser muito mais do que isso. Desde logo e como mínimo é sinónimo de que a progressiva civilização humana é sob e sobre muitos aspectos incompatível com a natureza silvestre, desde logo com a natureza avícola de pequeno porte como no retratado caso concreto, mas não só. E isto tão só ainda com base e em sequência da circulação automóvel de origem e direcção humana. Para com o que basta pensar nas centenas de milhar de quilómetros de estradas, desde estradas de terra batida como a da foto, passando por EN’s (estradas nacionais), por IC’s (itinerários complementares) e por IP’s (itinerários principais), até auto-estradas, tão somente num relativamente pequeno país como Portugal. Logo levando a pensar no quanto isso implica com a vida natural silvestre, não só pelo espaço conquistado a esta último por via da construção viária de origem humana, mas também pelas implicações da circulação automóvel inerente. Ah! E não, com isto não estou a defender que a humanidade deixe de ser aquilo que e como é, o que com todas as suas causas e consequências pelo melhor e para o bem ou pelo pior e para o mal, desde logo da própria humanidade, inclui por concreto exemplo o transito automóvel de base humana. Com tudo o que isso implica tão só ao nível do transito automóvel sem por exemplo incluir também aqui acções químicas, entre muitas outras por parte da progressista humanidade para com a sua continua e não raro artificial auto progressão própria (humana), ainda que e/ou até porque muito frequentemente às custas da qualitativa e quantitativa regressão da vida natural silvestre. Enquanto tal, com semi-previsíveis e imprevisíveis consequências negativas a médio e longo prazo para a própria humanidade. Até porque, tal como a própria humanidade, possuindo a vida natural silvestre à partida e em bruto tantas potencialidades positivas quanto negativas, o facto é que quer a vida natural silvestre quer respectivamente a humanidade dependem dum determinado e efectivo equilíbrio próprio e mútuo, desde logo de entre as suas diversas e em muitos casos inversas potencialidades. De entre o que possuindo a humanidade a supremacia da racionalidade e da consciência face a e/ou sobre toda a restante vida natural silvestre e por si só terrena não é respectivamente menos factual verdade que se a humanidade não auto gerir minimamente bem, com um indispensável nível de equilíbrio próprio e face ao meio envolvente, acabará por ser também sempre a própria humanidade a pagar duma ou doutra forma a “factura” das suas acções negativas ou inacções positivas face à vida natural silvestre de que duma ou doutra forma depende a própria humanidade. Sendo que na natureza todas as espécies e/ou formas de vida dependem duma ou doutra forma umas das outras, desde a mais microscópica bactéria, passando pelo mais pequeno insecto, até ao mais enorme mamífero, com o no caso racional humano no topo da cadeia. Só que como a humanidade inventou formas artificiais de se sustentar, sem necessitar própria ou pelo menos directamente da natureza selvagem, como por exemplo criando artificialmente as suas próprias (humanas) fontes de alimento quer animal quer vegetal; logo para a generalidade da humanidade é como se a natureza selvagem fosse ou seja mera “paisagem”, não raro descartável, desprezável, ignorável ou dispensável, aquém e além de algo meramente engraçado e visitável de tempos a tempos.

            Mas global sequência de que não vou por certo ser eu a dizer objectivamente, muito menos à prior, até que ponto as acções ou inacções humanas face à vida natural silvestre podem ou não trazer consequências positivas ou negativas para a própria humanidade. Ainda que para mim que nasci e cresci em contexto rural e logo em contacto directo ou próximo com a natureza silvestre que, salvo excepcional momento e/ou circunstancias, de resto e enquanto tal esta última jamais foi algo meramente descartável, desprezável, ignorável ou dispensável para mim; que inclusive e sob muitos aspectos até bem pelo contrário, designadamente e tão só do ponto de vista espiritual a natureza silvestre (animal e vegetal) sempre foi uma positiva/vital inspiração para mim, como por exemplo contra todas as expectativas com o pé de erva silvestre a crescer na pequena fissura no asfalto escaldante, em alusão à força da vida em especial quando na nossa própria vida tudo parece vitalmente descambar, incluindo quiçá mais sublimemente o canto das aves que quer atentando-se mais ou menos objectivamente no mesmo, este acaba sendo sempre algo fundamental à vida e ao bem-estar espiritual humano. Tudo aquém e além do mais básico ciclo de subsistência orgânica que inclui a interdependência alimentar duns seres relativamente a outros e/ou ainda da própria flora, com a humanidade no topo da respectiva cadeia. Isto mesmo que numa excepcional determinada fase e sequência da minha vida e adolescência em concreto, inclusive porque por um lado e há altura eu contava com a biodiversidade natural como uma dado adquirido e por assim dizer inesgotável, enquanto por outro lado e até por influência sociocultural envolvente adicionada de confessa e arrogante inconsciência da minha parte, eu não tenha tratado a biodiversidade natural animal e avícola em concreto, da melhor das formas, que sob muitos aspectos até bem pelo contrário, como por exemplo por preconceito negativo face a umas espécies (repteis; canídeos silvestres _ raposas; rapaces _ aves carnívoras; etc.,) no fundo tudo o que fossem espécies não natural ou culturalmente consumíveis pelo ser humano e/ou então que fizessem “concorrência” a este último face precisamente às restantes espécies animais consumíveis também pelo ser humano (mamíferos roedores _ lebres, coelhos…; aves _ abetardas, perdizes e toda uma série de pequenas aves; etc.) que no primeiro caso eu matava só porque sim e neste último caso cheguei a caçar de forma quase obstinada e/ou em concorrência com equitativos pares, como se não houvesse amanhã e a partir de determinado ponto sem mais aproveitamento do que a simples e vertiginosa obstinação de caçar/matar mais e mais. Isto pelo menos até que por mim mesmo me apercebi que as minhas acções ou inacções pessoais associadas à restante humanidade ou pelo menos ao restante meio sociocultural envolvente estavam a afectar a natureza silvestre nem sempre nem por vezes de todo pela melhor das formas e para com os melhores objectivos, sequência em que cheguei a sentir-me profundamente chocado comigo mesmo, aquém e além de com o restante meio sociocultural e humano envolvente. A partir de que então a minha consciência vital me bateu tão forte, diria mesmo que tão mais forte quanto todos os disparates entretanto por mim pessoal e humanamente cometidos, que ao menos de forma voluntária, objectiva ou directa parei simplesmente de matar o que quer que pertence-se à fauna e flora natural silvestre, salvo naturalmente se em involuntária, subjectiva ou colateral sequência da minha própria existência e natureza humana em que duma ou doutra forma e num ou noutro momento não posso semi-voluntária ou involuntariamente evitar pisar ou arrancar uma planta e/ou matar alguma forma de vida animal, em qualquer dos casos silvestres, mas procurando sempre evitá-lo o mais objectiva e/ou literalmente possível. Sequência de que desde então como que me sinto ou mesmo constato uma espécie de “outsider” de e num global contexto sociocultural humano envolvente que como melhor das hipóteses ignora e como tal não se intromete muito directamente com a natureza silvestre e mas que como pior das hipóteses tem interesses designada e pró desmesuradamente materialistas/consumistas, de entre o que para além de actividades humanas directamente predatórias do meio ambiente natural silvestre, como na melhor das hipóteses uma série de industrias humanas incompatíveis com o meio ambiente natural, inclusive com algum destaque se encontra o transito automóvel com tudo o que está directa ou indirectamente associado ao mesmo, por já não falar numa série de actividades humanas mais ou menos (i)legitimas, mas em qualquer caso e regra geral sempre com interesses materialistas/consumistas associados e que duma ou doutra directa ou indirecta forma acabam sendo alta e/ou conclusivamente prejudiciais/destrutivos do e sobre o meio ambiente natural silvestre (fauna flora, incluindo o clima atmosférico).  

            Pelo que a pequena ave silvestre morta na estrada de terra batida, quase seguramente em sequência de ter sido atropelada por um veiculo automóvel de origem e direcção humana, retratada na foto acima, sendo apenas e tão só isso mesmo: uma pequena ave silvestre morta numa estrada de terra batida, acaba no entanto sendo e/ou significando algo (muito) mais extenso, profundo e complexo que isso. Desde logo acaba significando a relação e/ou a não relação humana com a natureza silvestre envolvente, designadamente com um resultado, regra geral, altamente destrutivo do meio ambiente natural envolvente, já seja por directa ou indirecta acção ou inacção humana. Resumida sequência final de que a pequena ave morta retratada na foto acaba sendo e/ou pelo menos significando (também) a ponta dum imenso iceberg, que é a própria semi-objectiva ou subjectiva influência humana no meio natural silvestre, não raro uma influência negativa/destrutiva, isso sim com cada vez mais objectiva consciência humana desse facto e por isso também dalguma positiva/construtiva forma reversível pela própria humanidade, mas por enquanto também (ainda…) sem um fim à vista enquanto negativo/destrutivo resultado da genericamente respectiva negativa acção ou positiva inacção humana face ao meio natural silvestre.

                                                                                              VB 

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