segunda-feira, agosto 10, 2015

Loucura incendiária

           Claro que compreendo e inclusive necessito que se noticie o que é naturalmente noticiável, de entre o que se incluem os incêndios florestais a partir de determinada dimensão. Mas que se dê tanto enfase e/ou tempo de antena às simples imagens de mato ou floresta a arder; de reportagens e mais reportagens televisivas acerca da origem, da progressão de/ou do estágio do fogo em cada momento; dos respectivos meios técnicos, materiais e humanos envolvidos; com subsequentes entrevistas aos responsáveis pela autoridade máxima coordenadora deste tipo de situações catastróficas que é a Autoridade Proteção Civil, condimentada por mais ou menos aleatórias entrevistas a populares, que neste último caso só por estarem a falar para a televisão muitas vezes fazem-no num tom e num registo comunicativo como se estivessem a falar da "festa lá da terrinha", enfim todo um "Espectáculo" em si mesmo. 

           Global sequência a partir de que a mim:   
          
           Mete-me nojo a vasta e intensa cobertura mediática dos incêndios florestais, a roçar o espectáculo sensacionalista com imagens e contra imagens do fogo e dos não raro desproporcionais meios técnicos, materiais e humanos para o combater, chegando-se ao ponto de se andar a entrevistar aleatoriamente populares perguntando: “Então o que acha desta situação _ deste incêndio? E teve medo? Etc., etc.”. Mas mete-me mais nojo ainda quando mesmo antes, durante ou depois dos incêndios activos, se insiste quase exaustivamente ao nível mediático e televisivo em concreto, no anuncio daquilo que se designa por “Risco de incêndio baixo, médio ou elevado”, como seja que há até um mapa nacional dividido por regiões segundo esse mesmo alegado risco de incêndio, tendo por base as maiores ou menores temperaturas climáticas, inclusive com estas últimas tidas como a essência dos fogos florestais, quando essa essência está negligente ou criminosamente na própria humanidade; o que dado o facto concreto de que como comprovada e recomprovadamente esses anúncios não evitam os incêndios por descuido e muito menos criminosos, que neste último caso, mesmo não me querendo armar em psicólogo barato e/ou se até mesmo enquanto tal, da minha perspectiva estar recorrente e insistentemente a anunciar-se o mais ou menos elevado risco de incêndio, inclusive com o requinte de se traçar um mapa nacional subdividido regionalmente para o efeito, segundo o alegadamente respectivo maior ou menor risco de incêndio para esta ou aquela outra região, tendo por base as meras temperaturas climáticas, em qualquer caso e da minha perspectiva tanto ou mais que se estar a prevenir incêndios, perante mentes mais fracas e/ou até maldosas, equivale mais ou menos sim a dizer-lhes: “puxem fogo agora ou nos próximos dias, em especial na região ou regiões tais e quais, que é quando é mais propício arder, porque a climatologia o permite e enquanto tal é a grande responsável por isso _ pelo próprio fogo (incêndio) e não só pelo risco do mesmo”. Até porque de resto qualquer pessoa no seu mínimo juízo não precisa em absoluto de anúncios mediáticos para saber que no Verão, com temperaturas altas e a vegetação total ou parcialmente seca, o risco de incêndio é elevadíssimo, aquém e além de que com ou sem anúncios mediáticos e com mais ou menos maldade há pessoas que ateiam fogos de risco na floresta ou seus limítrofes de qualquer das formas, porque simplesmente isso semi-racional ou irracionalmente lhes convém e ponto; sem já falar nos criminosos puros e duros. Mas mete-me mais nojo ainda quando para além da crescente cobertura mediática dos incêndios; dos previamente crescentes anúncios mediáticos de risco de incêndio, há ainda também o crescente aumento qualitativo e quantitativo de meios técnicos, materiais e humanos pró combate aos incêndios florestais, sem que no entanto estes últimos diminuam para níveis qualitativa e quantitativamente residuais, desde logo a ponto de não serem dignos de atenção mediática ou muito menos ainda terminem, pelo menos ao nível praticamente “industrial” dos espectaculares meios técnicos, matérias, humanos e mediáticos que envolvem os incêndios florestais, ano atrás ano.

            Seja que há trinta anos e dai para trás não havia em absoluto os espectaculares e sensacionais meios técnicos, materiais e humanos que há hoje em dia e cada vez mais pró prevenção e combate a incêndios florestais; muito menos ainda havia a intensa e espectacular cobertura mediática desses mesmos incêndios; e menos ainda havia os sensacionalmente prévios anúncios mediáticos de risco de incêndio, etc., etc., no entanto havia quantitativa e qualitativamente muito menos incêndios florestais.
            De entre o que não sou eu que vou dar uma solução para este flagelo incendiário, no caso nacional, mas parece-me mais ou menos constatavelmente que nas circunstancias em causa não é em absoluto esta sensacional, espectacular, que digo eu mesmo ridícula e louca cobertura mediática em torno do incêndios florestais, nem muito menos ainda na vertiginosamente “industrial” aposta em meios técnicos, materiais e humanos de combate a incêndios que estes últimos diminuirão qualitativa e quantitativamente de intensidade e menos ainda em absoluto, porque como mais uma vez circunstancialmente constatável de há duas ou três décadas a esta parte parece que até bem pelo contrário!
            Pelo que conclusivamente por mim mesmo o que se me oferece dizer a todo este respeito, desde a prévia anunciação mediática de risco de incêndio com base na climatologia e posterior cobertura mediática dos subsequentes incêndios; passando pelos crescentemente espectaculares meios técnicos, materiais e humanos de combate aos incêndios; incluindo necessária e incontornavelmente os próprios negligentes ou criminosos incendiários é: Loucura; Loucura; Loucura; Loucura; infinita Loucura Humana!
            Ah! Já agora permita-se ainda acrescentar que gosto muito de fotografia, sendo que fotografar fogo, tanto mais se ao vasto e sensacional nível incendiário, com mais todos os meios técnicos, materiais e humanos inerentes, é sempre um motivo fotograficamente muito interessante, mas dadas as circunstancias e se não podendo eu fazer algo mais concreto ou melhor no combate aos incêndios florestais, tão pouco sequer me passa pela cabeça fotografar um incêndio florestal, em especial se para eu brilhar fotograficamente sustentado a sensacional, mediática, privada ou estatal e mas em qualquer caso LOUCA "industria" dos incêndios florestais, às correspondentemente concretas custas da destruição florestal, com toda a inerente destruição da biodiversidade natural, além de significativa parte da economia humana mais pró sustentada e sustentável no espaço e no tempo. A partir de que até como se pode constatar pelo presente não pretendo meter a cabeça na areia, ignorando o fenómeno dos incêndios florestais em concreto; mas tão pouco serei mais um a sustentar imagética, mediática ou sensacionalmente esse mesmo fenómeno, além de que ao assumir a minha minimamente consciente responsabilidade própria ao respeito por via do presente, estou a faze-lo duma forma _ escrita _ que quem quiser conhecer a mesma tem de se dar a um mínimo trabalho de ler o que e como aqui escrevo ao respeito, o que enquanto tal exige mais pró positivo e se acaso austero esforço metal, racional e intelectual do que imediato e se acaso bovino prazer de contemplação imagética, mediática ou sensacional. 
                                                                                              VB

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