segunda-feira, março 12, 2012

Unanimidade!?

            Como continuação dum pequeno texto que escrevi no Facebook...

            Com atenção para o facto de que eu sou significativamente auto critico e como tal tão pouco costumo ter contemplações com relação a criticar o que ou quem mais quer que seja, desde logo e por arrasto ou em primeira instância quem tenha qualquer tipo de ligação a mim e/ou então com aquilo com o que ou com quem eu sou crítico. Até talvez por isso haja cerca de quinhentas visualizações aos meus Blogs, em diversos ponto do globo, o que é proporcionalmente residual com relação às por si só centenas de milhões que falam português, ainda que sejam significativamente muitas visualizações com relação ao apenas um seguidor e respectivo comentador assumido dos meus Blogs!? Mas continuando...           

            Também eu aderi à divulgação do vídeo "Kony 2012" e naturalmente não me arrependo em absoluto disso, enquanto divulgação e condenação de abusos contra crianças e até só por isso contra a vida enquanto tal. Mas também confesso que conhecia muito pouco acerca do Uganda, aquém e além duma genérica e superficial noção acerca dum país com significativos problemas, incluindo conflitos armados internos e aparentemente eternos(!). Mas que desconfiando eu de unanimidades em geral e da aparentemente quase absoluta unanimidade relacionada com o vídeo "Kony 2012" em concreto, resolvi indagar um pouco a respeito do Uganda e de Josefh Kony; sequência e que para ser breve, entre a Wikipédia e um link _ que recomendo _ do jornal Globo(*); até a sustentar dalgum modo as minhas desconfianças com relação a unanimidades, tanto mais se (aparentemente) absolutas, ainda que muito superficialmente o que descobri, incluindo a comunidade internacional na sua ou na nossa cómoda indiferença durante décadas, foi e é que há alguns por não dizer muitos "pés de barro" ou "telhados de vidro" do lado oposto a Joseph Kony _ naturalmente que sem prejuízo das responsabilidades próprias deste último!...

            Inclusive, segundo o próprio Presidente do Uganda, o senhor Yoweri Museveni ao dizer que o movimento LRA (Lord’s Resistence Army) do senhor Joseph Kony está reduzido a poucas centenas de militantes, activistas ou operacionais e que o próprio Joseph Kony nem estará no Uganda. Ou seja agora que o senhor Joseph Kony, parece já não ter grande expressão prática ou consequente é que curiosamente o mesmo foi dado a conhecer ao mundo da forma e com a expressão que se pode constatar em sequência de “Kony 2012”; o que a meu ver e sentir como mínimo me parece irónico! Com a ressalva de que também segundo parece o mesmo já está no topo da lista dos mais procurados pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), devido a crimes contra a humanidade, genocídio e crimes de guerra, desde a criação do próprio TPI em 2005. Enquanto o próprio senhor Museveni Presidente do Uganda, que em sequência de ter chegado ao poder pela força, como de resto (quase) todos os seus antecessores, no entanto e justiça seja feita, parece ter implementado o voto democrático, a liberdade de imprensa, acordos com o FMI, com o Banco Mundial e internacionalmente com uma série de países; mas parece também que como melhor das hipóteses não terminou, como mesmo e segundo rezam as crónicas, incluindo um dos responsáveis da ONG Invisible Children autora do vídeo “Kony 2012” cujo responsável em causa diz algo como: não fazer parcerias com corruptos em África é não as fazer com ninguém!”, pelo que parece o senhor Museveni estará directa e activamente implicado num dito fenómeno de corrupção interna, como de resto é comum por aquelas bandas _ sem prejuízo doutras!

            Enfim quero eu com tudo isto dizer que o senhor Joseph Kony pode até ser e/ou é mesmo o grande mau da fita, neste filme; mas aprece-me também que se não há outros culpados activamente falando, há pelo menos muitos passivos cúmplices, incluindo todos e cada um de nós que agora aderimos à divulgação do vídeo “Kony 2012”, pois creio eu que durante anos em que mulheres e crianças foram violadas, abusadas, torturadas, mutiladas, ...em última instância mortas, aquém e além de por outros parece que também ou acima de tudo pelo senhor Kony e o seu grupo (LRA), na altura essas mulheres e crianças teriam desejado e agradecido muito mais este actual movimento pró captura do senhor Kony, do que propriamente agora que segundo consta o mesmo já quase não tem consequente expressão prática no Uganda. Ou seja que não defendo em absoluto que se pare de perseguir judicialmente o mesmo, até bem pelo contrário; agora o que também acho e repito como mínimo irónico é que só agora ganhe força um movimento global com a expressão conhecida, contra este senhor em concreto, precisamente quando o mesmo parece ter perdido a força própria. Pelo que pergunto: será que para se perseguir os restantes facínoras do e no mundo, em especial quando os mesmos tenham concreto e efectivo poder armado, político, económico ou outro relevante, só faz verdadeiro ou mais objectivo sentido quando os mesmos perdem a força, o poder ou a influência envolvente aos mesmos?

            Claro que eu sei que a coisa é mais complexa do que tão somente isso, mas dadas as circunstancias não posso deixar de exclamar que talvez por isso houve e continue a haver conflitos sanguinários e/ou ditaduras profundamente castradoras dos mais plenos e universais direitos humanos, com as quais alguém ousou ou ousa meter-se concreta e objectivamente em força!        

            Ou seja ainda que desde que casos como o do Uganda ou de Josefh Kony esteja(m) fora do nosso imediato, objectivo ou consequente alcance e/ou interesse próprio: mesmo que, no mínimo, com nosso virtual ou mediático conhecimento do respectivo, tudo está bem para nós, no caso enquanto civilizada comunidade ocidental e/ou mundial, mesmo que desde logo e segundo a nossa própria noção ou concepção civilizacional, isso seja motivo e razão de mais ou menos constante e permanente tortura, opressão, injustiça, mutilação e morte para muitos outros!...

            Pelo que unanimidade na divulgação e condenação de violação dos direitos das crianças e/ou humanos e de vida em geral, tudo muito bem; agora que essa unanimidade pareça estar a recair unilateralmente num só senhor e segundo a divulgação pública dum único vídeo ao respeito, como se repentinamente o demónio tivesse sido descoberto, identificado e estivesse à beira de ser derrotado, é que me chega a parecer um pouco ou mesmo muito cínico e hipócrita e como tal talvez não tão consensual assim _ até porque o demónio habita antes, durante e depois do mais, também, em todos e cada um de nós sem a mais ínfima excepção! Pelo que ao menos da e pela minha unilateral parte, tudo isto suscitou-me esta espécie de conflito interno comigo mesmo, entre eu mesmo ter aderido com todo o gosto à divulgação do vídeo “Kony 2012”, mas não sem me suscitar esta respectiva espécie de expectativa com relação ao que se passou e/o se passa no Uganda, com respectiva indignação comigo mesmo, por duma ou doutra forma eu já saber há muito e de antemão que no Uganda, como em muitos outros pontos de África e até do mundo há verdadeiros dramas humanos, mas dalgum modo preferia ignorá-lo(s) ou relevá-lo(s) em objectivo, sendo necessário um pequeno e sucinto vídeo que de resto e só por certo é muitíssimo soft com relação à realidade concreta, para que por arrasto todos nos mostremos solidários, no caso concreto com as vítimas Ugandesas e/ou indignados e revoltados com os seus carrascos. 

            Cuja única ou melhor auto defesa que consigo encontrar de e para comigo mesmo é que por significativa norma sou uma pessoa triste, também por precisamente saber que há em permanência alguém a sofrer injustamente às mãos doutro alguém, em diversos pontos do planeta(1) e eu pouco ou nada posso fazer ao respeito; mas no caso não necessitando de vídeos como “Kony 2012” para me fazer pensar e sentir em permanência que alguém não está bem às mãos doutro alguém em diversos pontos do globo, ainda que participar na divulgação de vídeos como “Kony 2012”, me faça sentir mínima, residual ou ao menos simbolicamente útil para com a defesa, tanto mais se de indefesas ou inocentes vitimas em efectivo, com crianças como máxima expressão; mas também o género feminino em culturas machistas/paternalistas; a sociedade civil perante regimes políticos, militares, religiosos ou outros de cariz opressivo/repressivo; certas minorias sob certas maiorias; etc., com ressalva de que por vezes e pelo meio pode haver aparentes ou supostamente indefesas e inocentes vítimas humanas que não o sejam assim tanto, em qualquer dos casos duns humanos sob ou sobre outros humanos!...   

            _ (*) In Globo, no endereço: "Após sucesso de vídeo contra Joseph Kony, ONG é criticada", por Grant Oyston criador e responsável do Blog Visible Children, com relação ao vídeo “Kony 2012” e seus respectivos mentores na Invisible Children. Sequência a que devo acrescentar que cada qual responde por si e pelos seus actos ou pela carência destes últimos, a começar e terminar por mim mesmo, tendo por base o que e como aqui escrevo ao respeito.

            _ (1) Como complementação exterior do que e como dalgum modo eu próprio penso e sinto ao respeito, inclusive tendo eu procurado objectivamente essa complementar informação, para poder confirmar algumas situações e/ou pormenores, no caso acabando por fazer algo que eu não gosto muito ou mesmo nada de fazer, como seja poupar-me a palavras próprias, mas até para evitar um raciocínio próprio algo mais extenso, acabo mesmo remetendo directamente para as complementares informações nas palavras de outrens, no endereço: “China, Tibete e a Hipocrisia Internacional/Visão” e/ou ainda para “Direitos Humanos na Eritreia” e afins...

            Que devo no entanto e ainda salientar aqui o facto de que segundo a minha opinião a Comunidade Internacional tão pouco pode e/ou sequer deve fazer tudo, por todos e por mais alguns, pois que grande parte da responsabilidade pela vida de cada qual depende em grande medida de cada qual, já seja individual, cultural, religiosa, política, ideológica, nacional ou existencial modo geral. Mas, até por muitos terem a autonomia e/ou o livre arbítrio das suas vidas vedado logo à partida e não raro de forma opressiva ou repressivamente violenta, também há casos em que a comunidade internacional não se devia abster de agir, enquanto casos por si sós e/ou em comparação a outros onde a comunidade internacional ou pelo menos significativa parte desta acaba por agir, mais ou menos injustificadamente ou com justificações pouco ou nada claras e em certa media até fictícias, como por destacado exemplo no Iraque, entre outros...

            ...e depois todos e cada um de nós indivíduos humanos, tanto mais se do ocidente dito de civilizado, até nos pode ficar muito bem juntarmo-nos ou solidarizarmo-nos com casos como o ocorrido ou a ocorrer no Uganda, por exemplo ao divulgarmos via Net o vídeo “Kony 2012”, mas o facto também é que pouco ou nada mais fazemos ao respeito e de resto os “Josefh Kony’s” deste e neste mundo vão continuar a actuar aqui e ali, a diversos níveis e nos mais diversos pontos do globo, com abjectas e criminosamente atrozes violações dos mais elementares direitos humanos, como por exemplo da equitativa igualdade dos direitos de género (sexual), sem que regra geral isso nos interesse muito ou quiçá mesmo nada, pelo menos até que não surja um qualquer novo vídeo a expor tais situações ou a expor-nos a nós mesmos relativamente a essas mesmas situações e então lá clicamos de novo e a vida continua!... 


               O quê?! Isto que e como eu escrevo, não nos faz sentir muito bem connosco mesmos e/ou corta em certa media o satisfatório barato da divulgação do vídeo "Kony 2012"? Mas em parte o meu objectivo é esse mesmo, porque simplesmente os "Joseph Kony's" deste e neste mundo não se esgotam, nem eventualmente jamais se esgotarão no Joseph Kony propriamente dito e por si só!...


              E agora já mesmo a terminar gostaria ainda de deixar algo muito simples para reflexão que é o seguinte: nas minhas origens quando algo pouco ou nada agradável vinha ao de cima ou nos afectava e nós dava-mos activa, objectiva, expressiva ou reflexa conta dessa afectação imediatamente algo ou alguém procurava disfarçar a coisa, na melhor das hipóteses dizendo esquece isso e/ou se acaso reprimindo desagradavelmente algo que já era desagradável em e por si só, sendo que no meu caso tudo o que eu esqueci ou fingi esquecer em determinado momento regressou mais tarde de forma multi ampliada e tanto pior se de forma inconsciente através doutro acontecimento; pelo que auto aprendi ou pelo menos subentendi que o melhor mesmo é mergulhar logo no que dói e procurar resolvê-lo no momento ou quando e enquanto possível, para mais tarde não ter de se retornar ao mesmo duma forma, com um peso e com uma complexidade multi ampliada(o)s;... 


               ...mas cada qual é livre de fazer ou de deixar de fazer o que muito bem entender da e com a sua própria vida, por exemplo com relação a ler ou não ler o que e como eu aqui escrevo, e que se em caso de ler tem também sempre a possibilidade de corresponder afirmativa ou negativamente ao mesmo ou a mim e para comigo, seja que com todos os efectivos ou potencias defeitos inerentes, pelo menos esse mérito e essa virtude (ainda) nos resta aqui no velho continente ou na dita civilização democrática e pró universalista _ havendo muita(o)s que não se podem gabar do mesmo, não raro até bem pelo contrário!...

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